Rodrigo e Tarcísio fazem campanhas paralelas com ataques mútuos em SP
A avaliação de que só resta uma vaga na disputa ao segundo turno pelo Governo de São Paulo levou Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) a se engajarem em campanhas paralelas, com convergência de temas e ataques mútuos. As equipes avaliam que a ida ao segundo turno de Fernando Haddad (PT), que hoje lidera as pesquisas, está consolidada. Com a expectativa de que Márcio França (PSB) abandone a corrida para concorrer ao Senado, o lugar restante na disputa, avaliam, ficará com Tarcísio ou Rodrigo.
Pesquisa Datafolha publicada na quinta-feira (30) mostra ambos empatados com 13%, enquanto Haddad lidera com 34%. O diagnóstico faz com que Rodrigo dê acenos mais à direita e Tarcísio mais ao centro, em busca do eleitorado do adversário. Mirando conservadores e bolsonaristas, Rodrigo tem adotado discurso duro na segurança e demonstrações de proximidade com as forças policiais.
Já Tarcísio, por sua vez, embora tenha tom ainda conservador, se mantém mais moderado do que de seu padrinho político, o presidente Jair Bolsonaro (PL), com direito a posicionamento favorável às urnas eletrônicas e defesa da vacinação. Nas últimas semanas, a temperatura da disputa subiu e ambos os pré-candidatos trocam ataques com frequência.
Para se contrapor ao ex-ministro, o governador tem baseado sua campanha em seu conhecimento do estado e no fato de ser um “paulista raiz”, já que o adversário é carioca, e tem investido em obras de pavimentação, dado que o rival tem fama de asfaltar. Enquanto isso, Tarcísio tem batido forte nos problemas de segurança no estado.
Um exemplo dessa dinâmica aconteceu com a ida de Tarcísio ao programa Pânico, da Jovem Pan. Instado a deixar uma pergunta a Rodrigo, o ex-ministro da Infraestrutura questionou se o governador anda livremente com o celular na mão —uma indireta sobre a alta incidência desse tipo de crime no estado.
Rodrigo, então, voltou a bater na tecla da origem de Tarcísio —conforme a Folha revelou, ele não mora no apartamento que indicou à Justiça eleitoral, em São José dos Campos, no interior paulista, assunto investigado pela Promotoria. “Se ao menos ele morasse aqui, pagasse imposto aqui e ajudasse SP a crescer… mas nem isso. Ele ataca SP, eu defendo SP. Ele critica SP, eu me orgulho de SP”, rebateu o governador.
Aliados dos dois candidatos argumentam que eles só rebatem ataques um do outro e acreditam que pelo perfil de ambos o bate-boca não deve passar muito disso. Para chegar ao segundo turno, as campanhas apostam em teses opostas. Na visão da equipe de Rodrigo, a polarização entre petismo e bolsonarismo não deve se repetir no estado.
Por esse raciocínio, agora livre da impopularidade de João Doria (PSDB), hoje fora das eleições, e com boas vitrines para mostrar, a máquina deve pesar a favor do governador —que já está crescendo nas pesquisas. Já do lado de Tarcísio a aposta é que a disputa nacional vai se impor também em São Paulo, impedindo que Rodrigo cresça. Aliados apontam ainda que, no interior, eleitores descontentes com o PSDB e com o ex-governador Doria têm se juntado ao ex-ministro.
O discurso do tucano sobre conhecer São Paulo e ser paulista, argumentam ainda aliados de Tarcísio, pegou mal em um estado composto e construído por migrantes e imigrantes. O ex-ministro tem estudado as questões paulistas e já é considerado mais preparado que Rodrigo entre os seus.
O núcleo de Rodrigo, porém, sustenta que os paulistas não votarão em alguém que caiu de paraquedas no estado e ainda o teria prejudicado quando esteve no governo, travando obras de infraestrutura. O poder da máquina do Palácio dos Bandeirantes não é subestimado entre os apoiadores de Tarcísio, que preferem não encarar Rodrigo no segundo turno. No entanto, há dúvidas se o tucano terá tempo suficiente até a primeira rodada das eleições para colher os louros de seus investimentos nas cidades.
Conforme a Folha vem mostrando, o governador tem feito investimento recorde em asfalto às vésperas da eleição, além de distribuição de veículos e repasses a prefeituras. Aliado a isso, Rodrigo tem feito um discurso que visa a pescar eleitores de Tarcísio. Na quarta (29), durante entrega de 27 mil pistolas, disse que “não é para que policial faça cafuné na cabeça de bandido” e que quem reagir “vai levar bala sim”.
Nessa área, em que o bolsonarismo tem grande apelo, Tarcísio investe em crítica às câmeras corporais dos policiais militares –medida bem-sucedida que, segundo especialistas, ajudou a fazer desabar tanto a letalidade policial quanto as mortes de agentes. Apesar dos dados positivos, o ex-ministro tem dito que o policial não pode ser tratado como suspeito, mas sim os criminosos.
Os ataques do pré-candidato do Republicanos chegaram até a balançar Rodrigo sobre o assunto, que sinalizou que poderia haver mudanças na medida, mas depois recuou. A campanha de Tarcísio busca um equilíbrio entre acenar para a base ideológica de Bolsonaro e tentar furar a bolha em direção ao centro. O principal movimento de abrangência é a participação de políticos do PSD, como Guilherme Afif e Cezinha de Madureira, entre os coordenadores da campanha.
O próprio PSD, de Gilberto Kassab, negocia eventual apoio a Tarcísio. No entanto, a saída de José Luiz Datena (PSC) da disputa ao Senado na chapa do ex-ministro torna a negociação mais incerta. Rodrigo, por sua vez, tenta se apegar a questões práticas da vida da população, fugindo do rótulo de esquerda ou direita.
Em algumas peças de divulgação, as pré-campanhas de Rodrigo e Tarcísio chegam a convergir —os dois se mostram descontraídos e respondem a comentários de pessoas nas redes sociais. Rodrigo com frequência usa seu Fusca nas peças e tem um quadro fixo chamado “Raizômetro”, no qual responde a perguntas sobre o estado. O material é uma indireta em relação a Tarcísio, que reagiu com um vídeo lembrando que o estado é construído por imigrantes.
Artur Rodrigues e Carolina Linhares / Folhapress
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