EUA promovem maior aumento de juros desde 1994
O
Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmou nesta quarta-feira
(15) um aumento de 0,75 ponto percentual na sua taxa de juros
É a maior alta aplicada pela autoridade monetária dos Estados Unidos desde 1994, indicando uma postura mais agressiva do órgão no enfrentamento à maior inflação no país em quatro décadas.
Esse ajuste leva a taxa de referência do Fed para o empréstimo diário entre bancos (parâmetro para o setor de crédito em geral) a um intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano.
Ao continuar nesse passo, o Fed poderá chegar a uma taxa de até 2,5%, em setembro, e de até 3,5% em dezembro. Isso representaria o intervalo mais agressivo de aperto da política monetária americana desde a década de 1980, segundo análise do The Wall Street Journal.
Também nesta quarta, o Copom, comitê responsável por formular a política monetária do Banco Central do Brasil, apresentará sua decisão sobre a taxa básica de juros do país, a Selic. O aumento no custo do crédito nos Estados Unidos pode afetar a taxa brasileira.
O mercado financeiro vem sendo pressionado nos últimos dias pelo sentimento cada vez mais forte de que a inflação mundial está descontrolada e provocará uma alta global de juros capaz de colocar as principais economias à beira da recessão.
Refletindo o ambiente de aversão aos investimentos de risco nesta terça-feira (14), o dólar comercial subiu 0,43%, a R$ 5,1350 na venda, renovando a sua maior cotação frente ao real em um mês.
A Bolsa de Valores brasileira chegou à oitava queda consecutiva. O índice de referência Ibovespa perdeu 0,52% nesta sessão, encerrando o dia com a pontuação de 102.063, a mais baixa desde 6 de janeiro.
O mergulho de 9,19% do mercado de ações doméstico desde a última alta, em 2 de junho, tem forte relação com o cenário internacional, embora o governo brasileiro também tenha reforçado a percepção de investidores quanto ao risco fiscal ao colocar em pauta uma proposta de desoneração dos combustíveis.
O estresse que tomou conta dos mercados nos últimos dias ganhou força na última sexta-feira (10), quando dados da inflação americana vieram acima do esperado, reforçando o sentimento de que autoridades monetárias em todo o mundo terão de acelerar ainda mais suas respectivas taxas de juros.
Essa situação tende a valorizar moedas fortes, sobretudo o dólar, e tirar investimentos de ações de empresas negociadas nas Bolsas.
ALTA DOS JUROS NOS EUA TIRA INVESTIMENTOS DOS MERCADOS MUNDIAIS
O aperto monetário —o que significa tornar o crédito mais caro para, assim, esfriar o consumo e desacelerar a inflação— nos Estados Unidos aumenta o rendimento dos títulos do Tesouro americano, considerado o investimento mais seguro do planeta.
Isso leva investidores a diminuírem suas aplicações em mercados mais arriscados, como as Bolsas de Valores. É um momento em que o mercado quer tirar proveito da renda fixa mais atrativa nos EUA.
Esse aumento do fluxo de dólares em direção aos títulos soberanos nos Estados Unidos torna a moeda mais escassa e cara, provocando uma reação em cadeia no mundo dos negócios.
Em países de economia emergente, como o Brasil, a alta do dólar eleva custos de importação e faz disparar a inflação.
Bancos Centrais são forçados a elevar juros para convencer investidores de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.
O principal problema desse movimento é a falta de liquidez no mercado, uma vez que investidores passam a ter a chance de obter ganhos confortáveis com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo. O dinheiro que sai das Bolsas faz falta para as empresas, pois elas perdem capital com a queda das suas ações e deixam de crescer e gerar empregos.
Mas a crise atual é ainda mais difícil de se enfrentar porque o aperto ao crédito não é o único remédio capaz de frear a inflação. Ainda como consequência das paralisações de atividades provocadas pela pandemia de Covid, o mundo enfrenta a falta de bens e insumos.
A alta de preços, portanto, precisaria também ser combatida com o aumento da oferta. Mas há ao menos dois grandes impedimentos para a normalização da comercialização global de mercadorias.
Em primeiro lugar, a China, que concentra boa parte da produção de bens industrializados do mundo, mantém severas restrições ao funcionamento de empresas para tentar conter as infecções pelo coronavírus.
Além disso, a guerra na Ucrânia reduziu a oferta de petróleo e fez o preço da matéria-prima disparar, uma vez que a produção russa foi banida dos Estados Unidos e de parte da Europa. Também devido ao conflito, a produção de grãos da Ucrânia enfrenta obstáculos para ser escoada, colaborando com o aumento global dos preços dos alimentos.
Clayton Castelani/Folhapress
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