Nova subvariante muito transmissível do coronavírus preocupa especialistas.
A subvariante BA.2.75 do coronavírus tem preocupado especialistas e instituições de saúde pela sua alta capacidade de transmissão. Registrada pela primeira vez em maio na Índia, ela conta com um conjunto de mutações até então nunca visto –o que pode ser uma explicação para sua disseminação.Atualmente, a cepa está sendo monitorada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Além da Índia, ela já foi registrada em dez países. No Brasil, a subvariante ainda não identificada por meio de sequenciamento.
O vírus faz parte da linhagem da ômicron, que continua sendo a variante de preocupação dominante no mundo. A BA.2.75 é uma ramificação da BA.2, uma variante da ômicron que teve seus primeiros casos no Brasil em fevereiro deste ano.
“Na Índia, temos um cenário mais expressivo [para a BA.2.75]. O que chamou atenção é que ela rapidamente se disseminou em outros países”, afirma Fernando Spilki, virologista e coordenador da Rede Corona-ômica BR-MCTI, um projeto de laboratórios que sequencia os genomas de amostras do Sars-CoV-2 no Brasil.
A preocupação também se dá pelo alastramento da cepa em comparação a outras variantes. Segundo Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin (EUA), “aparentemente [a BA.2.75] está se espalhando mais rapidamente que outras variantes circulando”.
Spilki também chama atenção para esse ponto. Ele diz que a BA.2.75 conseguiu se disseminar de forma considerável em ambientes que já contavam com uma larga presença de outras subvariantes também altamente transmissíveis, como a BA.4 e BA.5.
A BA.2.75 acumula uma série de mutações que ainda não tinham sido observadas. Segundo a OMS, além daquelas já registradas na BA.2, a subvariante tem oito novas mutações na proteína spike, que facilita a entrada do vírus nas células. Além destas, a BA.2.75 também tem outras cinco mutações.
É por meio da proteína spike que o coronavírus invade as células humanas. Por isso, quanto mais mutações uma variante acumular nesta proteína, as chances de maior transmissão aumentam.
“O que se sabe até o momento é que esse conjunto de mutações facilita a transmissão”, afirma Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
SINAL AMARELO
Os indícios de maior transmissão da BA.2.75 acendem um alerta para o impacto que ela pode ter na pandemia de Covid-19. No entanto, ainda não é possível dizer com certeza que essa é a subvariante com maior transmissibilidade já registrada.
“Ainda é muito cedo para afirmações sobre a transmissibilidade da cepa”, afirma Garrett.
A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, explicou em um vídeo da organização de 5 de julho que ainda existem poucos sequenciamentos da subvariante disponíveis para análise. Dessa forma, não é possível concluir o grau de transmissão e a gravidade dos quadros clínicos da BA.2.75.
Outro aspecto é que o comportamento do vírus pode variar nos países, diz Spilki. Ele exemplifica o caso da variante delta na América Latina: embora tenha causado um enorme impacto em algumas partes do mundo, como nos Estados Unidos, essa cepa não teve um protagonismo tão grande nos países latinos em comparação com a variante gama.
No momento, ele acredita que a tendência é o crescimento contínuo da subvariante BA.5 em detrimento da BA.2.75. “Mas sabemos que essa situação pode mudar rapidamente”, ressalta.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também indicou em uma conferência no dia 6 que, nos continentes americano e europeu, as subvariantes BA.4 e BA.5 estão causando novas ondas de casos. Em relação a BA.2.75, Ghebreyesus indicou que ela está sendo acompanhada.
QUADROS GRAVES
Além da transmissão, outro aspecto que intriga é se a BA.2.75 pode causar quadros mais graves de Covid-19.
Segundo Garrett, os quadros mais leves da doença ocorrem principalmente porque a maior parte da população já desenvolveu algum tipo de imunidade –seja por conta da vacina ou por infecções prévias pelo Sars-CoV-2.
“Quanto maior for o escape imune da variante, mais possibilidade de causar quadros mais graves”, afirma Garrett.
A epidemiologista também explica que, no caso da BA.4 e BA.5, as vacinas demonstraram ter eficácia contra hospitalizações e quadros graves. “Quanto à BA.2.75, ainda não temos informação suficiente”, completa.
A infectologista Stucchi também explica que a questão do desenvolvimento de quadros mais graves com a BA.2.75 continua em aberto. No entanto, ela ressalta que as vacinas, mediante a aplicação de doses adicionais, continuam se mostrando eficazes para evitar complicações, mesmo no caso das subvariantes.
Por isso, a infectologista diz que as novas mutações do Sars-CoV-2 “representam uma ameaça ao Brasil” ao considerar a baixa adesão da população na vacinação com doses de reforço.
Samuel Fernandes/Folhapress
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