Doria sofre derrota no PSDB, e prévias presidenciais terão menos peso para filiados
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A medida foi uma derrota para João Doria (PSDB). O governador de São Paulo defendia que a proporção fosse de 50% para filiados e 50% para mandatários.
Seus aliados sugeriram, como meio termo, 35% a 65%, proposta que perdeu na votação.
Ao jornal Folha de S.Paulo Doria confirmou nesta terça que quer ser o candidato do partido à Presidência da República. "Vamos disputar as prévias, respeitando todos os candidatos. Mas vamos trabalhar pra vencer. E somar forças com todos para fortalecer a candidatura do PSDB. E ajudar o Brasil", disse o tucano ao jornal.
As regras das prévias presidenciais deveriam ter sido resolvidas na última terça (8), mas, diante de impasse entre propostas apresentadas, tucanos votaram por adiar a decisão em uma semana. Nesse período, a ideia era que Doria e seus adversários internos -Tasso Jereissati (CE), Eduardo Leite (RS) e Arthur Vírgilio (AM)- chegassem a um consenso.
Na última terça, a cúpula do PSDB aprovou por unanimidade somente a votação indireta com pesos entre filiados e mandatários, mas sem estabelecer os percentuais, o que abriu uma brecha para que Doria tentasse emplacar sua tese.
Apesar de terem mantido conversas ao longo da semana, os quatro tucanos chegaram à reunião sem convergência. Como mostrou a Folha de S.Paulo, Doria sinalizou que aceitaria qualquer regra, num ato de boa vontade que seria recompensado com um aumento da participação dos filiados.
Aliados de Doria pressionavam por maior peso dos filiados porque São Paulo concentra a maior fatia deles -cerca de 22% de 1,36 milhão, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O número de filiados regulares e identificáveis, no entanto, é bem menor, algo em torno de 658 mil, segundo as primeiras apurações do PSDB.
Os paulistas chegaram a propor, na reunião, que o peso dos filiados subisse para 35%, mas encontraram oposição de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.
Na reunião, Tasso e Leite defenderam a manutenção dos 25%, conforme foi desenhado por uma comissão tucana liderada pelo ex-senador José Aníbal (SP).
Segundo Marco Vinholi, presidente do PSDB paulista e secretário do governo Doria, a ideia de propor 35%, e não 50%, foi feita na tentativa de obter unidade, mantendo a maior participação dosfiliados.
"O aumento de filiados foi colocado para alcançar o modelo mais democrático possível. Mas, em termos de condição para vitória de Doria, temos um percentual similar em ambos critérios", afirma.
São Paulo, de fato, sai na frente em qualquer cenário, por concentrar não só os filiados, mas prefeitos, vereadores e deputados. Vinholi afirma ainda que Doria aceitará as regras e buscará diálogo com todos os tucanos na tentativa de viabilizar sua candidatura presidencial.
Para o aliado do governador, o resultado não foi apenas uma derrota, dado que uma ala do partido, liderada por Aécio Neves (MG), pregava adiamento ou não realização de prévias.
"Foi uma decisão muito importante, hoje sepulta qualquer possibilidade de adiamento, teremos as prévias. Está consolidado que o partido tenha candidatura própria", diz.
A comissão estabeleceu, no dia 31 de maio, a votação indireta em quatro grupos, com peso de 25% para cada. A proposta precisaria ser aprovada pela executiva nacional, o que ocorreu nesta terça.
Os grupos são: um de filiados; um de prefeitos e vice-prefeitos; outro de vereadores, deputados estaduais e distritais; e o quarto grupo reúne governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, ex-presidentes e presidente do PSDB.
Por exemplo: no grupo um, o candidato A tem 60% dos votos e o B, 20%. Na conta final, o A soma 15% e o B, 5%.
"Agora é unidade. É preparar as prévias, fazer um processo transparente, com qualidade e inovação. Esse é um dos momentos mais intensos da história do PSDB, uma grande demonstração de democracia interna", afirmou o presidente do partido, Bruno Araújo, em nota.
No partido, a avaliação é a de que Tasso é favorito e tem maioria, mas precisa decidir se vai mesmo concorrer. Caso não confirme, a disputa fica aberta entre Doria e Leite.
Entre tucanos, porém, a reunião ficou marcada não pela derrota de Doria, mas por mais um episódio de constrangimento do governador em relação ao partido, envolvendo a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Aníbal leu uma mensagem de FHC em que ele diz: "mesmo conhecendo outras propostas legítimas que surgiram, manifesto meu apoio pela proposta apresentada pelo grupo de trabalho presidido pelo senador José Aníbal, sem qualquer alteração".
Antes que o voto de FHC fosse contabilizado, no entanto, Vinholi, em uma atitude descrita pelos demais como desagradável, pediu que isso fosse confirmado com o ex-presidente, o que foi feito pelo presidente da sigla.
