Disparos sobre plano para barrar Bolsonaro crescem e indicam nova investida contra TSE

Uma mensagem que cita um trio de pessoas em Brasília que deseja impugnar a chapa de Jair Bolsonaro (PL) e uma pesquisa “interna não falsa” dizendo que o ex-presidente Lula (PT) tem só 17% dos votos foi enviada mais de 92 mil vezes a grupos de WhatsApp em um período de 20 dias.

Ela inclui ainda a convocação para atos no 7 de Setembro, data usada por Bolsonaro e apoiadores no ano passado para atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ir às ruas pedir o que chamam de “voto auditável”, iniciativa que deve se repetir neste ano pelo presidente e por seus aliados.

O envio massivo dessa mensagem sobre uma possível impugnação da chapa indica que parte do bolsonarismo busca, por meio dos militares, afastar o discurso de fraude na urna eletrônica.

Mas isso sem diminuir a desconfiança a membros do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), já que o Judiciário tem sido a principal barreira aos retrocessos empreendidos por Bolsonaro ao longo de seu mandato.

A viralização foi detectada pelo Observador Folha/Quaest, que monitora 1.218 grupos públicos de WhatsApp e que atualmente tem na amostra 42% dos grupos ligados à direita, 14% à esquerda e 44% indeterminados.

Há indicativo de envio coordenado dessa mensagem. Ao todo, o texto foi enviado para 228 grupos e teve um alcance estimado, apenas dentro do universo pesquisado, de 42,6 mil integrantes —com base na média de 187 usuários por grupo. Nos cinco grupos em que a mensagem mais foi compartilhada, ela apareceu cerca de 900 vezes.

A narrativa disseminada diz que Bolsonaro tem 62% dos votos e ganharia no primeiro turno da eleição, o que é falso, já que pesquisas recentes mostra Lula ao menos dez pontos à frente de Bolsonaro.

Ainda segundo essa conspiração, haveria apenas dois caminhos para reverter esse cenário: “Matar Bolsonaro ou impugnar a chapa”. As Forças Armadas também são lembradas no texto: “Roubar na apuração está difícil porque as FFAA estão em cima”.

A primeira mensagem foi identificada em 3 de agosto, estendendo-se até 22 de agosto, último dia da análise. Na primeira versão que circulou nos grupos, não havia menção aos atos de 7 de Setembro ou ao comunismo. Ela foi sofrendo pequenas alterações e chegou a circular em ao menos 13 formatos.

A metodologia da Quaest inclui grupos de conversa alinhados a todos os espectros. Os links dos convites públicos de WhatsApp foram obtidos em rede sociais como Twitter, Instagram, Facebook, Reddit e Gettr.

A maioria dos compartilhamentos foi em grupos bolsonaristas (91%), contra 3% em grupos lulistas e 6% em grupos classificados como indeterminados.

Apesar do compartilhamento massivo, a quantidade de telefones responsável por fazer a mensagem circular não é tão alto. Ao todo foram 540 números diferentes, um deles foi responsável por 438 envios, o segundo número com mais disparos enviou a mensagem 385 vezes.

Não parece, contudo, que a narrativa seja homogênea, já que em parte dos grupos bolsonaristas monitorados a mensagem não apareceu.

Desde antes de ser eleito, Bolsonaro fomenta a desconfiança nas urnas em discursos recheados de mentiras. Ele já chegou a colocar a própria realização do pleito em dúvida.

Em entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda (22), o presidente foi cobrado pelos apresentadores a assumir um compromisso de que respeitará o resultado das eleições.

Bolsonaro, entretanto, colocou como condição que elas “sejam limpas” e na sequência citou o envolvimento dos militares como determinante. “E quem vai decidir essa questão de transparência ou não serão, em parte, as Forças Armadas, que foram convidadas a participar da comissão de transparência eleitoral.”

O Ministério da Defesa foi chamado pelo TSE para participar de uma comissão de transparência das eleições e tem questionado a corte em alinhamento ao discurso do presidente.

No fim de julho, a pasta designou dez militares das três Forças para participar da fiscalização das eleições. Recentemente pediram, com carimbo de “urgentíssimo”, para inspecionar o código-fonte da urna que estava disponível para análise desde outubro do ano passado.

Os militares insistem em mudanças no processo eleitoral e nesta terça-feira (23), o ministro da Defesa teve uma reunião com o atual presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

“BOMBA EM BRASÍLIA: O TRIO QUER IMPUGNAR A CHAPA DE BOLSONARO” é o início da mensagem disparada nos grupos. As três pessoas à frente de tal estratégia não são explicitadas nominalmente. De acordo com o texto, elas estariam sendo pressionadas por “Lula, Zé Dirceu e PCC”.

Também no Telegram e em grupos de Facebook a narrativa de que haveria um movimento para impedir Bolsonaro de concorrer foi compartilhada em diferentes variações desde o dia 4 de agosto.

