Presidente da Fundação Palmares diz que Dia da Consciência Negra é racista
Foto: Reprodução/Twitter/Arquivo |
Presidente da Fundação Palmares, instituição responsável pela promoção e preservação de manifestações culturais negras, Sérgio Camargo ironizou o Dia da Consciência Negra, comemorado neste sábado (20).
No Twitter, ele chamou a data de “Dia da Vitimização do Negro”, “Dia da Mente Negra Escravizada pela Esquerda” e “Dia do Culto ao Ressentimento pelo Passado”. Não é uma atitude nova desde que o jornalista de formação assumiu o órgão —em anos anteriores ele, ironicamente, chamou o feriado de “Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo” ou ainda de “Dia da Falsa Abolição”.
Também repetindo uma postura recorrente em relação à data, Camargo qualificou a celebração como racista e preferiu exaltar o Dia da Abolição da Escravatura e a figura da princesa Isabel.
O 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola que também dá nome ao órgão. A data se contrapõe ao 13 de maio de 1888, que marca o fim da escravidão no Brasil e que, até os anos 1970, era o principal dia de comemoração da luta negra no país.
A partir daquela década, porém, movimentos negros formado por ativistas e estudantes, como o Grupo Palmares e o Movimento Negro Unificado, passaram a questionar a escolha da data por pessoas brancas. A figura do quilombola surgiu então em oposição à da princesa Isabel, uma mulher branca supostamente redentora.
Camargo aproveitou para relembrar uma entrevista que deu em 2019, pouco depois de assumir a presidência da Fundação Palmares, em que defendeu o fim do Dia da Consciência Negra. “Não se trata de ‘esnobar’ a data, mas de expor sua real motivação: sob o disfarce de ‘combate ao racismo’, tentam segregar negros, despertando ódios e ressentimentos”, escreveu ele.
Até a famosa frase de Morgan Freeman, sobre a consciência humana e o fim do racismo, surgiu entre as suas publicações.
Militantes do movimento negro questionam a nomeação de Camargo, bolsonarista que não nega apenas a importância de Zumbi de Palmares como outras lutas históricas da comunidade negra, para a presidência da entidade.
Há dois anos no cargo, ele vem empreendendo uma cruzada ideológica lá. Entre as medidas tomadas estão a exclusão de 27 negros de lista de personalidades homenageadas pela instituição, como os cantores Elza Soares e Gilberto Gil e a escritora Conceição Evaristo, e a publicação de um relatório segundo o qual metade do acervo da biblioteca da entidade seria excluído por ser marxista. Entre os autores citados no documento estavam Max Weber, Eric Hobsbawn, H. G. Wells, Celso Furtado e Marco Antônio Villa.
Em outubro, Camargo foi afastado pela Justiça das atividades relacionadas à gestão de pessoas da instituição após uma série de denúncias de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários da fundação.
Folha de S. Paulo
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