Seminário “Mais Mulheres na Política” debate inclusão de candidatas negras, trans e com deficiência
Evento promovido pelo TSE contou com a participação de especialistas do Brasil e do exterior, que discutiram a violência política de gênero |
Os números das Eleições Municipais de 2020 trazem um panorama sobre o espaço das mulheres na política no Brasil. Foram 30 pessoas transgênero eleitas, o que representa apenas 10% das candidatas trans. As mulheres negras compõem 28% da população, mas, nas eleições passadas, representaram somente 3% das candidaturas para as prefeituras e 34% para quem concorreu às câmaras municipais. E houve um crescimento de 49% nas candidaturas de mulheres indígenas em relação às Eleições de 2016, com seis candidatas ao cargo de prefeito e 683 para vereador, para uma população indígena que supera 1,3 milhão de pessoas.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil tem mais ou menos 1 milhão de pessoas com deficiência na sua base de eleitores cadastrados, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que essa população seja de 46 milhões de pessoas. No pleito do ano passado, 1% das eleições cadastradas no Brasil foi de pessoas com deficientes (6.584 pessoas) e 25% dessas candidaturas eram de mulheres (1.673 pessoas).
Por trás de números como esses estão pessoas como Bruna Benevides, representante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra); Ieda Leal de Souza, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado; Cacica O-e-Kaiapó Paiakan, liderança indígena; e Luana Rolim, vereadora de Santo Ângelo (RS). Elas foram as convidadas do painel “Perspectivas interseccionais sobre sub-representação e violência”, que encerrou o seminário “Mais Mulheres na Política – sem violência de gênero”, promovido nesta segunda-feira (18), de forma virtual, pelo TSE. O painel foi moderado pela coordenadora de Mídias e Web do TSE, Fábia Galvão.
Na abertura do painel, Bruna Benevides afirmou que tem acompanhado com muita preocupação a forma com que, proporcionalmente ao número de candidatos transgênero, tem aumentado “a violência que tenta impedir o acesso da população trans nesses espaços de decisão”. “Essa violência também tem saído do armário e tem se mostrado cada vez mais presente e frequente, tanto no ambiente virtual quanto no dia a dia dessas candidatas e no cotidiano dessas parlamentares após eleitas”, destacou.
Pioneiras
Durante sua fala, Bruna lembrou Érika Hilton, que se tornou a primeira vereadora trans e negra em São Paulo, bem como a mulher mais votada no Brasil nas Eleições de 2020, com 50.508 votos, e Erica Malunguinho, primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Além disso, ela fez uma reverência à Kátia Tapety, primeira transexual eleita do Brasil. “Não existe democracia sem a participação de travestis, de mulheres trans, sem a comunidade LGBTQIA+. Sem diversidade não tem democracia, não tem um futuro promissor para esse país”, destacou.
Para Ieda Leal de Souza, nenhuma mulher pode ser abandonada. “O Brasil precisa de nós. Precisamos lutar contra todo tipo de discriminação. O que temos hoje no país é muita dor, são muitas perdas. Mas tudo isso nos convida a reorganizar os nossos espaços e as nossas lutas. Sem nós não há desenvolvimento nesse país. Temos que interromper esse ciclo de violência”, disse.
A Cacica O-e-Kaiapó Paiakan reforçou que as mulheres indígenas não estão inseridas apenas na luta por mais igualdade nas aldeias, mas estão, também, cada vez mais presentes na sociedade. “Precisamos lutar por nós e para as próximas gerações, não só para os povos indígenas, mas há ainda muitas políticas públicas a serem construídas com o povo e para o povo”, afirmou.
Última palestrante a falar, Luana Rolim, primeira vereadora com Síndrome de Down do Brasil, enalteceu a luta de todas as participantes do painel e convidou a todos para pensarem sobre inclusão. “A inclusão não é um benefício para uma comunidade específica: é uma conquista da sociedade como um todo e para todos”, enfatizou.
O evento
Durante todo o dia, o seminário debateu como superar a sub-representação feminina no cenário político, o preconceito e a violência contra a mulher, com atenção especial à situação das mulheres negras, indígenas, LGBTQIA+ e com deficiência, que sofrem duplamente por fazerem parte de um grupo mais vulnerável socialmente.
Todos os debates do evento ficarão disponíveis no canal do TSE no YouTube.
Gestor responsável: Assessoria de Comunicação
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