No Brasil, secretário de Biden defende democracia e controle civil sobre militares MUNDO
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmou nesta terça (26), em viagem ao Brasil, que as Forças Armadas dos países da América devem estar sob “firme controle civil” e fez um discurso em defesa da democracia e do Estado democrático de Direito.
Austin, general reformado escolhido por Joe Biden para formular políticas de defesa, está no país para participar do encontro multilateral sobre defesa e segurança das Américas, que tem o Brasil como sede para o biênio 2021/2022. Os encontros ocorrem em Brasília.
“Uma dissuasão confiável exige forças militares e de segurança que estejam prontas, capazes e sob firme controle civil. E exige que os Ministérios de Defesa atendam seus cidadãos de forma transparente e sem corrupção”, afirmou o americano em discurso de quase 8 minutos.
Austin afirmou que, durante a pandemia de Covid, o “Estado de Direito, os direitos humanos e a dignidade humana foram atacados” nas Américas. Ele ainda citou discurso do presidente dos EUA ao dizer que a democracia é o “símbolo das Américas” que deve ser preservado.
“Nossos países não estão apenas unidos pela geografia. Também nos aproximamos por nossos interesses e valores comuns —o profundo respeito pelos direitos humanos, o compromisso com o Estado de Direito e a devoção à democracia”, disse ele.
Antes do discurso, uma autoridade da Defesa americana, sob condição de anonimato, havia informado à agência Reuters que Austin deveria fazer coros aos pedidos para que militares respeitem o sistema democrático no Brasil, no que seria uma resposta a insinuações golpistas que Jair Bolsonaro (PL) tem feito, utilizando-se das Forças Armadas para fazer ataques ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas.
A posição do secretário configura uma continuidade ao esforço dos EUA de defender a confiança no sistema eleitoral brasileiro. Na última semana, após o ataque que Bolsonaro fez à Justiça Eleitoral em reunião com dezenas de embaixadores, a embaixada americana disse, em nota, que o país confia na “força das instituições democráticas brasileiras”.
Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado americano, também deu declarações afirmando que os EUA confiam no sistema eleitoral brasileiro, descrito por ele como um modelo.
A manifestação também é semelhante à feita pela ministra de Defesa Nacional do Canadá, Anita Anand. “Cada um dos países nas Américas existe hoje porque, em momento específico de nossas histórias, decidimos que o nosso povo tem o direito de determinar o próprio futuro”, disse. “A Conferência de Ministros de Defesa das Américas tem o dever de se posicionar: apoiamos a democracia e a determinação de todas as nações”, conclui, citando a Guerra da Ucrânia.
Durante o evento de oficialização de sua candidatura no último fim de semana, Bolsonaro defendeu o papel dos militares em seu governo, alçados a diversos postos de administração e comando de estatais.
O democrata Tom Malinowski, membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, disse à Reuters que Austin deveria deixar claro que os militares têm o dever de permitir que disputas eleitorais sejam resolvidas por meios constitucionais. “E deve lembrar que a lei dos EUA impede nossa cooperação com militares estrangeiros que participam de qualquer coisa que possa se assemelhar a um golpe”.
Sob o atual governo, militares têm promovido questionamentos ao sistema de urnas eletrônicas, algo até então incomum para as Forças Armadas, o que coincide com o discurso de Bolsonaro, que busca desacreditar o modelo e propagar discursos sem fundamento.
Ainda à Reuters Nicholas Zimmerman, ex-assessor da Casa Branca, disse que “o risco de que alguns membros das Forças Armadas acompanhem os esforços antidemocráticos deve ser levado a sério”.
Lloyd Austin ainda fez críticas à atuação da China em países das Américas, reforçando a preocupação dos EUA com a influência chinesa no Hemisfério Ocidental. “Poderes autocráticos estão trabalhando para minar a ordem internacional estável, aberta e baseada em regras em nossa região. Isso inclui esforços da China para ganhar influência”.
Cézar Feitoza/Folhapress
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