Ciro questiona saúde de Lula e apaga post; PT fala em ataque ‘lamentável’

O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, aumentou o tom contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o primeiro debate entre os presidenciáveis e, na manhã desta segunda-feira (29), usou as redes sociais para reforçar o clima de rivalidade.

Em sua conta oficial no Twitter, Ciro postou uma foto de Lula e escreveu que o petista está “cada dia mais fraco, fisicamente, psicologicamente e teoricamente (sic), para enfrentar a direita sanguinária”. Em seguida, ele apagou a postagem após ter sido criticado por petistas pelo ataque à saúde do ex-presidente.

O post externou a avaliação da cúpula do PDT de que o ex-presidente passou imagem de fragilidade no debate e de falta de habilidade em se defender dos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O presidente do PDT, Carlos Lupi, criticou a postagem e disse ter sido bom que ela “foi apagada a tempo”. “Campanha é para discutir política”, afirmou.

Lula rebateu, e seu perfil oficial no Twitter compartilhou trecho do embate com Ciro na noite anterior acompanhado da seguinte legenda: “Ontem, no debate da Band, Lula tratou Ciro Gomes com respeito”.

A presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que o post de Ciro é “lamentável” e que o ex-presidente foi “muito simpático” com o pedetista no debate, sem deixar de colocar “as coisas que tinha que colocar, a responsabilidade política dele [Ciro] perante o Brasil”. “Só lamento que Ciro tenha feito uma aliança com Bolsonaro para atacar o Lula”, afirmou Gleisi.

Segundo o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas e próximo do ex-presidente Lula, a publicação do pedetista evidencia que Ciro “vai ser vítima do ódio que ele próprio ajudou a inocular na sociedade”. Marco Aurélio diz também que no debate da noite anterior o ex-aliado de Lula “mostrou total descompromisso com a difícil tarefa de derrotar o fascismo no Brasil”.

“Ciro é uma mistura do que há de pior no coronelismo mais atrasado do nosso país com requintes de um lavajatismo messiânico que nos trouxe aos dias de hoje”, acrescentou o advogado.

No debate, ao ser questionado sobre a divisão de partidos de esquerda, Lula elogiou Ciro.

“Têm três pessoas no Brasil que eu trato com deferência: o [ex-governador de SP] Mário Covas [1930-2001], o [ex-senador] Roberto Requião [PT] e o Ciro Gomes”, disse Lula. “De vez em quando eles podem até falar mal de mim que eu não levo em conta, porque sei que eles têm o coração mais mole do que a língua.”

Ciro sorriu, mas rejeitou a tentativa de aproximação do ex-presidente.

“O Lula é esse encantador de serpente, vai na emoção das pessoas, cativa, mas eu tenho uma relação bastante antiga [com ele]. Sempre quer trazer a coisa para o lado pessoal. Não é pessoal, eu atribuo ao Lula a contradição econômica e moral do PT, a eleição do Bolsonaro”, disse Ciro. “A razão do meu distanciamento é que o Lula se deixou corromper mesmo.”

Antes, o candidato do PDT já havia dito, com o microfone desligado, que Lula não fez como ele e foi a Paris no segundo turno das eleições de 2018 porque estava preso. Ciro é frequentemente acusado por petistas de ter se ausentado do país após não conseguir avançar ao segundo turno, o que ele nega.

“Quando o Ciro joga nas minhas costas a responsabilidade da escolha do cidadão [Bolsonaro], eu queria dizer que eu não fui para Paris. Eu não saí do Brasil para não votar no Haddad”, disse Lula.

A animosidade entre os candidatos reforça a posição da campanha de Ciro, que nega qualquer possibilidade de apoiar o petista em um eventual segundo turno contra Bolsonaro.

A avaliação do partido é a de que a participação de Ciro no Jornal Nacional, na terça (23), e a postura “objetiva e zen” no debate foram o início de uma alta nas intenções de votos ao pedetista.

No lado petista, porém, há o entendimento de que é possível atrair parte dos eleitores ciristas ainda no primeiro turno e que eventuais ataques ao ex-aliado podem atrapalhar a migração desses eleitores.

Presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros diz ver difícil a possibilidade de abrir diálogo com Ciro neste momento. “Em campanha ninguém quer conversar com candidato, conversas assim só no segundo turno. Agora é conversar com os eleitores.”

Victoria Azevedo e Mariana Zylberkan, Folhapress

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