Dezenove dos 26 suspeitos mortos em ação policial em Varginha são identificados; veja quem são
Armamento apreendido durante operação da PM e PRF que resultou na morte de 26 suspeitos de roubo a bancos em Varginha (MG) — Foto: Tarciso Silva/EPTV |
Foto: G1 |
Os corpos foram encaminhados de Varginha para o Instituto Médico-Legal de Belo Horizonte. Os homens identificados são dos estados de Amazonas, Rondônia, Goiás, Maranhão, São Paulo e Minas Gerais, além de Brasília.
O que se sabe e o que falta saber sobre a operação?
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Os corpos estão no Instituto Médico-Legal Dr. André Roquette, em Belo Horizonte. Dezesseis corpos já foram liberados para os familiares.
O g1 teve acesso a boletins de ocorrência registrados entre 2011 e 2021 em que os homens aparecem como citados. Pelo menos oito dos dez mineiros identificados até o momento já tinham antecedentes criminais, como roubo, assalto à mão armada e tráfico.
Veja os identificados até o momento:
1. Artur Fernando Ferreira Rodrigues, 27 anos, Uberaba (MG) - liberado;
Tinha passagens por porte ilegal de arma de fogo e receptação. O nome dele aparece em um boletim de ocorrência da Polícia Rodoviária Federal pelo crime de roubo de carga e caminhões. A ocorrência foi em março de 2021, na BR-262, em Uberaba.
2. Dirceu Martins Netto, 24 anos, Rio Verde (GO) - liberado;
3. Eduardo Pereira Alves, 42 anos, Brasília (DF) - liberado;
4. Evando José Pimenta Junior, 37 anos, Uberlândia (MG)- liberado;
Na casa dele, em Uberlândia, os policiais já cumpriram mandados de busca e apreensão em julho e agosto de 2013. Evando e José Rodrigo Damas Alves, outro homem que morreu durante o confronto com a polícia em Varginha, se conheciam. Em 2016, os dois foram abordados pela polícia no Bairro Bom Jesus, em Uberlândia. Segundo o boletim de ocorrência, José Rodrigo era o motorista – e estava dirigindo com sintomas de embriaguez – e Evando "se apresentou como o dono do carro".
5. Gerônimo da Silva Sousa Filho, 28 anos, Porto Velho (RO) - liberado;
Segundo a Polícia Civil de Rondônia, Gerônimo foi quem assassinou o dono de uma pet shop de Porto Velho por não concordar com o preço cobrado pelo serviço. O corpo do empresário Henrique Fernando Barbosa foi encontrado dentro de um carro na rua 13 de Setembro, Bairro Areal, em 11 de março deste ano. No veículo da vítima havia várias marcas de tiros. Após o crime, a investigação da Civil apontou que Gerônimo foi o autor do homicídio do empresário. Ele estava foragido da Justiça havia oito meses.
6. Gilberto de Jesus Dias, 29 anos, Uberlândia (MG) - liberado;
Tinha passagens por furto e tráfico de drogas. Em 2014, durante uma abordagem policial, atirou contra militares que participavam da ação por isso tem anotação por tentativa de homicídio. A ocorrência foi registrada na cidade de Coromandel, no Triângulo.
7. Giuliano Silva Lopes, 32 anos, Uberlândia (MG) - liberado;
8. Gleisson Fernando da Silva Morais, 36 anos, Uberaba (MG) - liberado;
Tinha passagens por furto e roubo. Em 2015, Gleison foi preso ao tentar entrar em um supermercado. Ele estava no telhado do estabelecimento quando os militares conseguiram prende-lo. Em 2012, participou do assalto ao prédio da ABZC, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebú, em Uberada. Na época, seis homens armados invadiram o setor financeiro da associação, renderam funcionários e levaram cheques, documentos e celulares.
