Banheiros unissex viram pauta de campanha, e Lula e Bolsonaro se dizem contra
A existência de banheiros unissex, que podem ser usados tanto por homens como por mulheres, entrou na pauta da campanha presidencial.
Alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL), os sanitários criados com o objetivo, entre outros, de acolher a população trans viraram alvo de fake news em redes sociais. Elas diziam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iria implantar a iniciativa em escolas de educação infantil.
Na semana passada, a campanha do petista publicou em seu site um texto para negar que ele tivesse essa intenção. No sábado (8), a campanha foi além e divulgou: “Lula é a favor de banheiros separados”.
“Se você receber essa fake de alguém, explique para a pessoa que se trata de uma mentira e que o risco real que as crianças brasileiras estão correndo é morrerem de fome!”, diz o texto no site da campanha petista.
A publicação foi feita dois dias após Bolsonaro mencionar o tema. “Ninguém quer que a sua filha vá no intervalo de escola e no banheiro está um moleque, lá dentro, fazendo suas necessidades também”, afirmou o presidente.
Também na Paraíba o tema foi alvo de fake news que imputou a criação dos sanitários ao governador e candidato à reeleição João Azevedo (PSB).
Reportagem da Folha mostrou que, em meio a dilema sobre como reagir à pauta de costumes, a campanha de Lula tinha o diagnóstico de que a afirmação de que o petista poderia criar banheiros unissex nas escolas estava ganhando musculatura entre eleitores.
Embora tenham aparecido com mais evidência agora na campanha presidencial, os banheiros unissex, ou multigênero, entraram na mira de legislações municipais há mais tempo.
Só nos últimos meses, a proibição desses sanitários já foi aprovada nas Câmaras de vereadores de Juiz de Fora (MG), Joinville (SC) e Vitória (ES).
Em Limeira (SP), onde tramitou projeto com teor semelhante, a consultoria técnica do Legislativo municipal manifestou-se contra, citando estudo realizado pelo sociólogo Fabrício de Sousa Sampaio em uma escola pública em Sobral (CE).
Um dos depoimentos que consta do trabalho mostra o efeito do uso do banheiro sobre alguns grupos de alunos.
“Na escola em questão, os visivelmente afeminados fogem do banheiro masculino por temerem represálias e a grande maioria –de acordo com relatos dos alunos José, Alisson e Pedro– ficam as aulas todas sem ir ao banheiro por justamente não serem aceitos no banheiro feminino”.
Os banheiros unissex, ou multigênero, passaram a ser implantados em algumas empresas e universidades nos últimos anos como uma forma de evitar discriminação contra a população trans no acesso a esse espaço.
Mas há uma distorção na forma como o tema é tratado, diz Viviane Vergueiro, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
“Não necessariamente a demanda da população trans parte da bandeira de banheiros multigênero ou unissex. Ela parte da ideia de que as pessoas trans, como todas as pessoas, têm o direito de utilização dos espaços públicos”, afirma.
Para Viviane, é um engano pensar que a transformação da iniciativa em tema de campanha afeta apenas a população trans.
“Muitas vezes as pautas da população trans não são somente da população trans. Elas são pautas para pessoas terem mais liberdade para se expressarem, terem direito a acessar espaços públicos sem discriminação, e isso não se restringe às populações trans.”
A manipulação do medo sobre a sexualidade das crianças já esteve fortemente presente nas eleições de 2018, com fake news sobre o material anti-homofobia analisado pelo Ministério da Educação no governo Dilma Rousseff (PT).
Pejorativamente chamado de “kit gay”, ele nunca chegou às salas de aula, mas voltou a circular em fake news na campanha de 2022.
Angela Pinho/Folhapress
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