ONU parabeniza Brasil por tentativa de julgar crimes da ditadura
A ONU (Organização das Nações Unidas) parabenizou a decisão do
Ministério Público de tentar abrir um processo contra um coronel acusado
do desaparecimento de cinco pessoas durante a ditadura militar
(1964-85) e o considerou como um passo inicial, mas crucial contra a
impunidade que envolve esse período.
"Vemos essa iniciativa como um primeiro e crucial passo na luta contra a
impunidade no período do Governo militar no Brasil", declarou nesta
sexta-feira (16) em Genebra o porta-voz do Escritório do Alto Comissário
das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Rupert Colville.
A denúncia do Ministério Público não tem precedentes por se tratar de um
crime cometido por um responsável militar durante a ditadura,
beneficiado por uma ampla Lei de Anistia vigente desde 1979.
O caso envolve o coronel Sebastião Curió, que é acusado do
desaparecimento em 1974 de cinco militantes da guerrilha do Araguaia, um
movimento armado ligado ao então proscrito Partido Comunista do Brasil.
"Este é um passo muito esperado para a prestação de contas pelo
desaparecimento de centenas de pessoas durante os 21 anos de ditadura e
que continuam impunes", explicou Colville, que reafirmou a importância
desse caso por ser a primeira vez em que se tenta julgar no país
violações dos direitos humanos durante a ditadura.
"Tentativas anteriores foram bloqueadas por interpretações divergentes da Lei de Anistia", lembrou o porta-voz.
Para que Curió seja levado aos tribunais, as acusações comunicadas pelos promotores deverão ser validadas por um juiz.
Sobre esse assunto, Colville disse que seu organismo espera que "a
Justiça [brasileira] apoie os direitos fundamentais das vítimas à
verdade e à justiça, permitindo que esse processo tão importante
avance".
Segundo Colville, os promotores brasileiros argumentaram que os
desaparecimentos não estão cobertos pela Lei de Anistia, já que os
corpos nunca foram encontrados, "o que os transforma em violações
persistentes, que não chegaram à justiça internacional".
O porta-voz comentou que o Comitê de Direitos Humanos da ONU estabeleceu
em uma ocasião anterior que "a anistia para crimes internacionais,
torturas, execuções sumárias, crimes de guerra, contra a humanidade e
genocídio não deve existir e que os responsáveis devem ser julgados".
O porta-voz se mostrou satisfeito pela "tendência muito positiva" na
América Latina de julgar os crimes contra a humanidade cometidos durante
os regimes militares.
O jurista argentino e membro do Grupo de Trabalho da ONU sobre
Desaparecimentos Forçados, Ariel Dulitzky, expressou que "as leis de
anistia não podem excluir os direitos à justiça, verdade e reparações
nos diversos países".
"No caso do Brasil, apoiamos esse avanço. A própria Corte Interamericana
de Direitos Humanos também disse que a Lei de Anistia de 1979 é
incompatível com a Convenção Americana de Direitos Humanos, não é algo
defendido apenas pelo Grupo de Trabalho."
Fonte Folha.com
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