9. Isaque Xavier Ribeiro, 37 anos, Gama (DF);
10. Itallo Dias Alves, 25 anos, Uberaba (MG) - liberado;
Em 2012, quando era menor de idade, participou de um assalto à mão armada. Tinha várias passagens por dirigir sem carteira de habilitação. Em 2016 se passou por aluno e foi até a Escola Estadual Corina de Oliveira, no Bairro Mercês, em Uberaba, para ameaçar a ex-namorada. "Vou te matar, vou te dar um tiro" foram as ameças que o rapaz disse a vítima no dia em que a ocorrência foi registrada.
11. José Filho de Jesus Silva Nepomuceno, 37 anos, Caxias (MA) - liberado;
12. José Rodrigo Dama Alves, 33 anos, Uberlândia (MG) - liberado;
Tinha passagens pelo sistema prisional. Em julho de 2018, foi abordado pela Polícia Militar com um carro furtado. Durante a ação, ele e um comparsa tentaram fugir e acabaram batendo em uma viatura da PM. Com eles, os policiais encontraram uma pistola calibre 380 que havia sido furtado em Uberlândia, no Triângulo. Segundo o boletim de ocorrência do furto do revólver, o autor seria "magro, alto e negro". Características que, segundo a polícia, eram as mesmas de José Rodrigo.
13. Julio Cesar de Lira, 36 anos, Santos (SP) - liberado;
14. Nunis Azevedo Nascimento, 33 anos, Novo Aripuanã (AM) - liberado;
Segundo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), na ficha criminal de Nunis só havia um processo no Juizado Especial Cível da Comarca de Humaitá. Na ocasião, o homem havia sido denunciado por um acidente de trânsito, em 2015, mas o processo não seguiu adiante por conta da ausência da autora da ação em uma audiência, sendo, posteriormente, arquivado.
15. Raphael Gonzaga Silva, 27 anos, Uberlândia (MG) - liberado;
Tinha passagens por tráfico de drogas e receptação. Em 2012, quando era menor, fez parte de um grupo que tentou arrombar uma casa lotérica no Bairro Luizote de Freitas, em Uberlândia. No mesmo ano, uma pessoa que teve a moto roubada reconheceu Raphael por uma tatuagem que ele tinha na perna.
16. Ricardo Gomes de Freitas, 34 anos, Uberlândia (MG) - liberado;
17. Romerito Araujo Martins, 35 anos, Goiânia (GO);
18. Thalles Augusto Silva, 32 anos, Uberaba (MG) - liberado;
Em 2012 participou de um roubo a uma loja de material de construção. Ele e um comparsa levaram R$ 13 mil em dinheiro e correntes de ouro de funcionárias do estabelecimento. Os dois foram localizados horas depois do crime. Em 2017, a PM apreendeu com Thalles armas de fogo, entre elas umas pistola calibre 38. Teve passagens pelo sistema prisional.
19. Zaqueu Xavier Ribeiro, 40 anos, Goiânia (GO).
Eles foram identificados por meio de exame datiloscópico (impressão digital), em trabalho realizado conjuntamente pelo Instituto de Identificação da Polícia Civil de Minas Gerais, que emitiu 13 laudos, e pela Polícia Federal, que emitiu sete. Em um dos casos, as duas corporações emitiram o documento.
A Polícia Civil disse ainda que, além da identificação dos corpos, "está em curso a investigação de fatos e circunstâncias para possíveis correlações com outros eventos".
Críticas à operação
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pediu uma apuração sobre as mortes. A deputada Andréia de Jesus (PSOL), presidente do colegiado, diz que vai acionar o Ministério Público e a Secretaria de Segurança Pública investigar o caso. O Ministério Público já disse que vai investigar a ação.
A deputada ainda fez críticas à atuação dos agentes.
"Uma operação policial exitosa é uma operação que não deixa óbitos para trás. Infelizmente, no Brasil, a juventude negra ainda continua tendo pena de morte como a única alternativa", disse a parlamentar.
Ela também defendeu que os mortos tivessem sido responsabilizado pelo crime que cometeram. "Um crime contra patrimônio não justifica a retirada de vida, seja de quem quer que seja", acrescentou.
