Norte e Centro-Oeste tiveram mais reinfecções por Covid, aponta Datafolha
Foto: Edmar Barros/Folhapress/Arquivo |
No total, foram entrevistados por telefone 2.023 brasileiros de 16 anos ou mais em todos os estados, na quarta (12) e na quinta-feira (13), com margem de erro de dois pontos percentuais. A pesquisa não separa essas duas regiões porque não haveria um número suficiente de entrevistas para uma análise segura.
Elas registram também o maior percentual de pessoas que afirmam ter se infectado, com ou sem a confirmação do teste —foram 41%, diante de 28% no Sudeste e no Nordeste e de 27% no Sul. Têm ainda a maior parcela de pessoas que ficaram doentes e não fizeram o exame (9%).
Segundo o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, provavelmente se veria uma diferença ainda maior nas reinfecções do Norte caso os dados fossem desagregados, porque ali a epidemia se comportou de forma mais agressiva do que no Centro-Oeste, com a variante gama.
Há um ano, Manaus viveu um colapso do seu sistema de saúde, com mortes de pacientes por asfixia em hospitais que ficaram sem oxigênio diante da alta demanda. No primeiro trimestre de 2021, foram 6.600 mortes no Amazonas, um dos índices per capita mais elevados do mundo.
“Outra explicação pode ser a composição demográfica do Norte e Centro-Oeste, pois eles possuem populações mais jovens do que o Sul, por exemplo, e sabemos que o vírus circulou mais nos menores de 50 anos e matou mais nos maiores de 50”, acrescenta Orellana.
Nessa duas regiões, 3% dos entrevistados dizem ter pegado Covid nos últimos 30 dias, quando a variante ômicron causou uma explosão de casos (outros 5% não sabem se pegaram).
A nova onda parece também ter atingido de forma mais forte o Sudeste, com 4% de infectados e 2% que não sabem. Na região, mais de um terço dos entrevistados responderam que algum amigo próximo pegou a doença nesse período.
A Folha mostrou neste sábado (15), com base na mesma pesquisa, que os brasileiros que afirmam ter contraído Covid são quase o dobro da cifra oficial registrada pelos estados. Uma em cada quatro pessoas com 16 anos ou mais relata ter obtido teste positivo, o que representaria 42 milhões, contra 23 milhões de casos notificados sem distinção de idade.
Esse nível de subnotificação é quase o mesmo em todas as regiões, exceto no Sul, onde apenas 14% dos casos com comprovação em exame não teriam entrado nas estatísticas dos governos, segundo a projeção do levantamento. Ainda assim, seria o equivalente a 736 mil casos não contabilizados só ali.
Contribuem para isso a falta de uma política de testagem durante os dois anos de pandemia no país e o apagão de dados que ocorre no Brasil desde que os sistemas do Ministério da Saúde foram derrubados por ataques de hackers, em dezembro.
O detalhamento da pesquisa do Datafolha por região mostra ainda que o Sul tem uma maior rejeição às vacinas contra a Covid, tanto em adultos (4% não se imunizaram e não pretendem) quanto em crianças (21% acham que elas não deveriam ser vacinadas).
A região tem ainda a maior parcela de pessoas que dizem não sentir medo do vírus (22%), só usar máscara de vez em quando ao sair de casa (17%) e ser contrárias à cobrança da vacinação para entrar em locais fechados, como escritórios, bares, restaurantes e shows (22%) —esses índices são parecidos no Centro-Oeste/Norte.
“A danosa narrativa antivacina é mais comum em populações conservadoras. A região Sul do Brasil foi a que mais votou no presidente Jair Bolsonaro [PL], ao lado da Centro-Oeste. Como ele ataca as vacinas até hoje, me parece razoável esse lamentável cenário”, afirma Orellana.
Apesar da rejeição à imunização apontada no levantamento, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm uma cobertura vacinal superior à do Brasil como um todo. Orellana pondera, porém, que não é possível fazer comparações entre esses dois dados por não terem a mesma representatividade.
“Parte das baixas coberturas vacinais da região Norte, por exemplo, poderia ser explicada por problemas com a geração e transmissão do dado ou pela falta de acesso aos serviços de saúde, o que é muito comum no vasto interior da Amazônia e mesmo em grandes metrópoles como Manaus e Belém”, diz.
Júlia Barbon, Folhapress
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