Citado como o '01' de Brasília pela organização de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o governador Agnelo Queiroz (PT) pediu, segundo indica o inquérito da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, uma reunião com o contraventor, apontado como o chefe da máfia dos caça-níqueis em Goiás e no Distrito Federal.
Até ser desmontado pela Polícia Federal em fevereiro, o esquema - revelado ontem pelo portal estadão.com.br - articulava-se para operar negócios milionários no Governo do Distrito Federal (GDF). Para a PF, a aproximação do governador com Cachoeira tinha como pano de fundo pagamentos do GDF a empresas do esquema, notadamente a Delta Construções, e nomeações de representantes da quadrilha em cargos-chave da administração do Distrito Federal.
Em telefonema gravado pela Polícia Federal em 16 de junho do ano passado, o sargento Idalberto Matias, o Dadá, um dos aliados de Cachoeira, avisa a ele que foi procurado por João Carlos Feitosa Zunga, ex-subsecretário de Esportes e funcionário do governo do DF, que disse que o '01' estava querendo falar com ele. De acordo com a PF, '01' era a forma como os aliados de Cachoeira se referiam ao governador Agnelo Queiroz. 'O Zunga me ligou aqui, está querendo falar com você, porque o chefe dele lá, o 01, está querendo... quer falar com você', diz Dadá no telefonema. 'Vou falar com ele', responde Cachoeira.
O próprio relatório da PF, nas transcrições, identifica o '01' como 'governador'. E o araponga emenda, para precisar a identidade do '01': 'O magrão', referindo-se a características que se adequam ao governador.
Delta. O '01' também aparece em outras gravações obtidas pela PF. Em 6 de abril, Dadá e Marcelo Lopes, o Marcelão, ex-assessor especial da Casa Militar do governo Agnelo, conversam sobre uma pessoa (não identificada nas investigações) que estaria fazendo a ponte com o governador.
Poucos dias antes, os mesmos interlocutores afirmam que Cláudio Abreu, diretor da Delta Construções S.A. no Centro-Oeste, está com um contato dentro do governo, direto e sem intermediários, para 'azeitar os interesses da construtora em nomeações e liberação de pagamentos'.
Marcelão era assessor de Cláudio Monteiro, chefe de gabinete de Agnelo, que foi afastado do cargo anteontem à noite, após a divulgação de grampos em que a organização de Cachoeira cita pagamentos feitos a ele.
Monteiro é citado em diversos áudios da Operação Monte Carlo, que revelam a proximidade de integrantes do governo de Agnelo com integrantes da organização criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira.
Procurado pelo Estado, Zunga alegou que não solicitou a Dadá a conversa de Cachoeira com Agnelo ou qualquer pessoa. O governador informou, por meio de sua assessoria, que não vê a possibilidade de ser o '01' citado pela PF. O petista assegurou não ter se encontrado com Cachoeira nem mantido contato telefônico com ele. Negou também ter pedido ou ter sido sondado para uma reunião com o contraventor.
Fotne Estadão.