Regimentalmente, para que a comissão possa iniciar a apuração oficial, é preciso que os deputados membros aprovem um requerimento. Ainda não há uma previsão para que isso ocorra.
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais enviou um ofício pedindo explicações ao Ministério Público, à Ouvidoria de Polícia e à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) sobre a ação policial que terminou com 26 mortos em Varginha, no Sul do estado.
“Chama-nos a atenção o fato de a mídia noticiar um confronto altamente armado no qual uma das partes foi ‘totalmente eliminada’”, diz a nota. Nenhum policial ficou ferido durante a operação.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também acredita que uma investigação deve ser feita para apurar a ação
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) disse que "os policiais atuaram no estrito cumprimento do dever legal, utilizando a força necessária para repelir injusta agressão e manter a ordem pública e a incolumidade das pessoas, evitando a atuação de uma quadrilha, que pelo poderio bélico encontrado, poderia instaurar o caos na região, inclusive colocando a vida de cidadãos de bem em risco".
A Polícia Militar disse que, "de imediato, na primeira hora dos fatos, divulgou, ao vivo, em suas redes sociais, todas as ações que foram realizadas, além de organizar uma coletiva de imprensa com os responsáveis pela operação, que estiveram in loco. Não havendo, portanto, qualquer restrição de acesso à informação relacionada à ocorrência".
"Sobre a ação policial, além das medidas de Polícia Militar Judiciária adotadas, a instituição instaurou um Inquérito Policial Militar".
Banco de perfis
Amostras de DNA coletadas dos 26 corpos dos suspeitos de assalto a banco serão inseridas no banco nacional de perfis genéticos. A partir disso, poderá ser apontada a eventual participação deles em outros crimes.
Coletiva da Polícia Civil sobre ataque em Varginha. — Foto: Carlos Eduardo Alvim / TV Globo |
A secretária-executiva da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), a médica legista Tatiana Telles, informou na manhã desta segunda-feira (1º) que esse banco de perfis genéticos procura coincidências, os chamados "matches", entre o DNA desses corpos e o DNA achado em locais de crime no Brasil.
“Muito provavelmente nós teremos coincidências de atuações dessa quadrilha em outros locais de crime, em que por ventura tenham sido inseridos vestígios”, disse a médica legista Tatiana Telles.
Protocolo usado em Brumadinho
Segundo a médica legista Tatiana Telles, assim que a Polícia Civil tomou conhecimento sobre as mortes na operação, encaminhou uma aeronave para Varginha, onde foram feitos os primeiros trabalhos para identificação dos corpos. Eles foram separados por numeração e foi feita uma primeira coleta de digitais.
Após o traslado dos cadáveres para Belo Horizonte em rabecões, cinco peritos e dez legistas começaram a atuar na realização de exames no Instituto Médico-Legal (IML) André Roquette por volta das 21h deste domingo (31).
A decisão de trazê-los para a capital se deveu à complexidade dos trabalhos. Para identificação dos corpos, foi adotado um protocolo semelhante ao adotado na tragédia de Brumadinho em 2019.
"Assim que os corpos foram recebidos no IML, foram classificados com numeração, foram devidamente colocados protocolo de desastre de massa, igual foi feito em Brumadinho", disse o legista Marcelo Mari.
Os corpos foram submetidos a exames de raio-X, passaram por coleta de DNA e ainda foram refeitas as coletas de impressão digital, para uma dupla chegassem. Os trabalhos seguiram ao longo de toda a madrugada e apenas uma pausa foi feita entre 6h20 e 7h.
Segundo Tatiana Telles, algumas famílias já procuraram o local buscando informações sobre a identificação dos suspeitos, que ainda não tem previsão para conclusão.
"Os familiares que tiverem supostos entes queridos em meio a esses corpos tragam documentos, como exames, tomografias, fotografias que apareçam os dentes, os rostos se tiverem tatuagens, documentos pessoais. Qualquer elemento que facilita a identificação antropológica dos suspeitos", afirmou o médico legista José Roberto Rezende Costa.
