Para lidar com a Ucrânia, ministro das Relações Exteriores desmarca reunião com Fachin
Foto: Divulgação/O ministro das Relações Exteriores, Carlos França |
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, desmarcou uma reunião com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, prevista para as 16h30 desta sexta-feira, 25, por causa das demandas diplomáticas do Itamaraty em relação ao conflito militar na Ucrânia. O encontro com o magistrado tinha como objetivo discutir a presença da Corte em missões internacionais de observação eleitoral.
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o presidente do TSE afirmou que a Justiça Eleitoral brasileira já poderia estar sob ataque da Rússia. O foco das investidas seriam os sistemas da instituição, e não as urnas eletrônicas. Interlocutores de Fachin disseram ao Estadão que as ameaças russas à segurança das eleições não estavam previstas na pauta da reunião de hoje, que deveria focar também nos eleitores brasileiros no exterior.
As negociações de França com o TSE ficaram em segundo plano diante da sobrecarga de reuniões com as quais o Itamaraty tem tido que lidar. O chanceler brasileiro tem sido pressionado a apresentar a posição oficial do Brasil no conflito armado que escala rapidamente no leste europeu. O ministro recebeu uma ligação do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na manhã desta sexta-feira, 25, na qual discutiram os rumos que o governo federal deve seguir ao tratar do avanço de tropas russas sobre o território ucraniano.
As autoridades discutiram formas de “restaurar a paz e impedir que a população civil continue a sofrer as consequências do conflito”, conforme declarou o Itamaraty. Os Estados Unidos desejam que o governo brasileiro condene publicamente a ação militar da Rússia na Ucrânia e se alinhe mais claramente ao discurso crítico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) às decisões do presidente russo, Vladimir Putin.
As potências ocidentais avaliam ser necessário reunir todo apoio possível contra a incursão russa, sobretudo de um país como Brasil, que recuperou um assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Em caso de resposta às agressões russas, o Brasil pode ser instado a votar por uma operação de contra- ataque.
Embora França esteja em contato com lideranças políticas e diplomatas alinhados ao discurso defendido pelo Ocidente, o seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro (PL), tem resistido a condenar o posicionamento de Putin, com quem se reuniu no Kremlin (sede do governo russo) há pouco mais de uma semana. Na ocasião, o governante brasileiro declarou ser “solidário à Rússia”.
Em live realizada nesta quinta-feira, 24, Bolsonaro ainda desautorizou o vice-presidente, Hamilton Mourão, que se manifestou publicamente contra a ação militar russa no território ucraniano ao declarar que o Brasil não é neutro no conflito armado entre os dois países. O chanceler brasileiro esteve ao lado do presidente na transmissão ao vivo, mas não opinou sobre a chegada de tropas russas na Ucrânia, inclusive em regiões próximas à capital Kiev.
“Deixar bem claro: o artigo 84 da Constituição diz que quem fala sobre esse assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso – e falou mesmo, eu vi as imagens – está falando algo que não deve. Não é de competência dela. É de competência nossa”, afirmou Bolsonaro.
Estadão Conteúdo
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