Em parte delas o trio é nomeado “O TRIO (FACHIN, BARROSO E XANDINHO DO PCC) QUER IMPUGNAR A CHAPA DE BOLSONARO”, conforme postagens em grupos públicos no Facebook.

Além de Moraes, que estará à frente da corte durante a eleição, seus antecessores, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso se tornaram alvos preferenciais de Bolsonaro em seus discursos de cunho golpista contra as urnas eletrônicas e de questionamento da Justiça Eleitoral.

Em sua posse na corte, no último dia 16, a que Bolsonaro esteve presente, o ministro deu fortes recados ao chefe do Executivo, assim como fez na sessão em que foi julgada a cassação da chapa Bolsonaro Mourão.

Nessas eleições, o PDT move dois processos para impugnar a chapa de Bolsonaro e Braga Netto, usando como motivação o evento com embaixadores em que o presidente atacou as urnas e ainda por conta de uma live do presidente com pedido de votos a aliados.

Já o PT não chegou a apresentar nenhuma ação com pedido de derrubada da chapa da campanha atual. Por outro lado, nesta semana, o partido recorreu ao TSE em ação sobre disparos em massa no WhatsApp na campanha de 2018.

Os advogados apontam que haveria contradições no julgamento feito pelo TSE e solicitam que presidente fique inelegível. Embora o julgamento tenha sido concluído em 2021, os acórdãos, documentos que contêm o teor da decisão e os votos do plenário da corte, só foram publicados na semana passada.

No texto viralizado no WhatsApp, também a construção do temor do que relacionam como “Bloco Comunista da América Latina” é utilizado para mobilizar apoiadores do presidente a comparecerem às manifestações de 7 de Setembro, que foram convocada por Bolsonaro.

Atrás nas pesquisas e com um cenário desfavorável na economia, Bolsonaro tem reembalado, ao longo do ano, a imagem de que o pleito seria uma “luta do bem contra o mal”.

“POVO NAS RUAS DIA 7 DE SETEMBRO EM MASSA!!!”, diz o fim do texto compartilhado. “Será a nossa decisão de sermos a próxima Argentina, Venezuela, Cuba, etc…Ou não…O futuro dos nossos filhos e famílias está nas nossas mãos!!!”

Como primeiro ato oficial de campanha, Bolsonaro voltou a Juiz de Fora (MG), cidade onde sofreu um atentado em 2018, e associou governos anteriores ao socialismo.

“O Brasil estava à beira de um colapso, com problemas éticos, morais e econômicos, e marchava, sim, a passos largos para o socialismo”, afirmou na ocasião.


Renata Galf e Paula Soprana/FolhapressBRASIL



Uma mensagem que cita um trio de pessoas em Brasília que deseja impugnar a chapa de Jair Bolsonaro (PL) e uma pesquisa “interna não falsa” dizendo que o ex-presidente Lula (PT) tem só 17% dos votos foi enviada mais de 92 mil vezes a grupos de WhatsApp em um período de 20 dias.

Ela inclui ainda a convocação para atos no 7 de Setembro, data usada por Bolsonaro e apoiadores no ano passado para atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ir às ruas pedir o que chamam de “voto auditável”, iniciativa que deve se repetir neste ano pelo presidente e por seus aliados.

O envio massivo dessa mensagem sobre uma possível impugnação da chapa indica que parte do bolsonarismo busca, por meio dos militares, afastar o discurso de fraude na urna eletrônica.

Mas isso sem diminuir a desconfiança a membros do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), já que o Judiciário tem sido a principal barreira aos retrocessos empreendidos por Bolsonaro ao longo de seu mandato.

A viralização foi detectada pelo Observador Folha/Quaest, que monitora 1.218 grupos públicos de WhatsApp e que atualmente tem na amostra 42% dos grupos ligados à direita, 14% à esquerda e 44% indeterminados.

Há indicativo de envio coordenado dessa mensagem. Ao todo, o texto foi enviado para 228 grupos e teve um alcance estimado, apenas dentro do universo pesquisado, de 42,6 mil integrantes —com base na média de 187 usuários por grupo. Nos cinco grupos em que a mensagem mais foi compartilhada, ela apareceu cerca de 900 vezes.

A narrativa disseminada diz que Bolsonaro tem 62% dos votos e ganharia no primeiro turno da eleição, o que é falso, já que pesquisas recentes mostra Lula ao menos dez pontos à frente de Bolsonaro.

Ainda segundo essa conspiração, haveria apenas dois caminhos para reverter esse cenário: “Matar Bolsonaro ou impugnar a chapa”. As Forças Armadas também são lembradas no texto: “Roubar na apuração está difícil porque as FFAA estão em cima”.

A primeira mensagem foi identificada em 3 de agosto, estendendo-se até 22 de agosto, último dia da análise. Na primeira versão que circulou nos grupos, não havia menção aos atos de 7 de Setembro ou ao comunismo. Ela foi sofrendo pequenas alterações e chegou a circular em ao menos 13 formatos.

