Polícia investiga se mais cinco pacientes foram estupradas por anestesista

A Polícia Civil investiga se mais cinco pacientes também foram estupradas pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante na madrugada desta segunda-feira (11). Ao menos três já prestaram depoimento.

Nesta terça, a Justiça do Rio de Janeiro decidiu converter a prisão em preventiva, com prazo de 90 dias prorrogáveis, e ficou decidido que ele seria levado para a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8. A unidade da zona oeste recebe os detentos com nível superior.

Segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, ele deve ser colocado em uma cela individual. Bezerra foi indiciado sob suspeita de estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de prisão.

A reportagem apurou que ele estava acompanhado de um advogado na audiência, mas sua defesa ainda não se apresentou publicamente.

O advogado Hugo Novais chegou a assumir o caso, mas desistiu no fim da tarde desta segunda. Antes, ele havia dito que só manifestaria sobre a acusação após ter acesso aos depoimentos e provas apresentados na audiência de custódia.

O médico foi preso depois que funcionários do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o filmaram colocando o pênis na boca de uma paciente durante uma cesárea no domingo (10).

No mesmo dia, Bezerra já havia participado de ao menos mais duas cirurgias com pacientes mulheres no mesmo hospital.

Duas pessoas da equipe de enfermagem afirmaram à polícia que viram que, na segunda cirurgia, o médico estava com o pênis ereto. “Inclusive para uma delas ele fechou o capote, que não é comum de ser usado, mas ele usava”, afirma a delegada Barbara Lomba, à frente das investigações.

Nesta terça-feira (12), mais duas pacientes do anestesista prestaram depoimento. Uma delas também foi atendida no Hospital da Mulher e, a outra, no Hospital da Mãe, em Mesquita, município da Baixada Fluminense.

Ambas relataram que foram muito sedadas durante a cirurgia. A polícia suspeita que Bezerra utilizava sedativos em excesso para abusar das mulheres.

Se a polícia comprovar que houve reiteradamente sedações desnecessárias ou que em doses excessivas possam ter causado prejuízo às vítimas, o suspeito pode ser responsabilizado por outros crimes. “Aí vamos avaliar qual seria o tipo penal”, diz Lomba.

Na segunda (11), outra mulher, de 23 anos, já havia se apresentado na delegacia, dizendo ter sido vítima do médico.

Familiares afirmaram aos policiais que ela também foi vítima de estupro durante uma cesárea realizada no mesmo hospital, no dia 6 de julho. Sua mãe diz que a filha saiu totalmente dopada do procedimento e que acordou apenas no dia seguinte à noite.

Ainda segundo a mãe, a filha acordou com uma substância branca no pescoço. Inicialmente, a família achou que era resultado de algum procedimento do hospital. Quando assistiu ao noticiário nesta segunda e viu que o médico havia sido preso, ela concluiu que sua filha também havia sido vítima de um estupro.

Frascos do sedativo utilizado pelo suspeito foram apreendidos. A polícia vai apurar se o médico dopava as pacientes sem necessidade para que pudesse estuprá-las.

“A pessoa na hora de ter um filho, totalmente nas mãos de um profissional de saúde, indefesa, exposta, fragilizada. Se ainda ficar provado que ele aplicava esse tipo de substância desnecessariamente só para sedar e cometer o crime… É algo muito inacreditável, hediondo”, afirma Barbara Lomba.

Até o momento a Polícia Civil ouviu seis pessoas da equipe de enfermagem, o chefe dos anestesistas, médicos presentes no centro cirúrgico, três pacientes atendidas pelo suspeito e o próprio Bezerra, que ficou em silêncio.

A delegada agora aguarda para ouvir o marido da paciente que aparece nas filmagens do estupro. Ela também ainda não prestou depoimento.

Segundo a delegada, os médicos que estavam presentes no centro cirúrgico do Hospital da Mulher não perceberam o crime, mas disseram que a sedação à qual as vítimas eram submetidas é incomum.

O hospital vai ceder à polícia a relação das pacientes de cujas cirurgias o anestesista participou e os relatos da equipe também poderão auxiliar nas investigações. Os prontuários poderão ajudar a identificar quais medicamentos foram utilizados e sua quantidade.

As investigações vão se debruçar primeiramente sobre as pacientes atendidas por ele no Hospital da Mulher Heloneida Studart. Depois, se comprovado que o anestesista de fato atuava em outros hospitais, também serão requisitados os prontuários nessas unidades.

Os profissionais que filmaram e denunciaram o crime disseram que têm medo de represálias. Eles afirmaram que Bezerra chegou a intimidar uma enfermeira que tentou averiguar seu comportamento.

“A enfermeira começou a chegar mais perto dele no início do procedimento e ele se incomodou. Começou a olhá-la de forma intimidadora, a tratá-la rispidamente, dando a entender que não deveria estar na sala. Ele tentava afastar as pessoas”, diz Lomba.

Segundo a polícia, desconfiadas da postura do médico há cerca de um mês, enfermeiras do hospital decidiram usar um telefone celular para registrar o que ele fazia durante as cirurgias. O suspeito foi indiciado sob suspeita de estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de prisão.

As enfermeiras decidiram fazer a gravação porque notaram algumas atitudes incomuns de Bezerra. Elas desconfiaram da tentativa de fazer uma barreira física para dificultar a visão da paciente durante a cirurgia, do procedimento de sedação atípico em cesáreas e de alguns movimentos do médico, que parecia estar manipulando o rosto das pacientes.

À frente das investigações do caso, a delegada Lomba foi criticada nas redes sociais porque teria sido excessivamente educada com o anestesista no momento da prisão.

Em gravação filmada por sua própria equipe, Lomba aparece explicando ao médico que ele estava sendo preso em flagrante e que teria seus direitos garantidos, como acesso a um advogado. “É desagradável, mas vamos ter que fazer”, ela diz.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Lomba afirma que atua como policial há 21 anos e que sempre deu o mesmo tratamento a todos os presos.

“O procedimento da minha equipe sempre foi o mesmo. Se algum policial age de outra forma é lamentável. Pior ainda se alguém fora da polícia estimula esse tipo de coisa, que a polícia seja violenta, truculenta, fique tentando legitimar matanças”.

Ana Luiza Albuquerque/Folhapress

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