Caminhoneiros dizem que param em 7 de setembro se protesto incluir demanda da categoria
Foto: Mathilde Missioneiro/Folhapress |
Líderes dos caminhoneiros disseram que só haverá adesão à paralisação no dia 7 de setembro, convocada pelo cantor e ex-deputado federal Sérgio Reis, se os protestos incluírem as demandas da categoria.
Com liderança descentralizada, os caminhoneiros tentam realizar mobilizações ao longo deste ano, sem sucesso, contra o aumento no preço do combustível e em defesa da tabela com pisos mínimos de frete.
A convocação para o 7 de setembro, porém, recebeu críticas dos trabalhadores. Eles consideraram que as pautas não correspondem a suas necessidades.
O protesto, segundo vídeo divulgado por Sérgio Reis, seria favorável ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defenderia a destituição de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e o voto impresso.
José Roberto Stringasci, presidente da ANTB (Associação Nacional de Transporte do Brasil), afirma que a ação pode receber apoio dos caminhoneiros, se incluir os pleitos da categoria. “Só vou apoiar como brasileiro e representante da categoria se o pessoal que está organizando colocar nessa pauta uma mudança na política dos preços dos combustíveis e uma reforma tributária já”, disse em áudio enviado à reportagem.
Em grupos de WhatsApp, Stringasci distribuiu áudios dizendo que representantes do agronegócio, que não se sentem confortáveis em convocar uma paralisação, estão usando os caminhoneiros autônomos para viabilizar o protesto.
Em manifestações anteriores, ocorreu um racha entre entidades do setor agropecuário. Enquanto algumas chegaram a apoiar abertamente os caminhoneiros, uma boa parte se declarou impedida de fazer parte ou mesmo apoiar publicamente mobilizações do gênero.
Em vídeo, Marcelo da Paz, que atua na região do porto de Santos, em São Paulo, também disse que a proposta de paralisação, da forma como foi feita, não favoreça a categoria. O caminhoneiro diz ver no protesto uma articulação do agronegócio contra o STF como forma de retaliar a paralisação pelo tribunal de obras da Ferrogrão, linha que ligaria o Mato Grosso a porto no Pará para escoamento da soja.
Em março, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu em liminar uma lei do governo Michel Temer que alterava os limites da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará —uma mudança que viabilizaria a passagem da Ferrogrão. A discussão ambiental envolvendo a ferrovia agora deixa incerto o traçado dessa obra, defendida pelo Ministério da Infraestrutura e considerada vital para o agronegócio.
Por outro lado, Paz diz que aceitaria participar da paralisação se as entidades do agronegócio desistissem da ação que movem no STF contra a tabela do frete.
Nelson de Carvalho Júnior, de Barra Mansa (RJ), diz que, caso os pedidos dos caminhoneiros fossem incluídos na paralisação, as lideranças precisariam se reunir para decidir o que fazer.
Por enquanto, ele diz considerar que há uso político da categoria. Ele reclama que, enquanto agora há incentivo à manifestação, outras tentativas de paralisação da categoria sofreram repressão policial.
Parte do grupo, porém, diz que se manterá contra a paralisação, mesmo que caminhoneiros sejam ouvidos por quem comanda a convocação.
Dodô, apelido de Salvador Edimilson Carneiro, do norte da Bahia, diz ver na convocação uma ação desesperada do governo.
“Na verdade é uma tentativa de golpe do governo. A única saída que o governo tem é tentar um golpe envolvendo a categoria, com pessoas que não tem nada a ver com a categoria. É a única forma que ele vai ter para dar o último suspiro.”
Para Dodô, a maioria dos caminhoneiros já não apoiam o governo, o que diminui as chances de o protesto ser grande. “A categoria está dividida, mas mesmo entre quem vota no governo, a maioria não concorda com o modo como a categoria está sendo tratada.”
“Caminhoneiro raiz não vai aderir a este movimento. Não tem nada a ver com reivindicações dos caminhoneiros e não atende em nada as nossas pautas”, diz Marconi França, líder da categoria em Pernambuco.
Ele diz não acreditar que o governo irá se posicionar favoravelmente há eles. “O governo conhece nossas pautas e deu as costas para a gente”, afirma.
Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), diz que a convocação de paralisação é antidemocrática.
“Se há problema no Judiciário, no Legislativo, e há, são outras formas de resolver, não esse movimento extremado de fechar o Congresso, destituir ministro.”
O presidente da Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim, conhecido como Chorão e um dos líderes da greve de 2018, divulgou vídeo em que diz que os caminhoneiros não estão envolvidos nos atos e que o cantor não os representa, como noticiou a coluna Painel.
Filipe Oliveira, Folhapress
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