ACM Neto e Bruno Reis chamam governo e Geraldo Jr. para a briga, por Raul Monteiro*

Foto: Walter Pontes/Divulgação/Arquivo

O surgimento de um opositor hábil e astuto no seio do que antes formava a sólida e harmônica aliança em torno da gestão de Salvador fortaleceu ainda mais os laços políticos e pessoais entre o prefeito Bruno Reis (UB) e seu mentor e padrinho político ACM Neto, candidato do União Brasil ao governo do Estado. Hoje, está mais evidente que nunca passou pela cabeça tanto de um quanto de outro a mais remota possibilidade de que poderiam perder o presidente da Câmara Municipal, o vereador Geraldo Jr. (MDB), para o campo adversário, apesar de, desde o princípio, o rompimento com o partido dele ter sido precificado.

Ao que os comentários indicavam à época das negociações com os emedebistas, Neto, a partir de um determinado momento, ao avaliar a vantagem de manter a relação especialmente com os irmãos Vieira Lima, teria passado a rebaixar o custo para o apoio do partido a ele na expectativa de que a sigla pudesse deixar a base da Prefeitura e migrar para a campanha petista. O que não se esperava é que a legenda levasse embarcado o presidente da Câmara, ainda mais para a condição de candidato a vice na chapa do petista Jerônimo Rodrigues, mesmo porque o repentino vôo político do vereador nunca esteve no radar do prefeito nem do candidato oposicionista.

Longe, no entanto, de buscar fazer de conta que não sentira o golpe, Neto tratou, na primeira oportunidade, de deixar claro que Geraldo Jr. perfila agora na oposição, do que a ação na Justiça contra a sua reeleição para um terceiro mandato na presidência da Câmara, protocolada pelo União Brasil, é a comprovação cabal de que colocou o vereador na destacada posição de um ex-aliado que o traiu. Para demonstrar seu descontentamento com o presidente da Câmara, o ex-prefeito passou por cima da suposição de que, por prudência, retardaria a iniciativa para mais adiante, em tese para um momento mais favorável, como na eventualidade de ganhar o governo.

A aposta na cautela objetivaria, sobretudo, blindar o governo Bruno de perseguições na Câmara, onde a liderança de Geraldo Jr. tem sido até agora incontestável, levando em conta um eventual plano velado do prefeito de ser preservado das escaramuças que os grupos do governo e da oposição já começaram a protagonizar. Mas longe de sugerir que o chefe do executivo municipal pudesse estar descolado pontualmente do interesse político de Neto neste particular, a ideia de propor o processo judicial foi debatida abertamente entre eles sem que emergisse qualquer discordância em relação à importância de os dois, mais do que nunca, ficarem unidos para marcar posição.

 Não deve ter sido por acaso que assessores passaram a ouvir recentemente de novo de Bruno que, se for para se afastar de Neto, ele prefere deixar a política. Nem que o prefeito já está decidido a ele próprio assumir o papel de articulador político do governo municipal junto aos vereadores, o que vai colocá-lo abertamente na linha de frente de eventuais enfrentamentos com Geraldo Jr. no Legislativo municipal. Aliás, ontem, a comprovar que ele e Neto permanecem juntos e misturados, Bruno inaugurou um novo estilo, de campanha, em que abriu fogo contra o governo do Estado, ao criticar a política de segurança pública na Bahia.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

 

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