Novo modelo de escola no Rio aposta em tecnologia e ensino individualizado
RIO - A ausência de paredes entre as salas e o fim da divisão de
alunos por idade e série já chamam atenção na escola municipal André
Urani, encravada na Favela da Rocinha, Rio de Janeiro. Mas o maior
potencial do novo modelo de escola que a prefeitura carioca iniciou
neste ano está na tecnologia. E não só pela presença dos computadores em
cada mesa, mas pelas ferramentas digitais de ensino que possibilitam
que o aluno siga seu ritmo de aprendizagem e os professores acompanhem o
que cada um está aprendendo.
Com 180 alunos, a André Urani é a
unidade pioneira do Ginásio Experimental de Novas Tecnologias (Gente). O
prédio recebeu decoração moderna, com paredes coloridas, pufes
espalhados entre estantes de livros e móveis que podem ser arrumados de
acordo com a atividade do dia. As carteiras, por exemplo, são encaixadas
em grupos.
Além da nova estrutura, o Gente tem chamado a atenção
pela proposta inovadora de aulas - estrutura que historicamente teve
poucas mudanças. O novo modelo pretende não só representar a chegada do
computador à sala de aula, mas uma transformação no processo de ensino.
O
educador Rafael Parente, subsecretário de Novas Tecnologias
Educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio, ressalta as
possibilidades da personalização. "Podemos acompanhar o que o aluno
sabe, é um passo para a aprendizagem adaptativa", diz ele, explicando
que o projeto tem uma base teórica com inspirações na pedagogia da
presença, avaliação por competências e aprendizado baseada em projetos
(veja o glossário ao lado). "O mais importante é a real possibilidade de
colocar o modelo em escala."
Opções. Cada aluno segue um
itinerário formativo individual, que reúne o que ele precisa aprender. O
itinerário tem opções de exercícios e o aluno escolhe o que fará. Todas
as semanas eles são avaliados na Máquina de Testes, um programa com
questões de diferentes níveis de dificuldade. A máquina registra os
níveis alcançados, para garantir a evolução no conteúdo. Se o resultado
não for adequado, o aluno recebe uma atenção individualizada.
Algumas
aulas têm vídeos, outras remetem a sites externos ou propõem exercícios
no caderno. Mas todas as atividades estão vinculadas às matrizes de
habilidades da Prova Brasil e aos parâmetros curriculares do Ministério
da Educação - a escola atende alunos do 7.º ao 9.º ano.
Apesar de o
itinerário ser individualizado, as aulas são sempre colaborativas. Por
isso os alunos são reunidos em grupos de seis, chamados de famílias.
Três famílias formam um time, com um professor mentor. As famílias foram
formadas a partir de avaliações nas quais foram mensurados níveis de
liderança, agressividade, espírito colaborativo, entre outras
características não cognitivas.
A estudante Camila da Silva, de 15
anos, tem gostado muito das aulas no computador, mas vê no diálogo com
os colegas o melhor da nova escola. "Trabalhar em grupo, sem parede, com
todo mundo junto, isso é muito legal", diz. Na mesa do lado, Arthur
Freitas, de 13, gosta das aulas com jogos, mas faz uma queixa. "É ruim
ficar ouvindo o pessoal do lado falar, eles têm de aprender a conversar
baixo."
O professor Diego Teixeira, um dos 15 docentes da escola,
diz que essa conversa, banida em outras escolas, é a chave do Gente. "O
modelo é sempre colaborativo. Primeiro ele consulta o material, depois o
colega e só em seguida o professor", diz ele. "Existe uma busca pela
autonomia do aluno, em que ele é o centro do processo."
Preparo. A
função dos professores é diferente. Quatro deles se espalham entre as
famílias - uma mudança em que o professor da disciplina dá lugar a uma
atuação polivalente. Trabalhar nessa nova proposta exige uma dedicação
diferente, explica a professora Cláudia Ferreira da Costa. "É necessário
se preparar mais antes de encontrar os alunos. E não é mais preparar
aula, mas atividades. Tudo voltado para o grupo e para o individual, não
mais para a turma."
O cronograma de expansão do Gente prevê a
replicação do modelo para mais cinco escolas no ano que vem. Cada
unidade deve multiplicar para outras 5, chegando a 30 em 2015 e a outras
150 no ano seguinte. O projeto custou R$ 3,5 milhões, sendo que R$ 2,5
milhões vieram de parceiros privados. A secretaria estima em R$ 500 mil o
custo de implementação em cada nova escola. Para alcançar novas
unidades, parcerias serão
Fonte MSN Estadão.
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