Ateus e sem religião são os que mais reprovam atuação do Supremo, diz Datafolha
Foto: Dorivan Marinho/STF |
Quando o presidente Jair Bolsonaro perguntou se “não está na hora de termos um ministro evangélico no STF” e disse que indicará para o tribunal alguém “terrivelmente evangélico”, levantou-se uma questão que integrantes do Supremo chamaram de irrelevante para o bom funcionamento da Justiça. O presidente acenava para sua base evangélica.
Ele tocou no assunto quando o Supremo estava prestes a criminalizar a homofobia. “Existe algum entre os 11 ministros do STF evangélico, cristão? Desculpa o Supremo. Eu jamais atacaria um outro Poder, mas não estão legislando?”, indagou Bolsonaro em maio.
A despeito de decisões como a que criminalizou a homofobia, a que reconheceu o casamento gay (2011) e a que autorizou o aborto de fetos sem cérebro (2012), pesquisa Datafolha do início deste mês indica que os mais insatisfeitos com o trabalho do Supremo não são os evangélicos nem os católicos, mas os ateus e os que não têm religião.
A pesquisa foi realizada nos dias 5 e 6 de dezembro, com 2.948 pessoas em 176 municípios em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Na população em geral, 39% acham o trabalho do STF ruim ou péssimo, 19%, ótimo ou bom, 38% o consideram regular e 4% não opinaram.
Entre os evangélicos, 38% reprovam o tribunal, 19% aprovam, 37% o consideram regular e 6% não opinaram —taxas equivalentes à média geral, dentro da margem de erro.
Os números são parecidos com os dos católicos: 38% de reprovação, 20% de aprovação, 38% de regular e 4% não responderam.
Já entre os ateus a reprovação sobe para 55%, e entre os que não têm religião, para 47%. Nesses dois grupos, só 13% aprovam o desempenho do Supremo. Uma das hipóteses para esses números é que entre os que dizem não ter religião estão os mais escolarizados. Enquanto na população geral 67% têm pelo menos o nível médio de ensino, no grupo dos sem religião 84% têm ao menos o nível médio.
Considerada a população geral, as taxas de reprovação sobem conforme aumenta o grau de escolaridade.
Entre os que têm ensino fundamental, 34% consideram o trabalho do Supremo ruim ou péssimo. Entre os que têm ensino médio são 40%. Já entre a parcela da população que tem ensino superior, 48% reprovam o trabalho do Supremo.
Dentro dos evangélicos, há uma porção específica que apresenta uma tendência de reprovação maior ao trabalho do STF: os chamados evangélicos tradicionais, que incluem igrejas como Batista, Luterana, Presbiteriana, Adventista e Testemunha de Jeová.
Nessa porção, a taxa de reprovação do Supremo é de 42% (ante 38% dos evangélicos em geral). A reprovação também sobe consideravelmente, para 53%, entre os que são da umbanda, do candomblé ou de outras religiões de matriz africana.
Julgamentos recentes do STF foram no sentido de garantir a plena liberdade religiosa no Brasil. Em setembro de 2017, os ministros julgaram constitucional o ensino religioso nas escolas, mesmo que de caráter confessional (vinculado a uma religião específica).
Em março deste ano, a corte considerou constitucional uma lei do Rio Grande do Sul que deixa expressamente autorizado o abate de animais em cultos de religiões de matriz africana.
Segundo Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do Datafolha, além da religião, vários outros fatores entram na formação da opinião, como os de ordem socioeconômica e racial. No recorte por cor da pele, por exemplo, a taxa de reprovação à atuação do Supremo entre quem se declara preto atinge 45%.
Conforme reportagem de junho, o Supremo tem sete ministros católicos, dois judeus e dois não informaram se professam religião. Nenhum se declara evangélico. Bolsonaro deverá indicar ao menos dois nomes para a corte, no lugar de dois ministros que se aposentam: Celso de Mello, em 2020, e Marco Aurélio, em 2021.
Folhapress
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