Senadores reagem e projeto que atingiria a Lei da Ficha Limpa é arquivado
Waldemir Barreto/Agência Senado |
Durante a sessão do Plenário do Senado Federal desta terça-feira
(20), diversos senadores declararam ser contra a votação com urgência do
projeto de lei (PLS 396/2017-Complementar)
que retira do alcance da Lei da Ficha Limpa os condenados por crimes anteriores
a 2010, quando a lei foi sancionada. Diante dos apelos, o autor da proposta,
senador Dalirio Beber (PSDB-SC), apresentou requerimento para retirada
definitiva do projeto. O pedido foi aprovado pelos senadores e o presidente do
Senado, Eunício Oliveira, determinou o arquivamento da matéria.
Antes, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Ataídes
Oliveira (PSDB-TO) já haviam apresentado requerimentos para retirar a urgência
para votação da matéria e foram apoiados por vários colegas.
- Nós sabemos que a Lei da Ficha Limpa foi um grande avanço no
nosso país. Ela vem coibindo o avanço dessa maldita corrupção – disse Ataídes.
Randolfe afirmou ser inadequado flexibilizar a Lei da Ficha
Limpa no atual momento do país.
- É um jeitinho que se daria para enfraquecer a Lei da Ficha
Limpa – disse.
Retroatividade
O
texto do PLS 396 vai contra decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a
pena de oito anos de inelegibilidade para políticos condenados pela Justiça
Eleitoral por abuso de poder econômico pode ser aplicada inclusive a pessoas
condenadas antes da entrada em vigor da Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar
135/2010), em junho de 2010. Antes disso, a inelegibilidade era de 3
anos.
Dalirio
explicou que sua intenção era apenas preencher uma lacuna legislativa deixada
pelo Parlamento sobre a retroatividade ou não da lei. Ele informou que o
próprio STF tem ministros com opiniões divergentes sobre a retroatividade para
casos já julgados até 2010. O senador disse que sua proposta não mudaria nada
para os condenados depois deste ano. Ele garantiu não ser sua intenção
desfigurar a Lei da Ficha Limpa, a qual considera um avanço contra a corrupção.
Para ele, a imprecisão na legislação gerou insegurança jurídica, o que forçou o
STF a se manifestar sobre o tema.
Também
se posicionaram contra o projeto os senadores Raimundo Lira (PSD-PB), Jorge
Viana (PT-AC), Ana Amélia (PP-RS), Simone Tebet (MDB-MS), Lídice da Mata
(PSB-BA), Reguffe (sem partido-DF), Romero Jucá (MDB-RR), Ricardo Ferraço
(PSDB-ES), Lasier Martins (PSD-RS), Armando Monteiro (PTB-PE), Otto Alencar
(PSD-BA) e outros.
Para
Lasier, o projeto está na contramão do que disseram as urnas, “que pediram a
moralidade na política”. Ana Amélia disse que a Ficha Limpa foi uma conquista
da sociedade.
-
Essa Lei da Ficha Limpa eu acho que precisa ser preservada. Acho que a
sociedade brasileira está hoje imbuída de uma prioridade: combate duro à
corrupção, que fez escorrer pelo ralo o dinheiro que faltou para muitos setores
importantes – afirmou a senadora gaúcha.
Na
opinião de Ferraço, a lei representa um marco, um divisor de águas no combate à
impunidade, à delinquência e ao poder econômico na prática política e
eleitoral.
Por
sua vez, Reguffe disse que a Ficha Limpa é fruto de um projeto de lei de
iniciativa popular que obteve mais de um milhão de assinaturas de apoio.
-
Esta Casa não pode votar uma proposição que flexibiliza essa legislação,
principalmente no final desta Legislatura. Isso vai contra os anseios da
sociedade brasileira, vai contra o que a sociedade brasileira espera deste
Parlamento – declarou Reguffe.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da
Agência Senado)
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