MTST faz novo almoço com camarão em ocupação de SP após polêmica
Foto: Jardiel Carvalho/Folhapres |
Após alvoroço político nas redes sociais, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) organizou, na tarde deste domingo (21), um novo almoço com camarão seco doado por apoiadores para moradores da ocupação Carolina Maria de Jesus, no bairro Jardim Iguatemi, na zona leste de São Paulo.
O ingrediente repercutiu nas últimas semanas, após circular uma foto que mostra o ator e cineasta Wagner Moura comendo uma marmita que tinha camarão servida em evento organizado pelo MTST na ocupação, no último dia 12.
“O trabalhador precisa se alimentar e tem direito de comer camarão, e não só camarão, mas carne, bife, o que quiser”, diz Claudia Garcez, coordenadora estadual e organizadora da ocupação. “Esse pensamento de que pobre tem que ir pra fila do osso é genocida.”
Membro da coordenação nacional do MTST e colunista da Folha, Guilherme Boulos (PSOL) esteve no evento e disse que decidiram fazer o almoço deste domingo como um ato de resistência e em resposta às críticas. “Essas pessoas que estão do outro lado não engolem quando veem um sem teto comendo camarão, quando veem que tem cinema dentro de uma ocupação. Mas essas mesmas pessoas não deram um pio sobre a fila do osso.”
Foram distribuídas 300 refeições, todas elas com o camarão seco, como acarajé, caruru e moqueca de língua.
“Por isso, vai ter camarão sim, vai ter acarajé. A gente não pode aceitar que essa elite brasileira queira dizer o que o povo brasileiro pode comer ou não”, disse.
“A gente está lutando contra a fome que esse governo trouxe para as famílias que têm sentido na pele toda a crise econômica nessa pandemia e contamos com a solidariedade de chefs e instituições que estão ajudando a fazer esse evento”, diz Garcez.
O almoço deste domingo foi organizado pela chef Bel Coelho e por Beatriz de Sousa, dona do restaurante Acarajazz, que doou as refeições do último evento no local. Todos os ingredientes, incluindo o camarão seco, foram doados por apoiadores, entre eles, quitandas, instituições, restaurantes e chefs como Alex Atala.
A foto de Wagner Moura, publicada nas redes sociais por Boulos, mostrava o diretor de “Marighella” comendo, em uma marmita plástica, um prato que incluía camarão seco.
Em seguida, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou em seu Twitter uma crítica ao movimento por servir camarão ao que chamou de “elite do partido”.
Bolsonaristas, então, passaram a criticar o MTST pela escolha do crustáceo para o cardápio do evento que doava refeições.
“Quem gosta de ver pobre roendo osso é o Bolsonaro”, escreveu o MTST em resposta, ao lado de foto de Eduardo Bolsonaro vestido de xeque em viagem ao Oriente Médio.
O assunto logo se tornou um dos mais comentados na rede social e viralizou com o uso do termo “acarajé”.
A marmita que Moura comeu durante o evento na verdade, não era um acarajé, bolinho feito à base de feijão fradinho e frito no azeite de dendê e que leva camarão, e sim um prato com vatapá, caruru, camarão seco e salada.
Naquela ocasião, 150 refeições foram doadas: cem acarajés prontos e cinco kits com o equivalente a 50 acarajés. Esses kits tinham os ingredientes separados, para serem comidos no prato.
O camarão seco, que aparece em receitas como bobó, moqueca e pirão, é mais fácil de ser encontrado em mercados e é mais barato do que o camarão rosa grande ou um camarão tigre, por exemplo.
Segundo a chef Bel Coelho, o camarão é parte do acarajé, de raiz africana, e base de muita comida popular e de terreiro. “Alguns camarões, como os carnudos, são, de fato, mais caros. Mas quando ele passa por um processo de secagem ou de defumação, fica mais barato.”
“A ideia [do almoço] não é devolver nem reagir, é uma pauta positiva para falar da identidade alimentar do Brasil”, diz. “No fim, as pessoas não estão criticando os pobres só porque comeram camarão, mas estão criticando a comida afro-brasileira, a comida de terreiro, de santo.”
“O acarajé é uma receita que resgata a cultura do nosso povo. A maioria dos moradores da ocupação são mulheres negras e nordestinas. Nada mais justo do que oferecer uma comida que representa um símbolo de resistência”, diz Beatriz de Sousa, do Acarajazz.
Nathalia Durval / Folha de São Paulo
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria.