Número de eleitores no exterior cresce, mas abstenção é ponto de atenção

A eleição brasileira será realizada em todo o mundo neste domingo (2). No exterior, 697 mil expatriados e registrados para votar fora do país poderão apontar seu favorito apenas para a Presidência.

O número representa uma alta de 39% em relação ao que havia quatro anos atrás. Ao todo, 989 urnas eletrônicas foram enviadas a 159 cidades de 98 países —além de 29 urnas de lona. Ancara, por exemplo, apesar de contar com apenas 58 brasileiros registrados para votar, foi uma delas.

A capital turca teve um resultado bem apertado no segundo turno de 2018, com Jair Bolsonaro levando 53% dos votos e Fernando Haddad, 47%. Só que a votação não foi lá muito expressiva, com um quórum de apenas 15 eleitores. Em números absolutos, Bolsonaro ganhou por 8 a 7 —há quatro anos, havia menos brasileiros aptos a votar, 40 no total.

Os países com o maior número de votantes brasileiros são Estados Unidos, Portugal, Japão, Itália e Alemanha.

A eleição no exterior, de toda forma, é pouquíssimo relevante no cômputo geral. Considerando que 115,7 milhões de brasileiros votaram no Brasil no segundo turno de 2018, os 206 mil votos da diáspora representaram apenas 0,18% desse universo.

E, como se vê no caso de Ancara, a abstenção costuma ser alta. Dos 500 mil expatriados que podiam votar em 2018, só 41% deles o fizeram —295 mil (59%) preferiram fazer outra coisa no dia. Uma das razões para isso é que nem sempre os brasileiros moram aonde são levadas urnas, dificultando o acesso aos locais de votação.

Outra coisa a se considerar neste ano é que há uma diminuição no número de cidades. Geralmente, capitais ou sedes de consulados brasileiros recebem as urnas; fora isso, elas foram enviadas a 21 locais com grandes colégios eleitorais. Mas no total, serão 159 cidades no mundo, contra 171 que mandaram votos em 2018. A Itália, por exemplo, perdeu Florença e Veneza.

Na Espanha, haverá urnas em Madri e Barcelona. “Temos cerca de 20 mil eleitores em Madri, mas a abstenção geralmente é de mais de 50%”, diz o cônsul-adjunto do Brasil Roberto Arraes. Ele esperlha a que a eleição transcorra sem violência. “Não houve confusão em 2018 e não temos notícias de movimentação nesse sentido. Estamos apostando que será tranquilo.”

Em Portugal, por outro lado, groupos de esquerda temem agressões próximas aos locais de votação. Lisboa se tornou neste ano a cidade com o maior número de eleitores brasileiros fora do Brasil: 45,2 mil, mais do que o dobro do registrado na última eleição presidencial.

Debruçando-se nos dados de 2018 na Europa, dados curiosos aparecem. Dos cerca de 65 mil votos do continente, 55,5% foram para Bolsonaro, porcentagem parecida à vista no Brasil (55,13%).

Ancara nem foi a cidade com menos votantes há quatro anos; a taça pertence a Zagreb, capital da Croácia, com seus 13 votos. Ali, Bolsonaro ganhou de 8 a 5, com 62% do total. Do menor para o maior: 62% também foi a porcentagem com que o presidente venceu no então maior colégio eleitoral na Europa, Londres. Dos 8.495 votos, 5.227 foram para ele.

Em Paris, porém, a coisa foi diferente — Fna capital francesa, o Consulado-Geral do Brasil teve de alugar um novo espaço, no 9º distrito, para receber todos os eleitores brasileiros, que virão também de outras cidades no país.

Em 2018, Haddad se deu melhor, com 70% e 2.953 votos, contra 1.299 do concorrente. A capital francesa, aliás, se revela definitivamente um ponto fora da curva. Se fosse pelos brasileiros que vivem ali, Bolsonaro nem teria chegado ao segundo turno. No primeiro turno, o vencedor foi Ciro Gomes (PDT), com 1.394 votos (31%) seguido de Haddad, com 1.555 (25,8%), e Bolsonaro, 1.127 (25,2%).

Mas como não é Paris quem escolhe o presidente do Brasil, isso de nada adiantou. Talvez seja a razão, porém, pela qual Ciro gosta de Paris. Ali, ele já foi o primeirão.
Ivan Finotti / Folha de São Paulo

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