Bolsonaro se reúne com WhatsApp, e ministro confirma megagrupos só após eleição
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu nesta quarta-feira (27) com representantes do WhatsApp no Brasil. Após o encontro, o ministro Fábio Faria (Comunicações) confirmou que o lançamento da nova ferramenta do aplicativo que permite grupos com milhares de pessoas somente ocorrerá após as eleições.
Mas negou que isso tenha relação com algum tipo de acordo entre a empresa e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Faria disse que a decisão sobre a ferramenta “comunidades” é global e por questões de mercado. “Totalmente comercial. As decisões que tomaram foi em cima disso, nada a ver com eleições”, afirmou o ministro. O WhatsApp ainda não se manifestou sobre a reunião.
Bolsonaro aposta nas redes sociais e em aplicativos de mensagem para promover a sua candidatura à reeleição a presidente. Ele tem desacreditado o sistema eleitoral e dito que ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE querem limitar a atuação das redes e de seus apoiadores.
Bolsonaro declarou no último dia 16 que iria propor uma reunião com o comando do WhatsApp no Brasil para discutir com a plataforma os termos do acordo deles com o TSE sobre a nova ferramenta.
Nesta quarta, Faria disse que o acordo é apenas sobre “treinamento” e para “explicar a nova plataforma”. O “comunidades” só deve começar a funcionar no Brasil após o segundo turno das eleições. Bolsonaro já disse que um acordo para atrasar o lançamento da ferramenta seria “inadmissível e inaceitável”.
“Se eles [do WhatsApp] podem fazer um acordo desses com o TSE, podem fazer comigo também, por que não? Pode fazer com você, pode fazer com qualquer um. No Brasil, ou um produto está aberto a todo mundo ou tem restrição para todo mundo”, disse Bolsonaro no último dia 16.
Um dia antes, havia feito ataques e ameaças.
“E já adianto que isso que o WhatsApp está fazendo no mundo todo, sem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade no Brasil, isso é inadmissível e inaceitável”, disse em meio a uma motociata no interior de São Paulo. “Não vai ser cumprido esse acordo que porventura eles realmente tenham feito com o Brasil com informações que eu tenho até esse momento.”
O WhatsApp lançou em estágio experimental o novo recurso. Na prática, trata-se de um grande grupo de grupos, que pode ter milhares de membros, com toda a comunicação criptografada. Hoje, cada grupo de WhatsApp tem, no máximo, 256 integrantes. O recurso estará em teste com alguns usuários nos próximos meses.
Em entrevista à Folha, Will Cathcart, presidente global do WhatsApp, disse não temer que o “comunidades” signifique um retrocesso na luta contra a desinformação. O WhatsApp se comprometeu com o TSE a não estrear as “comunidades” no Brasil antes do eventual segundo turno da eleição presidencial, marcado para 30 de outubro.
A empresa, porém, não promete segurar o lançamento das comunidades entre o segundo turno e a posse presidencial no Brasil. Nos Estados Unidos, na eleição presidencial de 2020, grande parte da desinformação que culminou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro circulou após a votação, principalmente pelo YouTube. No Brasil, o WhatsApp foi o principal veículo de desinformação política na eleição de 2018.
Mateus Vargas/Folhapress
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