SBU recomenda mutirão de cirurgias de fimose nas capitais do Norte/Nordeste para reduzir amputações por câncer de pênis
Hábitos adequados de higiene íntima são a melhor forma de prevenir a doençaDr. Augusto Modesto/Foto SBU |
O câncer de pênis apresenta prevalência considerável no Brasil, em especial nas regiões Norte e Nordeste, onde as condições socioeconômicas e a baixa escolaridade da população favorecem a má higiene íntima dos homens, principal fator de risco da doença. Só em 2021, foram registrados mais de 1.700 casos desse tipo de tumor no país, sendo 139 na Bahia. Em 14 anos, houve um aumento de 1.604% de amputações do órgão. Apesar disso, o país ainda não dispõe de um programa preventivo ou políticas públicas específicas que estimulem a prevenção e o diagnóstico precoce. O resultado dessa lacuna é a realização de cerca de mil amputações penianas por ano. Para reduzir esse número e facilitar o diagnóstico da doença em estágios iniciais, quando as chances de cura sem a necessidade de mutilação são maiores, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) decidiu aproveitar o Dia de Conscientização e Prevenção do Câncer de Pênis, celebrado em 4 de fevereiro, para propor a realização de mutirões de postectomias (cirurgias para correção de fimose) em todas as capitais do Norte/Nordeste. O procedimento de média complexidade reduz consideravelmente as chances de desenvolvimento desse tipo de tumor urológico.
De acordo com o presidente da SBU-BA e atual coordenador do serviço de urologia do Hospital Aristides Maltez, Augusto Modesto, a fimose é um dos fatores de predisposição à gênese da doença, pois dificulta a higiene adequada e a detecção precoce de lesões malignas e pré-malignas. “Por isso, a proposta de realizar um mutirão de postectomias para beneficiar homens de baixa renda e escolaridade deve ser considerada com seriedade pelos gestores de saúde do Estado e municípios baianos. Vale ressaltar que de 2020 a 2021, houve uma diminuição no diagnóstico do câncer de pênis na ordem de 20% devido à pandemia de Covid-19. “Precisamos ter consciência de que mesmo com as limitações impostas pelo atual momento da pandemia, o atendimento, diagnóstico e tratamento de outras doenças não podem parar”, declarou o uro-oncologista.
Câncer de penis/Foto/SBU |
A postectomia é uma operação simples e rápida. Quando a circuncisão é realizada na infância, a redução do risco de desenvolver o câncer de pênis é comprovada. Já na fase vida adulta, o procedimento não previne a doença, mas facilita o diagnóstico precoce, reduzindo a morbidade dos tratamentos cirúrgicos, o impacto na autoestima e a perda total do órgão. Bons hábitos de higiene reduzem o risco tanto em homens que realizaram quanto nos que não realizaram a cirurgia. A limpeza diária do órgão com água e sabão, principalmente após as relações sexuais e a masturbação, é a melhor forma de prevenção. Por isso, “é muito importante ensinar aos meninos desde cedo os hábitos de higiene íntima, que devem ser praticados todos os dias. Além disso, o uso da camisinha em qualquer relação sexual é outra forma fundamental de prevenção, já que o preservativo diminui a chance de contágio de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como o HPV, outro fator associado para o câncer de pênis”, frisou Augusto Modesto.
O sintoma mais comum do tumor peniano é o aparecimento de uma ferida ou úlcera persistente, principalmente na região da glande ou prepúcio. Em alguns casos, pode haver, ainda, perda de pigmentação ou manchas esbranquiçadas, secreções e mau cheiro, tumoração no pênis e/ou na virilha (íngua), além de inflamações de longo período, com vermelhidão e coceira, principalmente nos portadores de fimose. Se diagnosticado em estágio inicial, o câncer de pênis apresenta elevada taxa de cura. “Infelizmente, os pacientes levam em torno de oito meses a um ano para chegar a um médico especialista e ter sua conduta definida, depois das primeiras feridas aparecerem, o que dificulta o tratamento e reduz as chances de cura”, ressaltou Augusto Modesto. O tratamento é cirúrgico, mas pode ser seguido de aplicações de quimioterapia e/ou sessões de radioterapia, dependendo da extensão do tumor, da região onde está localizado e do prognóstico. A cirurgia é eficaz para o controle local da doença, mas se o paciente apresentar ínguas na virilha pode ser um sinal de que a doença está se espalhando.
Segundo dados obtidos com exclusividade pela SBU no Sistema de Informações Hospitalares (SIH/Datasus) do Ministério da Saúde, houve uma queda no número de registros entre 2020 (quando foram registrados 2.095 casos) e 2021 (1.791 casos). Estima-se que essa diminuição se deve à pandemia, que impactou sobremaneira a procura por tratamento médico. A região com maior número de casos nos últimos quatro anos foi o Sudeste (3.162 casos), seguido por Nordeste (2.574), Sul (1.186), Centro-Oeste (658) e Norte (645). Nesse mesmo período, a prevalência (número de casos por cada 100 mil habitantes) foi a seguinte: Nordeste (9,93); Centro-Oeste (9,42); Sul (8,82); Sudeste (8,09); Norte (8,05). Os estados com maior registro de tumor de pênis são: São Paulo (1.484), Minas Gerais (1.059), Bahia (609) e Paraná (565).
“Precisamos criar ou fortalecer políticas públicas sérias voltadas para a saúde integral do homem, com foco na prevenção e tratamento do câncer de pênis e de tantas outras doenças que acometem os homens na Bahia e em todo o Brasil. Inicialmente, as áreas de maior prevalência precisam ser mapeadas para oferta de acompanhamento especializado com urologista, com o intuito de informar e orientar o homem quanto aos cuidados com a higiene. Este acompanhamento também servirá para identificar possíveis candidatos à cirurgia de circuncisão”, finalizou o presidente da SBU-BA.
Mais informações para a imprensa podem ser obtidas com a jornalista Carla Santana pelo telefone (71) 99926-6898
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