Vamos caçá-los e fazê-los pagar, diz Biden sobre autores de ataque que matou 72 no Afeganistão

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress/Arquivo

Os ataques terroristas que deixaram ao menos 72 mortos em Cabul não farão os EUA reverem os planos de deixar o Afeganistão, disse o presidente Joe Biden nesta quinta (26). Ele lamentou as mortes e prometeu vingança contra os autores da ação, mas reafirmou que considera ter tomado a decisão correta sobre encerrar a operação no país, pois isso evitará a perda de mais vidas americanas.

“Não vamos perdoar, não vamos esquecer. Vamos caçar vocês e fazê-los pagar”, prometeu Biden, em discurso na Casa Branca”. Ele disse que a operação de retirada de americanos e aliados do país seguirá com o cronograma atual e que os americanos não serão intimidados. “A missão para retirar os americanos e seus aliados do Afeganistão continua”.

O grupo Estado Islâmico reivindicou a autoria das explosões, ocorridas nos arredores do aeroporto de Cabul nesta quinta (26). Houve ao menos 60 vítimas fatais afegãs. O governo americano disse que 12 militares do país morreram e 15 ficaram feridos —no que pode representar, segundo a agência Reuters, um dos mais mortais ataques às forças dos EUA em 20 anos de guerra.

Biden elogiou o heroísmo dos militares americanos mortos, e disse entender a dor de suas famílias. O presidente perdeu o filho Beau, que serviu no Iraque e teve um câncer no cérebro após retornar aos EUA. “Jill e eu tivemos uma sensação parecida de como as famílias devem estar se sentindo hoje, como se houvesse um buraco negro no peito”.

Biden citou o EI-K, braço afegão do Estado Islâmico, como suspeito de ter realizado a ação. O EI-K, cujo nome faz referência à região de Khorasan, é um adversário declarado do Talibã.

Um porta-voz do Talibã publicou um comunicado no Twitter em que diz “condenar veementemente” o atentado, “ocorrido em uma área onde as forças dos EUA são responsáveis pela segurança”. O grupo disse ainda que “presta muita atenção à segurança e proteção de seu povo”,

Foi a primeira morte de militares americanos no Afeganistão desde fevereiro de 2020. Questionado sobre sua responsabilidade sobre isso, Biden disse que as mortes no país só pararam por conta da trégua acertada entre o Talibã e o governo de seu antecessor, Donald Trump. “Eles atacavam outras forças, mas não os americanos. Imagine o que teria acontecido se eu tivesse desfeito o acordo. Teria de ter enviado muito mais tropas. E eu nunca abandonei a visão de que não deveríamos sacrificar vidas americanas para estabelecer um regime democrático no Afeganistão, um país que nunca teve união interna”, disse Biden.

Antes do discurso presidencial, o chefe do Comando Militar americano, o general Kenneth McKenzie, também havia prometido vingança. “Estamos trabalhando muito duro para determinar a autoria, quem está associado a esse ataque covarde e preparados para agir contra eles. Estamos 24 horas por dia, 7 dias por semana em busca deles”, afirmou.

Em discursos anteriores, o presidente disse que o país continuaria a combater o terrorismo, mas que apostaria mais em ações pontuais do que em ocupações de longo prazo, e havia dito que operações assim poderiam ser feitas no Afeganistão se fosse necessário.

O democrata é criticado pela forma como a retirada americana do país está sendo feita. Em 15 de agosto, o governo afegão que era apoiado pelos EUA foi derrubado pelo grupo fundamentalista Talibã. Depois disso, o aeroporto de Cabul viu cenas de caos, com pessoas invadindo a pista do aeroporto para tentar embarcar nos aviões que partiam —incluindo jovens que caíram do trem de pouso de um cargueiro levantando voo.

A cinco dias do fim do prazo, os EUA não tem certeza de quantas pessoas ainda precisarão ser retiradas.

Biden havia dito que ninguém seria deixado para trás e que poderia estender o prazo de 31 de agosto caso fosse necessário. Após ameaças do Talibã e alegando risco de atentados do grupo terrorista Estado Islâmico, no entanto, o democrata manteve a data limite com o uso dos cerca de 6.000 militares ainda na capital.

Nesta semana, britânicos, alemães e franceses pressionaram para estender o prazo final, mas o Talibã se mostrou irredutível. O grupo fundamentalista islâmico afirmou que irá permitir que afegãos que se considerem sob risco e ocidentais que tenham perdido o prazo de 31 de agosto para deixar o país asiático o façam depois, por meio de voos comerciais —que não têm ocorrido desde que o grupo tomou Cabul.

Na quarta, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que os EUA dariam apoio a quem precisasse de ajuda para sair depois. Segundo ele, já foram retirados 88 mil civis do Afeganistão desde a noite de 14 de agosto, véspera da queda de Cabul, a maioria por meio de voos militares americanos.

Biden adiou para sexta (27) uma reunião que teria com o premiê israelense Naftali Bennett, que visita os EUA.

Rafael Balago/Folhapress

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