Médico diz ser ‘absurdo’ Brasil ainda não adotar remédio contra Covid e defende que SP negocie compra
Foto: Josué Damascena/Arquivo/Fiocruz |
Os médicos do comitê de combate à Covid-19 que aconselham o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), têm defendido a necessidade de compra imediata de medicamentos que têm eficácia comprovada contra a doença.
Entre as drogas que efetivamente funcionam e que já são adotadas nos EUA, no Reino Unido e na União Europeia estão os antivirais Paxlovid, Molnupiravir e Remdesivir.
“É um absurdo que, depois de dois anos de pandemia, o Brasil ainda não disponibilize tratamentos eficazes aos pacientes”, diz o infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP. “Temos cerca de 800 pessoas morrendo por dia no país, e remédios que poderiam salvá-las não são ainda usados por aqui. É inacreditável”, completa.
Ele afirma que o molnupiravir, por exemplo, já é usado até mesmo na Venezuela, país que passa por todo tipo de dificuldade. “Não tem sentido o Brasil ainda estar na fase de discussão desse assunto”, diz. “Não tem justificativa.”
A Anvisa já aprovou pelo menos quatro substâncias (o antiviral Redemsivir e três tratamentos monoclonais, que são proteínas produzidas em laboratórios) que funcionam contra a Covid. Nenhuma delas, no entanto, foi incorporada ao SUS.
O Paxlovid e o Molnupiravir ainda estão em análise pela agência, mas dificilmente serão barrados —eles que já estão sendo usados em países com larga tradição de fiscalização de medicamentos. Por isso, os médicos defendem que as tratativas com os laboratórios avancem imediatamente.
Esper Kallás afirma que o Paxlovid, primeira terapia domiciliar contra o coronavírus autorizada e já amplamente adotada nos EUA, tem 89% de eficácia contra internações e óbitos por Covid. O Remdesivir, 86%. “São menos doentes da doença nos hospitais, o que nos permitiria retomar tratamentos de outras enfermidades e salvar ainda mais vidas”, afirma.
O natural seria a compra dos medicamentos pelo Ministério da Saúde, que tem mais recursos e poder de negociação. Ao adquirir grandes quantidades para todo o Brasil, a pasta conseguiria abaixar os preços dos remédios.
Diante da morosidade vista até agora, no entanto, os especialistas defendem que o governo de São Paulo tome a dianteira e já comece as tratativas para a compra dos medicamentos.
“O estado de São Paulo tem um histórico de primazia e vanguardismo na adoção de políticas públicas. E deve agir, como sempre fez. Em muitas ocasiões da história, o estado ditou normas que foram inovadoras e depois incorporadas pelo Brasil inteiro, impulsionando as políticas de saúde do país”, afirma o infectologista. “Não podemos mais ver pessoas morrendo. Não podemos ficar parados”, finaliza.
Mônica Bergamo/Folhapress
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