Com candidato ‘pesado’, PP combina jogo com oposição para emparedar Rui na Assembleia

O PP não engolirá de bom grado a idéia do governo de que a sucessão à presidência da Assembleia Legislativa se tornou um fato consumado para o PSD depois que o presidente Nelson Leal perdeu as condições de concorrer com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de vetar o expediente da reeleição no Congresso.

Largas faixas do partido permanecem rebeladas ante a exigência para cumprir o acordo pelo qual teriam que apoiar o candidato do PSD à presidência, Adolfo Menezes, avalizado pelo governador Rui Costa (PT), e já programam uma espécie de ‘operação tartaruga’ no Legislativo para mostrar seu descontentamento.

A ideia é atrasar a apreciação de propostas consideradas cruciais para a agenda do governo neste fim de ano, a exemplo de um projeto de remissão do ICMS que colocaria nos caixas da administração estadual algo em torno de R$ 200 milhões, recurso considerado essencial neste momento de queda na arrecadação.

A mensagem para que os deputados do PP agissem no sentido de ‘expressar” sua indignação teria sido transmitida após uma reunião que o presidente estadual da sigla e vice-governador João Leão teve esta semana com o governador para confirmar que o partido permanece interessado na sucessão de Leal no Legislativo.

Em outras palavras, Leão deixou claro que o PP não aceita os termos do acordo ao qual o próprio governador deu aval. A partir daí, o recado foi repassado à oposição, que, interessada em colaborar com o desgaste do governo neste fim de ano, concordou em ajudar na tarefa de desacelerar a pauta legislativa da gestão.

O sinal de que os oposicionistas estão integrados à manobra do PP teria sido uma nota divulgada ontem pelo líder do grupo, deputado Sandro Régis (DEM), em que ele anuncia que a bancada, embora aberta a apreciar matérias relacionadas ao combate à Covid-19, não votará de forma ‘açodada’ nenhuma proposta enviada ao Legislativo por Rui.

“A bancada de Oposição procurou não politizar os assuntos relacionados à pandemia e sempre votou propostas que chegaram à ALBA com o intuito de combater o coronavírus e reduzir os impactos provocados por ele. Mas, qualquer outro tipo de projeto nesse final de ano nós não votaremos de forma açodada”, declarou Sandro.

O comunidado foi combinado pelo líder da oposição com os deputados da bancada do PP exatamente para confirmar que o grupo estaria disposto a, pelo menos neste primeiro momento, ajudar na estratégia do partido de Leão de pressionar o governador a entender que a sigla não está contente com a forma como o petista está encarando a disputa.

Foto: Divulgação/Arquivo

Apoiado pelo presidente da Assembleia, o PP tenta emplacar à sua sucessão o deputado Victor Bonfim, sob o argumento de que ele não pertence aos quadros progressistas, constituindo-se numa espécie de terceira via que não representaria nem o PSD nem o PP, já que está formalmente filiado ao PL.

O problema é que, apesar de ser considerado estudioso e conhecer a engrenagem da Casa, Victor enfrenta grande resistência entre os colegas. Além disso, governistas mais próximos de Rui têm buscado queimá-lo, acusando-o de ter o “DNA” da traição no sangue, um alerta de que pode trabalhar contra o governo uma vez no comando da Assembleia.

“Neste governo, tudo pode acontecer, mas só se Rui tiver completamente louco – eu digo, completamente louco – vai colocar na presidência da Assembleia alguém que traz a traição no sangue. Esse menino muda de comportamento contra o governo no dia em que for eleito. Anote aí”, diz um deputado do PT que trabalha pela eleição de Adolfo.

Seria uma referência, principalmente, ao comportamento do pai de Victor, o ex-deputado e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado João Bonfim, que, momentos depois de tomar posse, descumpriu promessa de não lançar o filho candidato à Assembleia em seu lugar em troca da indicação pelo governo para o TCE.

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