Silva e Luna defende ‘equilíbrio’ entre acionistas e sociedade na Petrobrás e diálogo com governo

Foto: Mauro Pimentel/AFP
Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Petrobrás, o general da reserva Joaquim Silva e Luna acredita que é necessário “equilibrar as atenções” entre os interesses de acionistas e investidores da empresa e os da sociedade, que sente o reflexo de ações da empresa, como os reajustes de combustíveis e de gás.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele disse não ver possibilidade em interferências nos preços e que, se aprovado pelo conselho de administração da empresa, pretende ter diálogo com o governo federal, principalmente com o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, e com o Ministério de Minas e Energia, que abriga a estatal em seu guarda-chuva.

Ele defende que a Petrobrás deve ser uma empresa forte e que dê confiança para os que querem investir. No mercado, a mudança no comando da estatal não foi bem recebida. Há expectativa de que as perdas devem se agravar nos próximos dias. Mas, para Silva e Luna, a situação é reversível. Ele afirma que houve uma percepção “equivocada” e chegou a atribuir a reação negativa ao fato de a indicação ser de um militar. Mesmo assim, afirmou que a diretoria continuará sendo integrada por especialista e ressaltou seu papel no serviço público, à frente do ministério da Defesa do governo Temer e seu atual cargo, na diretoria-geral brasileira da Itaipu Binacional.

Silva e Luna deve substituir Roberto Castello Branco, a quem o presidente Bolsonaro criticou até por trabalhar de home office durante a pandemia. O anúncio da indicação foi feito pelo próprio chefe do Executivo pelas redes sociais na noite de sexta-feira. A mudança acontece após uma série de críticas em relação à política de reajustes adotada pela Petrobrás, que segue as cotações do mercado internacional. Pesou ainda declaração de Castello Branco de que a insatisfação de caminhoneiros com preço do diesel não era um problema da empresa.

Ele nega possíveis intervenções na política de preço vigente e ressalta que a responsabilidade sobre o tema é da diretoria executiva da empresa, e que a decisão sobre o tema é colegiada. “Uma pessoa, um assento, vai ser um voto em um contexto de tantos outros.” Por outro lado, o general não descarta que o tema seja discutido pelo colegiado. “As pessoas podem conversar sobre tudo isso, encontrar outra forma, nada está definido e encerrado. Sempre tem outra possibilidade de ter outra maneira de ver um problema, sempre é possível fazer alguma coisa”, disse.

Ainda em uma avaliação inicial, o militar da reserva diz que a Petrobrás tem de ser uma empresa forte, que traga segurança aos investidores, e que seu presidente tem de “equilibrar atenções” e enxergar o impacto que a empresa tem para a população. “Ele tem de enxergar. Às vezes fica muito focado em que a empresa tem de dar lucro, que a empresa está no mercado, tem seus acionistas, tem seu valor, tudo isso. Mas também tem de enxergar, isso é um pensamento inicial, de forma muito primária, posso até mudar o que estou dizendo, tem de enxergar a sociedade, a finalidade na qual a empresa existe, se não fica desfocado”, afirma.

O diretor-geral de Itaipu afirmou que falar sobre a empresa com muita profundidade neste momento seria “indelicado”, pois ainda não teve seu nome aprovado pelo Conselho e ainda há outra pessoa no cargo. Preferiu não opinar sobre outras frentes, como a política de desinvestimentos e venda de ativos em curso. Diz que, se confirmado no posto, irá sentar e estudar sobre o tema. Também pretende ter diálogo com o governo, principalmente com os Ministérios ligados à empresa: Economia e Minas e Energia, sob comando de Bento Albuquerque. “É ideal ter diálogo com todos os ministérios. O governo não é só o presidente. Isso sempre foi um princípio: trabalhar aliando as percepções de todo mundo.”

Próximo de Bolsonaro, Silva e Luna completa dois anos à frente da margem brasileira da Itaipu Binacional, que pertence ao Brasil e ao Paraguai, neste domingo, 21. Antes, acompanhou de perto a greve dos caminhoneiros no País em 2018, ainda no governo de Temer, como chefe do Ministério da Defesa. Questionado sobre suas expectativas para a decisão do conselho de administração, respondeu: “Sou otimista por natureza, mas não faço nenhuma avaliação, está totalmente fora da minha condição.”

Estadão

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