O prazo para conclusão do laudo pericial é de dez dias, podendo ser prorrogado devido à complexidade dos trabalhos.
26 mortes
De acordo com levantamentos policiais, a quadrilha se preparava para atacar um centro de distribuição de valores do Banco do Brasil em Varginha. A Polícia Militar (PM) disse que os suspeitos haviam alugado um sítio na cidade para ficarem perto do batalhão da corporação e assim realizarem a ação.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os confrontos com os homens ocorreram em duas abordagens diferentes. Na primeira, os suspeitos atacaram as equipes da PRF e da PM, sendo que 18 deles morreram no local.
Em uma segunda chácara, conforme a PRF, foi encontrada outra parte da quadrilha e, neste local, após intensa troca de tiros, ocorreram as demais mortes.
De acordo com a polícia, eles têm relação com crimes cometidos contra instituições financeiras em Uberaba (MG), Araçatuba (SP) e Criciúma (SC).
25 suspeitos de roubos a bancos são mortos durante troca de tiros com PM, PRF e Bope em Varginha, MG — Foto: Divulgação/Polícia Militar |
Armamento de guerra
Um vídeo divulgado pela Polícia Militar mostra o que seria armamento de guerra apreendido pelas forças policiais junto com a quadrilha que pretendia assaltar bancos no Sul de Minas.
Conforme a PM, os suspeitos tinham uniformes, coletes balísticos, coturnos e roupas camufladas. Além disso, tinham carregadores já municiados e armamentos de todos os calibres, como fuzis, escopetas e também "miguelitos", usados para furar pneus de viaturas.
A polícia também apreendeu com os suspeitos vários galões de combustível e materiais que seriam usados como explosivos.
Os integrantes da quadrilha poderiam fugir em uma carreta com fundo falso apreendida pela Polícia Rodoviária Federal. A suspeita é da PRF, que localizou o veículo em Muzambinho (MG).
A A Policia Militar disse que divulgou "todas as ações que foram realizadas, além de organizar uma coletiva de imprensa com os responsáveis pela operação, que estiveram in loco. Não havendo, portanto, qualquer restrição de acesso à informação relacionada à ocorrência. Sobre a ação policial, além das medidas de Polícia Militar Judiciária adotadas, a instituição instaurou um Inquérito Policial Militar".
Domínio de cidades
O modo de agir dos integrantes da quadrilha de roubos é denominado como “domínio de cidades”. Neste tipo de prática, os criminosos utilizam práticas para impedir que as forças de segurança possam reagir e também colocam em risco a população.
A explicação é do comandante do Batalhão de Operações Especias (Bope), tenente-coronel Rodolfo César Morotti Fernandes. Em entrevista ao g1, ele explicou que a ação dos homens mortos no Sul de Minas é diferente da chamada de “novo cangaço” e é, na verdade, a denominada “domínio de cidades”.
Parte das armas utilizadas pelos integrantes da quadrilha de roubos a bancos motos em Varginha (MG) — Foto: Franco Junior/g1 |
Armamento apreendido durante operação da PM e PRF que resultou na morte de 25 suspeitos de roubo a bancos em Varginha (MG) — Foto: Tarciso Silva/EPTV |
“Nesse contexto de atuação criminosa, o ‘novo cangaço’ subintende a ações de menor vulto. Ações de quadrilhas menores, com menor poderio bélico e em cidades menores”, disse ao g1.
“O domínio de cidades seria uma evolução do novo cangaço, seria uma forma mais violenta, com mais material empregado, mais efetivo por parte dos criminosos. Ou seja, onde ele teria que dominar a cidade impedindo uma reação imediata da força de segurança, onde ele teria tempo para concretizar a ação criminosa. Basicamente a diferença entre novo cangaço e domínio de cidades seria isso: a quantidade de agentes e esse ânimo em impedir qualquer reação por parte da força de segurança local”, completou.
Por Cristina Moreno de Castro e Carlos Eduardo Alvim, g1 Minas e TV Globo — Belo Horizonte
03/11/2021 11h58 Atualizado há 57 minutos
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