Ala do MDB reage a ofensiva de Lula por 2022
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
As articulações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atrair o apoio do MDB na disputa presidencial de 2022 causaram reação de uma ala do partido, que já prepara uma contraofensiva. Desde que teve suas condenações na Lava Jato anuladas e retomou seus direitos políticos, Lula tem mantido diálogo com caciques emedebistas na tentativa de restabelecer a aliança da época em que o PT foi governo.
Ex-líder da bancada ruralista na Câmara e próximo ao presidente Jair Bolsonaro, o deputado Alceu Moreira (RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães, lidera o grupo anti-Lula do MDB. O parlamentar gaúcho vai iniciar a partir do dia 15 um ciclo de debates e consultas aos filiados para posicionar institucionalmente a legenda no chamado “centro democrático”.
Organizados pela Fundação Ulysses Guimarães, os eventos serão virtuais e vão reunir quadros como o ex-presidente Michel Temer, que foi vice nos dois mandatos de Dilma Rousseff e assumiu o cargo após o impeachment da petista, em 2016. “Não passa de um devaneio o MDB apoiar Lula. O centro é ser radical contra o radicalismo. Se há um partido que é de centro é o MDB”, disse Moreira.
O movimento para barrar o avanço de Lula no partido conta com o apoio de Temer e dirigentes emedebistas do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, Estados que historicamente se alinham contra o PT em eleições presidenciais.
Derrotado na eleição para presidência da Câmara por uma frente que contou com o apoio do Palácio do Planalto, o presidente nacional do partido, deputado Baleia Rossi (SP), mantém um discurso neutro e evita se alinhar a alguma das correntes internas, mas prega que o MDB se afaste dos extremos.
Para o dirigente, o partido deve reabrir o debate com outras forças políticas interessadas em quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro em 2022.
“Sabemos das diferenças regionais do MDB, por isso o melhor caminho para o partido é construir um candidato de centro. Vamos discutir todas essas questões com a executiva nacional do partido nos próximos meses”, disse Rossi ao Estadão.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) vai na mesma linha. “Basta ver a história do partido: um guarda chuva para todas as tendências ideológicas e políticas que é capaz de unir os diferentes contra os extremos, a favor de uma alternativa democrática, seja com candidatura própria ou como aglutinador de uma terceira via”, disse Tebet.
Um dos nomes colocados como alternativa de centro, o governador de São Paulo, João Doria, também está empenhado em obter apoio do MDB para sua candidatura à Presidência, em 2022. Embora a cúpula do MDB fale sobre o lançamento de um candidato próprio ao Planalto, este cenário é visto como menos provável. A ideia é apoiar um candidato e, no máximo, ser vice de alguma chapa. Não há, porém, um consenso sobre quem apoiar.
Em São Paulo, Baleia tem um acordo com Doria. A tendência é que o MDB apoie a candidatura do vice-governador Rodrigo Garcia para a disputa ao Palácio dos Bandeirantes. Garcia hoje está no DEM, mas deve migrar para o PSDB.
Lula, por sua vez, passou a semana em Brasília em busca de apoio à sua pretensão eleitoral. Ele almoçou na sexta-feira, 7, com o também ex-presidente José Sarney (MDB-MA). Um dos temas da conversa, na casa do emedebista, foi a montagem de palanques estaduais em 2022.
Como revelou a Coluna do Estadão, Lula telefonou para caciques emedebistas do Norte e do Nordeste e disse que representa o “centro” no tabuleiro eleitoral. Ainda que não tenha o compromisso do apoio do MDB para o seu projeto presidencial, o petista quer amarrar alianças regionais fortes que possam garantir a ele apoio nos Estados. Exemplos disso são Alagoas, onde o grupo de Renan Filho (MDB) busca permanecer no comando, e Pará, governado por Helder Barbalho (MDB), pré-candidato à reeleição. Lula é próximo dos pais dos dois governadores.
Para o ex-presidente, o apoio do MDB garantiria uma estrutura partidária forte no Norte e Nordeste, além de mais tempo de TV no horário eleitoral gratuito e a narrativa de que está construindo um projeto que vai além do campo da esquerda tradicional.
Pedro Venceslau/Estadão Conteúdo
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