Campanha iniciante, cenários incertos, por Raul Monteiro*

Com uma campanha que, na visão geral, ainda não empolgou o eleitorado e pesquisas que estão longe de garantir qual deve ser o desfecho final das sucessões estadual e nacional, mas que apontam tendências até agora inalteradas, a classe política tem podido conjecturar tanto sobre cenários que vão desde a eleição em primeiro turno à Presidência de Lula (PT) quanto a uma decisão que envolverá duas etapas eleitorais no plano nacional, assim como a respeito de um quadro em que, na Bahia, ACM Neto (União Brasil) pode levar a disputa logo em 2 de outubro.

Naturalmente, a expectativa de vitória do ex-prefeito de Salvador como governador da Bahia no primeiro turno eleitoral é mais forte entre seus aliados e correligionários, para os quais sua eleição é considerada assunto encerrado. Os adversários, por outro lado, batem na tecla de que a vitória do grupo governista, que apresentou como candidato o petista Jerônimo Rodrigues, é uma questão de tempo, desconsiderando que o elemento seja talvez o principal obstáculo para o postulante do PT viabilizar a continuidade do partido no poder na Bahia.

Afinal, para superar o favoritismo do concorrente, Jerônimo teria que crescer a um ritmo que, segundo as pesquisas, não tem registrado até aqui, exatamente por causa do nível de desconhecimento de sua figura pelo eleitorado. Trata-se do maior desafio que a coordenação de sua campanha está enfrentando para assegurar uma perspectiva animadora para o candidato, motivo porque tem jogado, na propaganda política, todas as fichas na associação de seu nome com o do presidenciável do partido, buscando repetir um modelo de disputa de que o petismo se utilizou vitoriosamente nos últimos 16 anos na Bahia.

Sobre o cenário nacional as expectativas estão muito mais incertas, principalmente depois do primeiro debate, de grande audiência, entre os presidenciáveis, na TV Bandeirantes, no qual as performances tanto de Lula quanto de Bolsonaro foram muito aquém do esperado por suas equipes, impedindo que ambos conseguissem falar para além das bolhas que os defendem de forma incondicional, não importa os erros e acertos de cada um. O confronto, portanto, pode ter funcionado afastando de ambos os indecisos, capazes de procurar alternativas à direita e à esquerda cujos desempenhos tenham considerado mais atraentes.

Se o movimento se consolidar e nada no percurso até a eleição, como um outro debate, o teor da propaganda política ou algum fato relevante, alterar a rota, nada impede que candidatos como Ciro Gomes, do PDT, e Simone Tebet, do MDB, considerados os melhores no confronto da Band, possam surpreender e atrair parte dos indecisos, assim como Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Ávila (Novo), estes em patamar menor, o que pode jogar a disputa presidencial para o segundo turno entre Lula e Bolsonaro, uma batalha à qual Neto vai preferir, por razões óbvias, assistir de camarote.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

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