A metodologia da Quaest inclui grupos de conversa alinhados a todos os espectros. Os links dos convites públicos de WhatsApp foram obtidos em rede sociais como Twitter, Instagram, Facebook, Reddit e Gettr.

A maioria dos compartilhamentos foi em grupos bolsonaristas (91%), contra 3% em grupos lulistas e 6% em grupos classificados como indeterminados.

Apesar do compartilhamento massivo, a quantidade de telefones responsável por fazer a mensagem circular não é tão alto. Ao todo foram 540 números diferentes, um deles foi responsável por 438 envios, o segundo número com mais disparos enviou a mensagem 385 vezes.

Não parece, contudo, que a narrativa seja homogênea, já que em parte dos grupos bolsonaristas monitorados a mensagem não apareceu.

Desde antes de ser eleito, Bolsonaro fomenta a desconfiança nas urnas em discursos recheados de mentiras. Ele já chegou a colocar a própria realização do pleito em dúvida.

Em entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda (22), o presidente foi cobrado pelos apresentadores a assumir um compromisso de que respeitará o resultado das eleições.

Bolsonaro, entretanto, colocou como condição que elas “sejam limpas” e na sequência citou o envolvimento dos militares como determinante. “E quem vai decidir essa questão de transparência ou não serão, em parte, as Forças Armadas, que foram convidadas a participar da comissão de transparência eleitoral.”

O Ministério da Defesa foi chamado pelo TSE para participar de uma comissão de transparência das eleições e tem questionado a corte em alinhamento ao discurso do presidente.

No fim de julho, a pasta designou dez militares das três Forças para participar da fiscalização das eleições. Recentemente pediram, com carimbo de “urgentíssimo”, para inspecionar o código-fonte da urna que estava disponível para análise desde outubro do ano passado.

Os militares insistem em mudanças no processo eleitoral e nesta terça-feira (23), o ministro da Defesa teve uma reunião com o atual presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

“BOMBA EM BRASÍLIA: O TRIO QUER IMPUGNAR A CHAPA DE BOLSONARO” é o início da mensagem disparada nos grupos. As três pessoas à frente de tal estratégia não são explicitadas nominalmente. De acordo com o texto, elas estariam sendo pressionadas por “Lula, Zé Dirceu e PCC”.

Também no Telegram e em grupos de Facebook a narrativa de que haveria um movimento para impedir Bolsonaro de concorrer foi compartilhada em diferentes variações desde o dia 4 de agosto.

Em parte delas o trio é nomeado “O TRIO (FACHIN, BARROSO E XANDINHO DO PCC) QUER IMPUGNAR A CHAPA DE BOLSONARO”, conforme postagens em grupos públicos no Facebook.

Além de Moraes, que estará à frente da corte durante a eleição, seus antecessores, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso se tornaram alvos preferenciais de Bolsonaro em seus discursos de cunho golpista contra as urnas eletrônicas e de questionamento da Justiça Eleitoral.

Em sua posse na corte, no último dia 16, a que Bolsonaro esteve presente, o ministro deu fortes recados ao chefe do Executivo, assim como fez na sessão em que foi julgada a cassação da chapa Bolsonaro Mourão.

Nessas eleições, o PDT move dois processos para impugnar a chapa de Bolsonaro e Braga Netto, usando como motivação o evento com embaixadores em que o presidente atacou as urnas e ainda por conta de uma live do presidente com pedido de votos a aliados.

Já o PT não chegou a apresentar nenhuma ação com pedido de derrubada da chapa da campanha atual. Por outro lado, nesta semana, o partido recorreu ao TSE em ação sobre disparos em massa no WhatsApp na campanha de 2018.

Os advogados apontam que haveria contradições no julgamento feito pelo TSE e solicitam que presidente fique inelegível. Embora o julgamento tenha sido concluído em 2021, os acórdãos, documentos que contêm o teor da decisão e os votos do plenário da corte, só foram publicados na semana passada.

No texto viralizado no WhatsApp, também a construção do temor do que relacionam como “Bloco Comunista da América Latina” é utilizado para mobilizar apoiadores do presidente a comparecerem às manifestações de 7 de Setembro, que foram convocada por Bolsonaro.

Atrás nas pesquisas e com um cenário desfavorável na economia, Bolsonaro tem reembalado, ao longo do ano, a imagem de que o pleito seria uma “luta do bem contra o mal”.

“POVO NAS RUAS DIA 7 DE SETEMBRO EM MASSA!!!”, diz o fim do texto compartilhado. “Será a nossa decisão de sermos a próxima Argentina, Venezuela, Cuba, etc…Ou não…O futuro dos nossos filhos e famílias está nas nossas mãos!!!”

Como primeiro ato oficial de campanha, Bolsonaro voltou a Juiz de Fora (MG), cidade onde sofreu um atentado em 2018, e associou governos anteriores ao socialismo.

“O Brasil estava à beira de um colapso, com problemas éticos, morais e econômicos, e marchava, sim, a passos largos para o socialismo”, afirmou na ocasião.

Renata Galf e Paula Soprana/Folhapress

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