A provavelmente chapa mais esquerdista que o governo apresentou em 16 anos, por Raul Monteiro*
A escolha do secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues (PT), como candidato à sucessão do governador Rui Costa (PT) resolveu apenas uma parte dos problemas do campo governista, ao ter, principalmente, pacificado o partido que comanda o Estado há 15 anos. A finalização da montagem da chapa, iniciada com tanto estresse, entretanto, permanece como um desafio porque parece haver poucos players interessados em participar dela, mesmo entre os aliados supostamente ressentidos do candidato adversário, ACM Neto (DEM), sobre os quais o governo lançou uma ofensiva de cooptação para tentar compensar a perda do PP para o democrata.A vaga em questão é a de vice, já que a do Senado está reservada para a tentativa de reeleição do senador Otto Alencar, do PSD, único partido de centro que ficou no time liderado pelo petismo, depois do desembarque do grupo do vice-governador pepista João Leão. Trata-se do mesmo espaço disponível hoje para negociação na chapa de Neto, que preencheu a vaga ao Senado com a candidatura de Leão. Ocorre que, enquanto no grupo do democrata a competição para a definição da vice se acirra, com os antigos aliados se acotovelando para ocupá-la e mesmo barganhando com a ameaça de deixá-lo, no entorno do candidato petista o interesse é outro.
Aqueles que se abrem para a perspectiva de romper com o ex-prefeito de Salvador e fazer o movimento contrário ao trilhado pelo PP apostam, exclusivamente, na ocupação dos cargos deixados pelo partido de Leão, que envolvem três secretarias de Estado (Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Recursos Hídricos) com suas respectivas agências e órgãos vinculados, um exército considerável de posições à disposição para preenchimento imediato. A preferência pelo bônus de fazer parte do governo em lugar do ‘ônus’ de participar da chapa encabeçada por um petista que simplesmente ‘brotou’ passa, portanto, a impor mais dificuldades à articulação governista.
O governo tem margem de manobra e, agora, mais disposição para negociar, mas pode se ressentir da indicação de quadros para preencher a vice que possuam alguma expressão eleitoral para contrabalançar o principal deficit aparente de Jerônimo. Claro que não se pode desconsiderar que, neste sentido, se assiste a uma batalha de Golias contra Davi, pela desproporção entre a força da máquina estadual aliada do petista e a da Prefeitura de Salvador comandada por Bruno Reis (DEM), parceiro mais empoderado de Neto, engessada, desde a eleição municipal, em torno da coalizão que sustenta o candidato democrata, hoje instável por estar sob ataque.
Mas, caso não consigam um parceiro para a chapa que reforce o caráter de centro que Otto já lhe empresta, os petistas terão que se contentar com opções entre os aliados tradicionais esquerdistas, como a deputada federal Lídice da Mata (PSB) ou um quadro do PCdoB. Seria um caminho forçosamente inovador mas arriscado, já que, com todo o decisivo apoio de Lula, as vitórias petistas na Bahia, lideradas primeiro por Jaques Wagner, e depois, por Rui, então fortemente aliançados, contaram com a presença decisiva do elemento do centro político na campanha, inicialmente com o MDB e, após o rompimento com o partido, em 2009, por meio do PP e do PSD.
Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*
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