Propina da Siemens foi de 8 milhões de euros no país
A
Justiça alemã concluiu que a Siemens pagou pelo menos 8 milhões de
euros, o equivalente a R$ 24,4 milhões, a dois representantes de
funcionários públicos brasileiros, como parte de um amplo esquema de
corrupção em contratos públicos no Brasil. Os dados fazem parte da
investigação conduzida por promotores em Munique e que resultou na
condenação, em 2010, da empresa alemã ao pagamento de uma multa
bilionária. O caso brasileiro, segundo a Justiça alemã, ajudou a
comprovar o esquema internacional de corrupção da multinacional. O
jornal O Estado de S. Paulo teve acesso a documentos que a Siemens
apresentou à Justiça no Brasil, e eles mostram a ação de dois
consultores para a manutenção do cartel e a fraude contra os cofres do
governo de São Paulo entre 2001 e 2002, durante o primeiro mandato de
Geraldo Alckmin (PSDB). Trata-se dos irmãos Arthur e Sérgio Teixeira –
este já morto. A reportagem procurou Arthur. Em seu escritório em São
Paulo, uma secretária informou que ele estava viajando. A Siemens
reafirmou na terça-feira (6) que colabora com as investigações do caso.
Eles eram proprietários das empresas Procint e Constech. Em setembro de
2001, Everton Rheinheimer assumiu a direção da divisão de transportes da
Siemens. Na época, estava em andamento a licitação para a reforma dos
trens S2000, S2100 e S3000 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM).
Em reunião na sede da Alstom com as demais empresas acusadas de compor o
cartel, Rheinheimer, desconfiando que queriam passar a Siemens para
trás, afirmou que a alemã não dividiria a licitação S3000. Disse, então,
que faria uma proposta competitiva para ganhar o contrato de R$ 55
milhões (valor atualizado). Dias antes da entrega para o governo das
propostas para os projetos S3000 e S2100, o executivo disse que foi
procurado pelos consultores. Queriam que ele se encontrasse com as
outras empresas – o que ocorreu. Só um representante de cada empresa –
Siemens, Alstom, CAF, Bombardier, Mitsui e Temoinsa – participou. Na
reunião ficou acertado que a Siemens venceria a licitação S3000. "As
outras empresas competidoras apresentariam preços superiores à proposta
das Siemens e bastante próximas do orçamento da CPTM, como propostas de
cobertura", escreveu Carlos Emmanuel Joppert Ragazzo,
superintendente-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade), do Ministério da Justiça, em documento sobre a denúncia
apresentada pela Siemens. Em troca, as demais dividiriam a S2100 da
CPTM. Arthur e Sérgio Teixeira são suspeitos de serem a ligação entre as
empresas do suposto cartel e os diretores do Metrô e da CPTM. As
empresas dos consultores foram apontadas em denúncia apresentada por
deputados do PT em 2009 ao Ministério Público Estadual (MPE) como o elo
entre o cartel e empresas offshore no Uruguai.
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