Pílula contra Covid da MSD reduz risco de morte em 50%, afirma estudo
Foto: Reuters |
O molnupiravir, remédio experimental contra a Covid-19 produzido pelo grupo farmacêutico MSD, reduziu em cerca de 50% a chance de hospitalização ou morte para pacientes em risco de desenvolver formas graves da doença, de acordo com resultados preliminares anunciados nesta sexta-feira (1º).
Especialistas viram os dados como um potencial grande avanço na luta contra o coronavírus.
Se autorizado, o molnupiravir, que foi projetado para introduzir erros no código genético do vírus, seria o primeiro medicamento antiviral oral contra para a Covid.
A MSD (empresa que nos EUA e no Canadá se chama Merck, Sharp & Dohme) e sua parceira Ridgeback Biotherapeutics planejam buscar autorização para uso de emergência da pílula nos Estados Unidos o mais depressa possível. Elas também vão submeter pedidos de licença às autoridades regulatórias de outros países.
“Um antiviral oral que pode ter um impacto desse nível no risco de hospitalização seria um divisor de águas”, disse Amesh Adalja, professor do Centro Johns Hopkins para Segurança Sanitária.
Os tratamentos hoje existentes, como o remdesivir, da Gilead, têm sido ministrados a pacientes já internados. Para Adalja, eles são “complicados e logisticamente difíceis de administrar. Uma simples pílula oral seria o oposto disso”.
Robert Davis, presidente-executivo da MSD, disse à Reuter: “Isso vai mudar o diálogo sobre como administrar a Covid-19”.
Os resultados dos testes de fase 3, que fizeram as ações da empresa disparar na Bolsa americana, foram tão robustos que monitores externos recomendaram interromper o ensaio antes da data prevista.
Em contrapartida, acções de fabricantes de vacinas, como Moderna e Pfizer, tiveram queda. Alguns analistas apontaram a possibilidade de que as pessoas passem a ter menos medo da Covid e se tornem menos inclinadas a se imunizarem se houver uma simples pílula contra a doença.
Jeff Zients, da frente anti-Covid do governo americano, disse que o molnupiravir pode ser uma arma adicional para proteger as pessoas contra a Covid, mas que a vacinação “continua sendo de longe a melhor ferramenta contra a doença”.
Rivais como a Pfizer e o grupo farmacêutico suíço Roche Holding estão correndo para desenvolver uma pílula antiviral fácil de ministrar para a Covid-19, mas até agora apenas coquetéis de anticorpos —que precisam ser aplicados de forma intravenosa— foram aprovados para o tratamento de pacientes não hospitalizados de Covid.
No estudo da MSD, análise preliminar dos 775 pacientes que participaram constatou que 14,1% das pessoas que receberam um placebo foram hospitalizadas ou morreram nos 29 dias posteriores ao tratamento. Entre as pessoas que receberam o molnupiravir, 7,3% foram hospitalizadas e nenhuma morreu (contra oito mortes nos pacientes que receberam o placebo).
“Tratamentos antivirais que possam ser feitos em casa para manter as pessoas portadoras de Covid-19 fora dos hospitais são extremamente necessários”, afirmou Wendy Holman, presidente-executiva da Ridgeback.
Cientistas celebraram o potencial novo tratamento para ajudar a prevenir formas graves da Covid, doença que já matou quase 5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais quase 600 mil no Brasil.
“Um antiviral oral seguro, acessível e efetivo seria um grande avanço na luta contra a Covid”, disse Peter Horby, professor de doenças infecciosas na Universidade de Oxford.
“A disponibilidade de um medicamento oral efetivo e bem tolerado vai ser particularmente útil ao suplementar a vacinação como meio de reduzir a proporção de pacientes que demandem hospitalização”, afirmou Penny Ward, professora do King’s College de Londres.
No teste da MSD, com pacientes de todo o mundo, o molnupiravir foi usado em intervalos de 12 horas por cinco dias.
O estudo envolveu pessoas com Covid-19 entre amena e moderada confirmada em exames de laboratório, que apresentavam sintomas havia no máximo cinco dias. Todos os pacientes tinham pelo menos um fator de risco associado a desfechos negativos para a doença, como obesidade ou idade mais elevada.
A MSD afirmou que o sequenciamento viral feito até agora demonstra que o molnupiravir é efetivo contra todas as variantes do coronavírus, incluindo a delta, altamente transmissível.
A empresa disse que a proporção de efeitos adversos era semelhante para os pacientes que receberam o molnupiravir e aqueles que receberam placebos, mas não ofereceu detalhes sobre os efeitos colaterais.
A MSD afirmou que os dados demonstram que o molnupiravir não causa alterações genéticas em células humanas, mas os homens envolvidos no tratamento tiveram de se abster de relação heterossexual ou concordar em usar contraceptivos.
Mulheres em idade fértil não podiam participar se estivessem grávidas e tinham de usar anticoncepcionais.
Em estudos animais, medicamentos da mesma classe do molnupiravir foram associados a defeitos congênitos. A MSD disse que estudos semelhantes com o molnupiravir —por mais tempo e em doses mais altas do que o usado em humanos— indicam que a droga não afeta o DNA de mamíferos.
A MSD anunciou que espera produzir 10 milhões de pacotes do tratamento até o final de 2021 e promete produção ainda maior no ano que vem.
A companhia tem um contrato com o governo dos Estados Unidos para fornecer 1,7 milhão de pacotes do tratamento de molnupiravir a um preço de US$ 700 por paciente.
Davis disse que a MSD tem contratos semelhantes com outros governos do planeta e que está negociando novos acordos. A empresa informou que planeja implementar um sistema de escala de preços baseado em critérios de renda nacional dos países que receberem o remédio.
A MSD também fechou acordo para licenciar diversos fabricantes de medicamento genéricos da Índia para produzir o remédio. Eles poderiam fornecer o tratamento aos países de renda média e baixa.
O molnupiravir também está em fase três de um teste de prevenção de infecção por coronavírus em pessoas expostas ao vírus.
Representantes da MSD disseram que não estava claro quanto tempo duraria a revisão do remédio pela Food and Drug Administration (FDA), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios.
“Acredito que eles devam tentar trabalhar com urgência nisso”, disse Dean Li, que comanda os laboratórios de pesquisa da MSD.
Reuters/Folhapress
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