MDB, PSDB, PDT e União negociam 2º turno sob pressão de alas contrárias a Lula ou Bolsonaro

Os principais partidos cujo apoio no segundo turno é disputado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) abriram rodadas de conversas internas e negociações que resultarão em anúncios ao longo desta semana, com rachas e posições de neutralidade também no horizonte.

PSDB, Cidadania e PDT têm reuniões programadas para esta terça (4), e o MDB deve decidir até quarta-feira (5), em meio a pressões de correligionários e falta de consenso, com alas favoráveis às três opções em aberto.

Há ainda a possibilidade de que os presidenciáveis Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) tenham postura diferente da oficializada por suas legendas, embora as sinalizações mais recentes apontem para alinhamento. Soraya Thronicke (União Brasil) disse que seguirá a decisão de sua sigla.

A União Brasil e o PSD, marcados por divisão entre lulistas e bolsonaristas, são considerados ainda incógnitas. A interferência das eleições nos estados onde haverá segundo turno é determinante no direcionamento de ambos os partidos, mas também impacta os demais.

Lula, que chegou na frente de Bolsonaro no segundo turno, é o mais interessado em agregar legendas à sua coligação, que tem nove partidos, além do PT (PC do B, PV, Solidariedade, PSOL, Rede, PSB, Agir, Avante e Pros). O comando petista disparou nesta segunda (3) uma ofensiva, com prognósticos otimistas.

A grande dúvida no momento é se será possível obter apoios formais de legendas que se somarem à aliança ou se apenas líderes, incluindo presidenciáveis, expressarão apoio.

Tebet, que fechou o primeiro turno em terceiro lugar, com 4% dos votos válidos, disse ainda no domingo (2) que não vai se omitir e cobrou dos partidos de sua coligação (MDB, PSDB e Cidadania) uma definição rápida. A adesão da senadora a Lula é dada como certa pelo PT e por pessoas próximas.

As discussões no MDB passam pelo presidente da legenda, Baleia Rossi, que não indica resistência a endossar Lula, mas busca manter a coesão interna.

As conversas envolvem também o ex-presidente da República Michel Temer. Segundo seu entorno, o emedebista ainda está reticente sobre uma reaproximação com o PT por causa das críticas da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) a ele e das propostas de rever reformas aprovadas sob seu governo.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), é outro que expõe abertamente objeção ao partido de Lula. Nesta segunda, ele defendeu que seu partido apoie o candidato de Bolsonaro no segundo turno da eleição para governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no embate contra o petista Fernando Haddad.

O PSDB, fragilizado pela derrota de Rodrigo Garcia na reeleição para o governo paulista, também está dividido entre Lula e Bolsonaro. A velha guarda tucana, que em parte declarou voto no petista ainda no primeiro turno, está mais propensa a reforçar a postura agora.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) anunciou nesta segunda apoio ao ex-presidente. No mesmo dia, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), declarou voto em Bolsonaro, usando como justificativa o envolvimento do outro lado com a corrupção. A bancada federal da sigla também tende ao atual mandatário.

A executiva nacional do PSDB disse ainda no domingo do primeiro turno que se reuniria nesta terça para discutir a liberação dos diretórios estaduais para se posicionarem como quiserem —sugerindo inclinação à neutralidade.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, emitiu comunicado avisando que encaminhou à executiva da legenda indicativo de apoio a Lula. O assunto está na pauta de encontro marcado para esta terça.

Ciro mostrou predisposição de acompanhar a decisão do PDT. Internamente, ele é pressionado a apoiar Lula, inclusive pelo presidente nacional da legenda, Carlos Lupi. O PT deve incorporar propostas do ex-presidenciável.

“Acho que ele [Ciro] vai seguir a orientação do partido, criou uma relação com o partido muito forte, comigo mais ainda. Acho muito difícil ele não acompanhar a orientação”, disse Lupi.

Líderes do PDT como Rodrigo Neves, que concorreu ao Governo do Rio de Janeiro, pregam coalizão com Lula. Deputados e o Movimento Sindical do PDT também reforçaram esse pleito.

No caso da União Brasil, há a expectativa de que o presidente da sigla, Luciano Bivar, leve a legenda a compor com Lula. Em jogo estão a oferta de espaço no eventual governo do petista e o apoio do Planalto à candidatura de Bivar para a presidência da Câmara dos Deputados.

O deputado divulgou nota nesta segunda afirmando que a União trabalhará “sempre em defesa da democracia, do Estado de Direito e daqueles que querem o Brasil mais próspero, mais justo e mais sereno”, o que foi entendido como sinalização pró-Lula. A legenda, no entanto, abriga bolsonaristas, que querem aliança com o presidente ou, no máximo, neutralidade.

A decisão da União Brasil pode ainda ser afetada pela discussão que o partido abriu com o PP em torno de uma eventual fusão. O PP é um dos partidos de sustentação do atual governo.

Na campanha de Bolsonaro, os planos para o fortalecimento no segundo turno priorizam ações voltadas diretamente ao eleitor, sem uma busca incisiva por formalização de novas adesões partidárias —embora, é claro, estejam no radar. O candidato à reeleição tem recebido apoios isolados até aqui.

A coligação, que hoje tem PL, PP e Republicanos, espera o endosso do PTB de Padre Kelmon. O religioso fez dobradinha com o presidente em debates e foi chamado por Lula de “candidato laranja” —ele assumiu a candidatura do PTB após o ex-deputado Roberto Jefferson ser impedido pela Justiça Eleitoral.

O Novo, do presidenciável Felipe D’Avila, divulgou nota em que libera os filiados a votarem conforme sua consciência no segundo turno entre Lula e Bolsonaro, mas disse que “o partido se vê na obrigação de reforçar seu posicionamento institucional histórico, totalmente contrário ao PT, ao lulismo e a tudo o que eles representam”.

Horas antes, nesta segunda-feira, o principal nome do Novo, Romeu Zema, reeleito governador de Minas Gerais no primeiro turno, anunciou apoio a Bolsonaro e reforçou o discurso antipetista, dizendo que é preciso “evitar que o desastre do passado se repita”.

Partidos que tentaram se distanciar da polarização eleitoral no primeiro turno, como é o caso do Podemos, que compôs a coligação de Tebet, mas teve participação tímida na campanha, também discutem o que fazer agora.

Há ainda uma variedade de partidos nanicos que podem se pronunciar, em parte movidos pela expectativa de vitória de cada um dos postulantes que passou à segunda fase do pleito.

Um ato marcado para quinta-feira (6) pelo grupo Direitos Já poderá ser uma prévia da disposição de partidos a apoiarem Lula. O movimento, que se descreve como fórum pela democracia, convidou representantes de mais de 15 legendas para o encontro, que já estava agendado previamente.

Segundo o coordenador do fórum, Fernando Guimarães, que está envolvido na campanha do petista, a ideia é expressar respeito ao sistema eleitoral e ao resultado das urnas, além de discutir uma aglutinação em torno do petista.

“Esta eleição delimita muito claramente qual é o campo democrático. O esforço é para que os partidos nem sequer hesitem em estar com o candidato [Lula]”, diz ele, que fala em “frente ampla contra o projeto autoritário” de Bolsonaro.

Joelmir Tavares, Carolina Linhares, Mariana Zylberkan, Julia Chaib, Danielle Brant, Ricardo Della Colletta e Marcelo Toledo/Folhapress

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