Responsável por pedir a cassação do senador Demóstenes Torres (sem
partido-GO) no Conselho de Ética, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse
nesta terça-feira (11) que o ex-líder do DEM quebrou o decoro
parlamentar ao mentir no plenário da Casa, receber vantagens indevidas e
cometer atos incompatíveis com o seu mandato.
Dirigindo-se a Demóstenes, que acompanha do plenário a sessão que vai
definir seu futuro político, o petista apresentou sucessivas acusações
contra o parlamentar e pediu a sua cassação.
"Temos que fazer Justiça. Um parlamentar precisa defender o interesse
público, buscar o bem comum e evitar a sedução pelo interesse privado.
Quem julga, somos nós. Mas quem condena Sua Excelência é o seu passado",
afirmou.
Costa disse que, quando o Senado aprovar a cassação de Demóstentes, "não
eclodirão aplausos nem vivas", mas a Casa terá cumprido o seu dever.
"A voz rouca da democracia vai dizer que valeu a pena."
Irritado com críticas de Demóstenes ao seu relatório, feitas ao longo da
última semana, Costa disse que não fez carreira "com dedo em riste"
como o ex-líder do DEM fazia no passado. E que elaborou um relatório
imparcial no Conselho de Ética, fundamentando o pedido de cassação do
senador.
"Qualificou Vossa Excelência meu relatório como peça de ficção, chegou a
me classificar de romancista. Não sou. Procurei tão somente expressar a
realidade dos fatos. Em meio a isso, Sua Excelência produziu algumas
peças de retórica que são verdadeiras pérolas. A maior delas, sem
dúvida, foi dizer que mentir não é quebrar o decoro."
Costa disse que Demóstenes mentiu quando disse que só mantinha relações
de amizade com o empresário Carlos Cachoeira. Também não conseguiu
explicar como recebeu um rádio Nextel de um "membro de uma organização
criminosa" e, entre outros questionamentos à sua conduta, usou o mandato
para evitar a legalização dos jogos no país --interesse do empresário
do ramo de jogos.
"São fatos que comprovam tristemente que Sua Excelência quebrou o
decoro. Deixou de agir como um senador da República deveria agir. Isso
porque não venho aqui para ser a palmatória do mundo para apregoar norma
de conduta a quem quer que seja", afirmou.
Costa reiterou as acusações contra Demóstenes feitas em seu relatório.
Disse ser "impossível" ao senador não saber que Cachoeira explorava
jogos ilegais e havia sido indiciado judicialmente. "Que amigo é esse
que não procurou saber que o amigo foi indiciado por seis crimes? Me
perdoe, mas Vossa Excelência faltou com a verdade."
O relator afirmou, ainda, que enquanto secretário de segurança de Goiás,
Demóstenes atendeu demandas de Cachoeira e participou "ativamente" de
negociações para beneficiar o empresário com o governo. "Vossa
Excelência detinha informações que só aqueles que tinham relações
íntimas com Cachoeira poderiam tê-la", afirmou.
Segundo o petista, Demóstenes também encomendou presentes a Cachoeira e
não os recebeu por acaso, como argumenta o parlamentar. "São vantagens
incompatíveis para alguém com exercício do mandato."
O relator foi o primeiro a falar na sessão que vai definir a possível
cassação de Demóstenes. A sessão é aberta, mas a perda do mandato vai
ser definida pelos senadores em votação secreta.
LEGALIDADE
Em discurso na tribuna, o senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que o
processo contra Demóstenes seguiu todo o procedimento legal durante sua
tramitação na Casa. Relator do caso na CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) do Senado, Taques fez um resumo do relatório aprovado na
comissão --que considerou todo o rito do processo constitucional.
"Entendo que houve pleno atendimento de todas as normas constitucionais,
legais e regimentais na matéria. Destaco o cumprimento dos princípios
constitucionais, do contraditório e da ampla defesa", afirmou Taques.
O senador disse que não houve "vícios" no processo, por isso o plenário pode julgá-lo sem temer questionamentos jurídicos.
"Analisei o processo com todo rigor, mas com honestidade intelectual,
académica e, sobretudo, honestidade parlamentar. Por isso, assino o voto
da CCJ que foi aprovado por unanimidade pelo colegiado."
Fonte de São Paulo
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