CAC que matou ex-mulher é fã de Lula, colecionava armas e tinha histórico de violência
Preso em flagrante pela morte da ex-mulher e de um filho do casal, Ezequiel Lemos Ramos gostava de colecionar armas e é um apoiador de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —com direito, inclusive, a uma tatuagem com o rosto do ex-presidente em um dos braços.
As informações foram confirmadas à reportagem por seu ex-cunhado, o autônomo Jaques Nicolich, 38. Ele é irmão de Michelli Nicolich, 37, morta na segunda-feira (12) em São Mateus, na zona leste de São Paulo, por tiros disparados por Ramos.
A reportagem não localizou a defesa de Ezequiel.
A Polícia Civil confirmou que Ezequiel é CAC, ou seja, possui o registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador, grupo que conta com o apoio do principal adversário de Lula no pleito deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Se ele tem ou não tatuagem, no meu entendimento, não tem nenhuma relação com o crime”, disse à reportagem nesta quarta (18) o delegado titular do 49° DP, Leandro Resende Rangel, sem se alongar sobre o assunto.
Além da ex-companheira, os tiros de carabina acertaram e mataram um dos filhos do casal, o menino Luiz Inácio Nicolich Lemos, 2. O nome, segundo Jaques, também é uma homenagem ao ex-presidente.
Em sua página no Facebook, Ezequiel gostava de exibir imagens com armas —há um vídeo em que ele efetua tiros de fuzil, por exemplo. Também há fotos em que ele ou os filhos usam camiseta em apoio ao líder petista. As postagens também indicam a habilidade de Ezequiel em atirar.
“Ele é fanático no Lula”, diz Jacques. “Por isso, o filho dele tem o nome do Lula”, acrescentou.
Ele disse que o contato que teve com o ex-cunhado se dava principalmente por mensagens trocadas pelas redes sociais. “Ele me mandava fotos das armas, mas não na intenção de ameaçar.”
Ezequiel e Michelli se conheceram há cerca de seis anos. Ela era casada com um amigo do atirador, quando resolveu se separar e viver com ele em Ponta Porã (MS).
Lá, ela atuava como cartomante, enquanto ele era seu assistente.
Dessa união nasceram dois meninos. O mais velho, hoje com 5 anos, também estava no carro quando o pai disparou, mas não se feriu.
“A família nunca aprovou o relacionamento dela com o Ezequiel. A gente mantinha distância. Se ela quisesse vir para perto da gente, era para não trazer o Ezequiel”, relatou Jaques. O autônomo disse só ter conhecido pessoalmente os sobrinhos em maio deste ano, depois que o casal se separou.
“Ele era violento. Agrediu ela anteriormente, soco na cabeça. Foi por isso que eles se separaram. Ele correu para o quarto para pegar a arma, e ela correu para a rua. Ela denunciou ele, foi quando ele foi preso em Ponta Porã”.
A delegada Marianne Cristine de Sousa, da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, confirmou as acusações e disse que pediu à Justiça a prisão de Ramos na ocasião. Por causa disso, duas armas que ele possuía foram apreendidas.
Segundo a delegada, Michelli demonstrou preocupação com as agressões e solicitou medidas protetivas contra o ex-marido. Também por isso ela teria decidido voltar para São Paulo com os dois filhos —a família não revelava onde morava exatamente para evitar que Ramos descobrisse o local.
Ainda não há informações como ele descobriu o paradeiro da ex-mulher. Na tarde de segunda-feira, quando Michelli e as crianças passavam pela avenida Rodolfo Pirani, em São Mateus, foram atingidos por uma sequência de tiros.
Imagem de uma câmera de segurança mostra quando Ramos vai até o carro e efetua mais disparos contra a mulher.
Segundo Jacques, a irmã mandou uma mensagem três dias antes de morrer na qual disse ter sonhado que o ex-marido lhe dava um tiro.
“Ela tinha dois Whatsapp. Ela mandou mensagem para ela mesma, acho que para deixar salvo, como garantia. Nós acessamos a conta dela pelo computador. O celular está com a perícia. A gente não tinha acesso à intimidade dela”, completou Jaques.
A reportagem tentou contato com o advogado que atuou na defesa de Ezequiel Lemos Ramos no processo em Ponta Porã, mas não conseguiu resposta até a publicação deste texto.
Paulo Eduardo Dias/Folhapress
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