Centrão avança, e esquerda perde espaço em cidades com mais auxílio emergencial

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom

Partidos do atual centrão ou que já fizeram parte do bloco ampliaram nestas eleições o controle de municípios que foram mais beneficiados pelo auxílio emergencial do coronavírus.

Somados, PP, PL e Republicanos (principais legendas do grupo hoje alinhado a Jair Bolsonaro), PSD (que costuma votar com o bloco, embora negue integrá-lo) e MDB (que já foi expoente do centrão, mas se distanciou) avançaram no primeiro turno e ocuparam principalmente o espaço de siglas de esquerda.

Levantamento feito pela Folha mostra que, no último domingo (15), as cinco legendas venceram 57% das eleições nos 200 municípios com a maior proporção de moradores atendidos pelo benefício. Até então, os partidos controlavam 41% dessas prefeituras.

O crescimento nas cidades do topo do ranking do auxílio emergencial foi maior do que o avanço registrado por essas siglas no cenário nacional. Em todo o país, os cinco partidos tiveram sucesso em 49% das disputas que já foram encerradas.

No total, as legendas passaram de 2.461 para 2.665 prefeituras nos últimos quatro anos —um aumento de 8%. Nos municípios mais atendidos pelo benefício, esse crescimento foi bem maior, de 39% (de 82 para 114 prefeituras controladas).

Essas siglas têm um histórico associado ao grupo convencionalmente chamado de centrão. São legendas com comportamento político fluido e que deram apoio a diferentes governos nos últimos anos —incluindo gestões do PT e a atual, de Jair Bolsonaro (sem partido).

PP, PL e Republicanos integram a base aliada do presidente —que obteve um aumento de popularidade nos meses iniciais de pagamento do auxílio. MDB e PSD declaram independência, mas apoiam itens da agenda do Palácio do Planalto.

No Congresso, esses partidos são peças-chave nas discussões sobre a reformulação de programas sociais em estudo pelo governo. O debate envolve desde propostas de prorrogação do pagamento do auxílio emergencial a uma expansão do Bolsa Família.

No balanço dos 200 municípios mais atendidos pelo benefício, o PP teve o maior crescimento. Subiu de 9 para 30 prefeituras. O único partido do grupo a perder terreno foi o MDB, que caiu de 34 para 28 —uma queda proporcionalmente menor do que a desidratação observada pela sigla no resto do país.

Já os partidos de esquerda recuaram nesse recorte. PT, PSB, PDT e PC do B controlavam 48 prefeituras e, agora, passaram para 34. A queda representa uma redução de 29% no espaço ocupado por essas siglas.

O maior derrotado foi o PSB, que perdeu o controle de 10 municípios. O PT caiu de 17 para 11 prefeituras. O PC do B ficou estável e o PDT avançou, de 9 para 11.

A redução do espaço da esquerda nesses 200 municípios foi ligeiramente mais intensa do que o declínio registrado nacionalmente pelo grupo. Em todo o país, os quatro partidos perderam 27,5% das prefeituras até agora. No ranking do auxílio, a diminuição foi de 29%.

Em Maetinga (BA), terceira colocada da lista, o PT perdeu o comando do município que governa há oito anos. O candidato petista à sucessão do atual prefeito foi derrotado por Dra. Aline (PL).

Já no município de Jitaúna (BA), o prefeito Patrick Lopes foi eleito pelo PDT em 2016. Ele trocou o partido pelo PP durante o mandato, disputou a reeleição e venceu.

Em outros casos, a prefeitura só mudou de mãos, mas dentro do grupo associado ao centrão. O PSD atualmente governa o município com a maior proporção de beneficiários, Severiano Melo (RN). O partido não lançou candidato, e quem venceu a eleição foi o Republicanos.

Além da esquerda, o centrão também avançou sobre espaços de outras siglas. O PSDB, por exemplo, caiu de 26 para 16 prefeituras, e o DEM passou de 16 para 14.

Os municípios com maior cobertura pelo benefício se concentram no Nordeste e nos recantos mais pobres de outras regiões. Esses locais registravam influência maior dos partidos de esquerda durante as gestões petistas no governo federal e foram onde Bolsonaro teve alguns de seus resultados mais fracos na disputa presidencial de 2018.

Nas eleições municipais de 2012, legendas de esquerda conquistaram 67 prefeituras —quase o dobro do número atual. Os dados mostram que a queda de desempenho desses partidos ao longo dos últimos anos se repetiu, portanto, nas regiões mais pobres do país, que eram parte de seus redutos eleitorais.

Folha de S.Paulo

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