Ministro israelense trabalha para incluir Palestina nos Acordos de Abraão
Foto: Thaer Ghanaim/Autoridade Nacional Palestina/AP |
Os Acordos de Abraão, assinados em 2020 e responsáveis pela normalização de laços entre Israel e ex-adversários, continuam a produzir cenas impensáveis anos atrás. Nas últimas semanas, marroquinos e israelenses anunciaram inédita cooperação em defesa e, em conferência sobre geopolítica no Bahrein, o ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, conversou informalmente com o diplomata Itay Tagner, num raro diálogo entre países sem relações diplomáticas.
A interação entre o israelense e o indonésio, flagrada por jornalistas, alimentou especulações sobre possíveis adesões à caravana política a redesenhar, em passos iniciais, o cenário de um conflito renitente. Despontam como primeiros signatários dos acordos Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão.
A bolsa de apostas sobre novas adesões inclui Indonésia, Mauritânia e Omã. Sobre o cenário do Oriente Médio, declarou Issawi Frej, ministro israelense da Cooperação Regional: “Vários Estados da região esperam assinar os acordos, e Israel está em contato com quase todos”.
Integrante da comunidade árabe (cerca de 20% da população israelense), Frej deseja convencer a Autoridade Nacional Palestina, comandada por Mahmoud Abbas, a embarcar na movimentação diplomática. “Os acordos de normalização com Estados árabes, no ano passado, deviam incluir os palestinos”, observou, em entrevista à rádio Kan, de Israel.
Filiado ao esquerdista Meretz, partido da coalizão governista, Frej carrega credenciais de um ativista pelo diálogo. Destacou-se como tenaz defensor dos fracassados Acordos de Oslo, firmados por israelenses e palestinos em 1993.
Em meados de novembro, participou da conferência de doadores internacionais à ANP, na capital norueguesa, e reuniu-se com lideranças palestinas, como o premiê Mohammad Shtayyeh.
“Embora as condições para um processo diplomático pleno possam ainda não estar prontas, não devemos nem podemos permanecer inertes”, discursou Frej na Noruega. O ministro israelense, em sua tarefa, enfrenta a desconfiança palestina em relação aos Acordos de Abraão e a resistência de integrantes do governo israelense a retomar diálogo com Abbas, a quem acusam de não ser “parceiro confiável”.
Costurado em junho, o governo de Israel corresponde a um caleidoscópio ideológico, com oito partidos, da direita à esquerda, incluindo a Lista Árabe Unida, de orientação islâmica. Uniram-se para interromper a hegemonia do direitista Binyamin Netanyahu, iniciada em 2009.
Divergências programáticas não impediram a decolagem da coalizão liderada pelo premiê Naftali Bennett, contrário à criação de um Estado palestino. No entanto, outros expoentes do governo, como o chanceler Yair Lapid e o ministro da Defesa, Benny Gantz, defendem a solução de dois países para resolver a questão israelo-palestina.
Além de travas impostas pela diversidade ideológica do governo israelense, as iniciativas de Frej para expansão dos Acordos de Abraão esbarram na desconfiança de Mahmoud Abbas pelo fato de o processo diplomático ter alterado uma lógica a predominar antes no mundo árabe: a de que aproximações com Israel estariam condicionadas à resolução do conflito israelo-palestino.
A visão de Frej, de insistir na inclusão palestina nos Acordos de Abraão, faz sentido. A realidade médio-oriental muda rapidamente e seu redesenho precisa, sem dúvida, incluir o conflito entre israelenses e palestinos. Não se pode desperdiçar mais uma chance de alcançar a paz.
Folha de S. Paulo
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