Em seguida, Doria insistiu que FHC havia concordado, na verdade, com a proposta de 35%. E exibiu, na tela do computador, uma mensagem de FHC a ele, em que o ex-presidente chama a sugestão do paulista de razoável.
A disputa se tornou escancarada quando Aécio, principal rival de Doria na sigla, também afirmou ter mensagem de FHC a ele, defendendo os 25%.
Por fim, coube a Tasso dissipar a questão, afirmando que FHC, que completa 90 anos nesta semana, não deveria ser exposto. O voto do ex-presidente acabou não contabilizado.
Aécio, por sua vez, também sofreu uma derrota. Ele defendeu que o deputado federal Celso Sabino (PA), seu aliado, participasse da votação sobre as prévias. Mas Sabino já pediu sua desfiliação ao TSE, e a maioria votou por deixá-lo de fora.
Apesar da polêmica em torno da participação de filiados, a realidade é que uma pequena parcela será mobilizada com as prévias. Nas prévias estaduais de 2018, Doria teve 80% dos votos de cerca de 15 mil filiados -o total do estado na época era de aproximadamente 310 mil.
Membros do PSDB ouvidos pela reportagem consideraram, de forma geral, que as regras definidas pela comissão eliminam favoritismos e dão chance para que qualquer um dos quatro vença a eleição interna.
"Nosso objetivo é unificar o partido no processo de prévias e permitir que os pré-candidatos, em condições igualitárias de disputa, saiam em busca da nossa militância", afirmou Aníbal em nota.
Uma terceira sugestão, feita pelo deputado federal Paulo Abi-Ackel (MG), de que dirigentes estaduais participassem do grupo 2 e não do 1, foi retirada. Nos bastidores, a proposta mineira era tida como uma medida patrocinada por Aécio que prejudicaria Doria.
O governador paulista trabalhava, na verdade, pela votação universal e direta, proposta que foi enterrada pela comissão e pela executiva nacional.
No último teste de força na executiva, em 2019, para deliberar sobre o processo de expulsão de Aécio, a ala de Doria perdeu por 30 a 4.
Doria vem buscando se viabilizar dentro do partido, com conversas e jantares, e entre eleitores, com antecipação da vacinação e inaugurações no interior -mas encontra dificuldades. Doria é lembrado pelos seus pares por intervenções, atropelos, falta de articulação e erros políticos.
O principal óbice a ser contornado é a imagem de Doria, vista como excessivamente paulista e elitista pelas pesquisas qualitativas do próprio tucanato. A isso se soma a percepção de um político avesso aos códigos da política e com pouco traquejo em Brasília, corrente entre líderes de partidos potencialmente aliados.
Entusiastas da candidatura de Doria creem, contudo, que tudo isso é superável e apontam os ativos do governador, sendo a vacina o maior deles. Outro ponto favorável a Doria é a economia, que está em melhor forma em São Paulo, que deve crescer 6% este ano, ante talvez 4% do país.
De acordo com a deliberação da executiva, as prévias estão marcadas para 21 de novembro, com possível segundo turno em 28 de novembro. Enquanto Doria preferia a data divulgada pelo partido inicialmente, 17 de outubro, outros pré-candidatos e líderes do partido pressionavam pelo adiamento para o ano que vem.
A expectativa de tucanos é de que Doria, caso perca as prévias, saia do partido e busque ser candidato ao Planalto por outra sigla, o que explica sua pressa.
Já o motivo apresentado para o adiamento era a questão da pandemia, mas há, nos bastidores, esforços de parte da bancada da Câmara dos Deputados, grupo que incluí Aécio, para que o partido não lance candidato a presidente da República, medida que faria sobrar mais verba do fundo eleitoral para os parlamentares se reelegerem.
Por causa da pandemia, os tucanos devem votar por meio de um aplicativo, e estarão aptos todos os filiados até 31 de maio.
REGRAS DAS PRÉVIAS APROVADAS PELO PSDB
Colégio eleitoral de quatro grupos, com 25% de peso cada
1.filiados
2. prefeitos e vice-prefeitos
3. vereadores, deputados estaduais e distritais
4. governadores, vice-governadores, deputados federais, senadores, ex-presidentes do PSDB e o atual
Datas
20.set - inscrição dos candidatos
18.out - início dos debates
21.nov - primeiro turno
28.nov - segundo turno
OS NÚMEROS DO PSDB
Prefeitos: 541 (201 em SP)
Vereadores: 4.366 (1.209 em SP)
Deputados estaduais: 72 (9 em SP)
Deputados federais: 33 (7 em SP)
Senadores: 7 (2 em SP)
Filiados: 1,36 milhão (cerca de 300 mil em SP)
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