Com 1,5 mil candidatos, Centrão quer dominar metade da Câmara dos Deputados

O núcleo duro do Centrão estima que poderá eleger até metade da Câmara na próxima legislatura, conforme publicou o jornal O Estado de São Paulo neste sábado (20). Conforme a publicação, PL, Progressistas e Republicanos lançaram 1.521 candidatos, quantidade três vezes maior do que o contingente que disputou a eleição quatro anos atrás pelas legendas. Hoje, esses partidos detêm 179 das 513 cadeiras da Casa.

Ainda segundo O Estadão, o Centrão, que comanda a Câmara, com Arthur Lira (Progressistas-AL), e tem o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), como candidato, conta com recursos do orçamento secreto, que garantem obras de grande apelo eleitoral, para o seu plano de controlar o próximo Congresso. Os políticos do grupo se apresentam como de direita, defendem a família, a pauta de costumes e o liberalismo na economia. De acordo com pesquisas, o eleitorado tem se identificado mais com partidos de direita.

O número de candidatos representa 14,8% de todos os políticos que disputam uma cadeira de deputado federal por 32 partidos neste ano. Em 2018, PL, Progressistas e Republicanos apresentaram 574 nomes para concorrer à Câmara, 6,7% dos 8.588 candidatos. Elegeram 101. A esquerda lançou nesta eleição 1.260 candidatos pelo PT, PSB e Pros, siglas que apoiam a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial.

A cientista política Graziella Testa, professora da Fundação Getulio Vargas, disse que o Centrão deixou de ser apenas um bloco de partidos para se tornar um “estilo” de fazer política. “Refere-se mais a um comportamento. Em alguns partidos, isso é mais claro. É o parlamentar que tem mais preocupação em estar próximo ao recurso e em levar benesses para a região do que com ação programática ou ideológica. E sobre as benesses podemos pensar também num parlamentar bem intencionado, mas que atua de forma pouco republicana. A função do parlamentar não é essa, formalmente”, afirmou.

De acordo com o impresso, os políticos do Centrão não gostam do rótulo, que classificam como pejorativo. O bloco surgiu na Assembleia Constituinte sob a alcunha de “Centro Democrático”, como reivindicam ser chamados ainda hoje. O propósito, na ocasião, era conter avanços da “ala progressista” do plenário.

Uma das principais característica de um político do Centrão é o fisiologismo. Costumam votar em troca de cargos no governo e recursos federais. E quando há pressão popular mudam de lado sem constrangimentos. No impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), vários políticos do grupo foram à sua residência garantir apoio. Saíram de lá e votaram pelo afastamento.

Os maiores escândalos recentes no País envolveram políticos do Centrão. O Progressistas, do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi um dos principais alvos nas investigações do esquema do mensalão, durante o governo Lula em 2005, e também da Operação Lava Jato sobre corrupção na Petrobras, na gestão de Dilma em 2014.

O presidente da Câmara vê injustiça nas críticas ao bloco. “O Centrão que eu faço parte não achincalha, não exige, não faz o toma lá, dá cá. O que fizemos nesses últimos dois anos foi retomar as prerrogativas do Executivo”, disse em encontro com empresários, nesta sexta-feira, 19. Ao Estadão, ele já declarou que se não fosse o Centrão, as principais pautas econômicas do País não teriam avançado, como a independência do Banco Central e a reforma da Previdência, ambas aprovadas no governo Bolsonaro.

Lira consolidou um poder inédito sobre o Orçamento e a agenda do Legislativo. Passa por ele o rateio de R$ 16,5 bilhões do orçamento secreto. Ele criou até uma “sala vip” na Câmara para atender a pedidos de emendas com indicação de recursos para bases eleitorais, especialmente aos aliados do Palácio do Planalto.

Para analistas políticos, a explosão de candidaturas do Centrão está ligada à expectativa de usufruir do poder que esses partidos passaram a desfrutar sob Bolsonaro. Se o plano de eleger metade da Câmara vingar, terão influência para pressionar qualquer que seja o presidente eleito.

“O Centrão continuará com papel estratégico. Com Lula, terá negociação e uma parte do PL pode rachar. PP e Republicanos continuariam fechados, mas com maioria numa coalizão com Lula. Caso Bolsonaro vença a eleição, eles continuarão tendo controle do Congresso e em particular do orçamento secreto”, avaliou Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco e estrategista da consultoria Cenário Inteligência.

O crescimento do Centrão na Câmara é dado como certo tanto por políticos como pelos analistas. A dúvida repousa sobre o papel e a coesão do grupo em caso de vitória de Lula. No diagnóstico do vice-líder do PP, deputado José Nelto (GO), todo governo vai precisar do Centrão, mas o poder do grupo depende de quem será eleito.

“Todo presidente precisa de maioria. Lula pode construir dividindo ou conquistando o grupo. Vai depender da situação política dele. Se Bolsonaro ganhar, (o Centrão) continua forte. Esse grupo precisa ter responsabilidade, não furar o teto de gastos, ter projeto de distribuição de renda e não deixar ninguém para trás no social”, disse.

A relação de Bolsonaro com o Centrão foi convenientemente alterada ao longo dos últimos anos. Ele mesmo foi integrante do Progressistas por muito tempo. Na campanha de 2018, no entanto, prometeu acabar com a “velha política” e com a distribuição de cargos. Chegou a se referir ao grupo como “escória” e como “o que há de pior no Brasil”. Um de seus auxiliares mais fiéis, general Augusto Heleno, comparou membros do grupo a ladrões ao deixar escapar um “se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”. Para garantir o apoio do Congresso e se livrar de mais de cem pedidos de processos de impeachment, Bolsonaro abraçou Lira e passou a se reconhecer como alguém oriundo desse bloco.

As informações são do jornal O Estado de São Paulo.

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