Defasagem na gasolina dispara, mas Petrobras continuará sem reajustes


O preço médio da gasolina nas refinarias brasileiras atingiu a maior defasagem em relação às cotações internacionais desde junho, segundo os importadores de combustíveis. A direção da Petrobras, porém, defende que os preços estão alinhados e não há necessidade de reajustes.

Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o preço da gasolina no país estava 16%, ou R$ 0,63, abaixo das cotações internacionais na abertura do mercado desta quarta-feira (26). É o maior valor desde o dia 15 de junho.

Para o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), a defasagem chegou a 17,3%, ou R$ 0,69 por litro, no fechamento do pregão de terça (25). A escalada da defasagem, diz o CBIE, reflete maior demanda por gasolina nos Estados Unidos, que provocou um salto de 6% na cotação do combustível.

No caso do diesel as defasagens calculadas por Abicom e CBIE são de 13% (R$ 0,74 por litro) e 15% (R$ 0,84 por litro). Embora elevadas, estão menores do que as registradas na semana passada.

O longo período de defasagens —quase um mês, na avaliação da Abicom, e seis semanas, para o CBIE— sinaliza para o mercado que a direção da Petrobras vem cedendo a pressões do governo para segurar os preços até a votação do segundo turno das eleições, no próximo domingo (30).

Em reunião do conselho de administração nesta quarta, a direção da estatal defendeu que o recuo do preço do petróleo nos últimos dias alinhou os preços internos ao mercado internacional, eliminando a necessidade de ajustes.

Alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (PL), o conselho não questionou a avaliação. Atualmente, apenas dois membros têm posições divergentes ao governo: Francisco Petros, que representa os minoritários, e Rosângela Buzaneli, que representa os empregados da companhia.

Os outros nove membros estão mais próximos do governo, incluindo os outros três representantes dos minoritários, que são ligados ao banqueiro Juca Abdalla, maior acionista individual da estatal.

A Petrobras mexeu pela última vez no preço da gasolina no início de setembro, com corte de 7%. O preço do diesel foi alterado pela última vez no dia 19 daquele mês, com corte de 5,8%.

No final de setembro, as cotações do petróleo voltaram a subir, com o Brent chegando a bater os US$ 98 (R$ 521) por barril no dia 6 de outubro. Depois, recuaram até a casa dos US$ 88 (R$ 468) por barril, mas voltaram a subir, fechando o pregão desta quarta em US$ 95,69 (R$ 509) por barril.

Nesse período, a Refinaria de Mataripe, maior produtora privada de combustíveis no país, já realizou dois aumentos e um corte em seus preços de venda de gasolina e diesel. Os aumentos foram feitos nos dias 8 e 15 de outubro, e o corte, no último sábado (22).

A Petrobras, porém, sofre pressão do governo para não gerar notícias negativas durante a campanha do segundo turno, após ajudar no primeiro turno anunciando cortes quase semanais nos preços de vários combustíveis —chegou a anunciar mudanças em produtos que não tinham divulgação antes da eleição.

Com o fim dos cortes nas refinarias e já sem impacto das reduções de impostos federais e estaduais aprovados pelo Congresso no fim de junho, os preços voltaram a subir nos postos. A gasolina já teve duas altas consecutivas, e o diesel, uma.

PETROBRAS DIZ QUE DECISÃO SOBRE PREÇOS É TÉCNICA

Em nota, a Petrobras informou que “reafirma o alinhamento de preços com o mercado” e que “não existe uma referência única e percebida da mesma maneira por todos os agentes, sejam eles refinadores ou importadores”.

“Para demonstração, basta observar que duas renomadas agências de informação, Argus e Platts, publicam referências de preços para o Brasil com diferenças significativas entre elas”, argumenta.

A empresa diz que o monitoramento das cotações é feito diariamente e que a decisão de atualizar preços é integralmente técnica. “Por questões concorrenciais, não podemos antecipar decisões sobre manutenção ou reajuste de preços”.

Nicola Pamplona/Folhapress

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