Imprensa internacional repercute atos do 7 de Setembro e alerta para risco de ruptura institucional
Foto: Felipe Rau/Estadão |
Os principais veículos de comunicação mundiais acompanham as manifestações que ocorrem no Brasil neste 7 de Setembro, Dia da Independência, a favor do governo de Jair Bolsonaro. Em pelo menos três desses veículos, o americano New York Times e os britânicos Financial Times e The Guardian, o assunto está na home dos sites jornalísticos.
O NYT menciona que o presidente brasileiro tem caído nas pesquisas de opinião pública e enfrentado vários desafios legais, fazendo, mais uma vez, um paralelo com a história do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, de quem Bolsonaro sempre se disse um fã. Com uma foto da manifestação na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, o periódico salienta que os atos podem ser um prelúdio para o controle do poder, segundo especialistas consultados pelo jornal. Dias atrás, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil recomendou que seus cidadãos não se aproximassem desses atos, considerando que poderiam ser perigosos.
Também na primeira página do site, o FT destaca que essas passeatas favoráveis ao “líder populista” colocam Brasil em risco e que ocorrem depois em que Bolsonaro incendiou sua base com uma campanha agressiva contra vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem ele acusa de abuso de autoridade. A publicação britânica também cita as dúvidas levantadas pelo presidente sobre o sistema de votação eletrônica e comenta que a “tensa atmosfera política” alimentou temores de que os comícios possam se transformar em violência.
Já o Guardian cita que apoiadores de Bolsonaro chegaram a enfrentar policiais antes do evento em Brasília, quando ativistas da direita tentaram romper o bloqueio e forçar seu caminho para o Congresso. Lembrando que o Brasil é a maior democracia da América Latina, o jornal britânico também informa sobre o uso de spray de pimenta usado por policiais militares para repelir manifestantes durante a madrugada. O periódico também comenta que o evento foi convocado pelo “líder em apuros” do Brasil em uma aparente tentativa de projetar força no pior momento de sua presidência desde que começou, em janeiro de 2019.
A France 24, que lembrou o desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios há cerca de um mês, chama atenção para o embate travado entre o presidente e ministros da Suprema Corte e aponta que o evento de “alto risco” ocorre pouco mais de um ano das eleições. As pesquisas locais atuais, informa a transmissora, colocam o presidente de extrema direita no caminho da derrota. A Al Jazeera também salienta a baixa popularidade de Bolsonaro e que as manifestações são uma forma de o presidente “energizar” sua base extrema-direita.
Seguindo a mesma linha, o argentino La Nación chamou o discurso de Bolsonaro de “forte ameaça golpista”, descrevendo-o como um duro ataque à Suprema Corte. O jornal também noticiou a invasão de manifestantes bolsonaristas à Esplanada dos Ministérios na noite de segunda-feira, 6, em meio a ameaças de fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso.
Em análise publicada nesta terça-feira, o francês Le Monde afirmou que o resultado do feriado da Independência no Brasil, este ano, é “totalmente imprevisível”. Segundo a publicação, o País corre o risco de ver atos de vandalismo inspirados na invasão do Capitólio, nos Estados Unidos. Citando a possibilidade de ruptura institucional, o jornal também destacou o “ultimato” dado por Bolsonaro à Praça dos Três Poderes.
Le Monde atribui as ameaças de Bolsonaro a seu resultado nas pesquisas de intenção de voto para 2022, em que ele aparece em desvantagem em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “A queda nas pesquisas empurra (o presidente Bolsonaro) a mobilizar sua base para apoiá-lo”, diz o jornal.
O também argentino El Clarín deu posição de destaque às manifestações de 7 de Setembro em sua página inicial. “Do Rio de Janeiro a São Paulo, Jair Bolsonaro enche as ruas de seguidores e ameaça a Corte”, diz a manchete. O jornal sublinhou que as demandas empunhadas pelo bolsonarismo, sobretudo o impeachment de ministros do STF, têm “conotações antidemocráticas”, e destacou trechos do discurso do presidente em que ele afirmou que “hoje começa a ser escrita uma nova história no Brasil”.
Estadão Conteúdo
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