Simone Tebet se lança pré-candidata à Presidência pelo MDB e critica líderes que dividem país
Foto: Divulgação/ MDB |
Tebet fez um discurso com ataques ao governo de Jair Bolsonaro e disse ter uma missão. “Essa missão tem um clamor, o clamor da urgência, porque o povo brasileiro está morrendo de fome”, afirmou.
“Depois de centenas de milhares de brasileiros terem morrido na pandemia por uma saúde pública omissa, insensível e negacionista.”
A senadora também atacou a política ambiental do governo Bolsonaro. Representante da bancada ruralista, ela defendeu o agronegócio e pediu o fim da dicotomia entre a agricultura e a preservação do meio ambiente.
“Temos uma política ambiental desastrosa, leniente com o crime, com a grilagem, com a destruição da nossa biodiversidade. Essa leniência não queima apenas a nossa mata e a nossa biodiversidade.”
“Queima a credibilidade do agronegócio brasileiro, que é sério sim, que prega a sustentabilidade e sustenta o Brasil e o mundo. É preciso acabar com essa dicotomia”, afirmou.
A candidatura foi lançada em meio à descrença de parte do mundo político, inclusive dentro do MDB, de que ela seja mantida até as eleições. Muitos cogitam que o partido busca marcar posição e depois barganhar uma composição de chapa, incluindo a possibilidade de indicar um vice-presidente.
Questionada sobre tal possibilidade e sobre as chances de sua candidatura caminhar até o fim, a senadora respondeu que não existe plano B. E disse que as chances de seu pleito prosperar são as mesmas de outros pré-candidatos do campo da terceira via.
“[A chance de minha candidatura prosperar é] a mesma chance de qualquer partido que está lançando candidatura própria na chamada frente democrática”, disse a parlamentar.
“Nós temos as nossas divergências, mas vamos convergir em um projeto maior lá na frente”, completou.
O evento, realizado em um hotel em Brasília, contou com a presença de governadores, como Ibaneis Rocha (DF) e Helder Barbalho (PA), e de líderes do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), e no Senado, Eduardo Braga (AM). Também estava presente o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes.
Algumas ausências eram esperadas, como as dos líderes do governo Eduardo Gomes (TO) e Fernando Bezerra Coelho (PE).
Outras, como a do senador Renan Calheiros (AL), um dos principais caciques do partido, evidenciam parte da resistência sofrida pela senadora no MDB. O relator da CPI da Covid é próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Em entrevista após o evento, a senadora minimizou as divergências internas no partido, afirmando que se trata da “largada da candidatura”, de “colocar o bloco na rua”. Disse que, no momento oportuno, o MDB estará unido.
“Estamos iniciando uma caminhada. O MDB é o maior partido do Brasil. Não é possível falar em unanimidade, seria contra tudo o que o partido sempre pregou. O MDB é o partido da diversidade, mas que tem a capacidade de convergir naquilo que é essencial. O MDB vai estar unido no momento oportuno”, disse a senadora.
O evento foi aberto pelo presidente do partido, Baleia Rossi (SP), que fez uma votação simbólica da aprovação da pré-candidatura às eleições de 2022.
“O país não aguenta mais a polarização, essa política do ódio, de colocar um contra os outros. Não queremos mais salvadores da pátria, heróis fabricados”, em referência indireta ao ex-juiz Sergio Moro, que se filiou ao Podemos e deve ser o nome do partido à disputa presidencial.
“Queremos uma pessoa que tenha experiência, que saiba como as leis são criadas, como são os debates políticos no orçamento, como se faz o debate com o Executivo.”
Em um vídeo exibido no início do evento, a agora pré-candidata critica duramente o presidente Jair Bolsonaro por atuar contra o meio ambiente, a governança, transparência e a ciência.
Nesse momento é reproduzida a fala do chefe do Executivo, que afirma que quem toma vacina contra a Covid-19 pode virar jacaré.
Por outro lado, apesar da crítica à polarização, o nome do candidato do outro extremo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não foi mencionado. Questionada sobre o assunto após o evento, a senadora respondeu que não vai “poupar e nem defender quem quer que seja”.
“A confiança no país diminui, a credibilidade do país desaba. Quando o mundo vai no caminho da sustentabilidade, da governança, da transparência, quando a ciência aponta um caminho, o governo nega, questiona, ridiculariza”, afirma a senadora no vídeo reproduzido.
“Chega de líderes que dividem o país ao meio e promovem o nós contra eles. O sonho de um país forte começa pela união. O papel de um presidente é promover a paz e a concórdia”, completou.
Embora não estivesse presente, o ex-presidente Michel Temer gravou um vídeo desejando sucesso para Simone Tebet e pediu para que, durante a campanha, ela resgate as posições do partido e suas contribuições para a sociedade.
Citou, neste ponto, o apoio a medidas de responsabilidade fiscal, como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O ex-presidente também repetiu a tônica do evento, de que é preciso pregar a pacificação. Disse que de políticos que dividem o país já “há vários que se lançaram candidatos”.
“O povo brasileiro não quer pessoas que dividem o país. Querem uma palavra de tranquilidade, uma palavra de segurança jurídica, de harmonia. É isso que os brasileiros querem”, disse Temer.
“É importante para mostrar aos brasileiros que o que se quer é paz para que possam todos trabalhar. É otimismo e não pessimismo. Não é pessimismo e não é divisão do país. Para a divisão do país, já há vários candidatos que se lançaram”, completou.
Integrantes da terceira via também compareceram ao lançamento da pré-candidatura de Tebet. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o MDB é “parceiro de história da política nacional, um dos partidos mais importantes do processo de redemocratização brasileira”.
Ele afirmou que a iniciativa do MDB era “das mais importantes” por lançar como pré-candidata uma mulher.
“E nosso momento é um momento de vir cumprimentar o MDB, desejar boa sorte à senadora Simone Tebet”, afirmou. “E que os meses seguintes até a construção das convenções possam permitir ou não uma construção maior nesse campo do centro.”
Bruno Araújo defendeu ainda que se avalie “se é possível diminuirmos o número de candidaturas no campo do centro.”
“Mas no momento é o momento de respeitar esse movimento das demais candidaturas e aguardar o processo de construção que acontece com naturalidade”, complementou.
O lançamento da pré-candidatura de Simone Tebet marca uma tentativa de renovação dentro do partido, que teve início com a eleição de Baleia Rossi para a presidência da executiva nacional do partido.
Para tentar combater a imagem de um partido elitista, de caciques políticos, o evento teve um forte apelo pela diversidade e tolerância. A apresentadora era uma mulher negra. Participaram do evento os núcleos MDB mulher, afro e diversidade.
Renato Machado e Danielle Brant, Folhapress
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