Receio de virar alvo de Moraes leva Fábio Faria a recuar em caso de rádios, dizem aliados

Aliados do ministro Fábio Faria (Comunicações) avaliam que o receio de se tornar alvo de investigação foi um dos principais fatores que o levaram a recuar da ofensiva que havia encabeçado para alegar suposta fraude na veiculação de inserções de Jair Bolsonaro (PL) em rádios do Nordeste.

Faria convocou jornalistas na noite de segunda-feira (24) para “acompanhar a exposição de um fato muito grave”, no Palácio da Alvorada. A entrevista coletiva foi feita ao lado do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten, que trabalha na campanha bolsonarista.

Segundo relatos feitos à reportagem, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) procuraram Faria e teceram duras críticas às alegações que haviam sido feitas e que poderiam ser vistas como falsas acusações de fraude eleitoral. Eles disseram ainda que o relatório com a tese do suposto boicote era uma forma de tentar constranger o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O ministro ouviu de integrantes do STF também a avaliação de que o pedido soava abusivo e que anunciar a medida na televisão, em tom alarmista, não parecia uma forma eficaz de conseguir solucionar qualquer eventual problema.

Aliados do ministro no Judiciário alertaram-no que ele poderia ser investigado caso não conseguisse comprovar as acusações que havia feito.

O ministro Alexandre de Moraes, além de presidir o TSE, é relator de inquéritos no Supremo que têm Bolsonaro e seus aliados como alvos. Enquanto alas do bolsonarismo se digladiam com o magistrado, ministros vinculados ao mundo político sempre tentaram evitar essa disputa.

Em conversas de bastidores, Faria disse que ficou aliviado quando se afastou do caso, e que não teria motivo para ele ser investigado após tomar distância. O problema, segundo ele, foi o fato de apoiadores de Bolsonaro passarem a defender adiamento do segundo turno com base nas acusações, o que atrapalhou qualquer tentativa de acordo com o TSE sobre as inserções.

Faria disse ainda ter se arrependido profundamente de ter participado da entrevista coletiva. “Se eu soubesse que [a crise] iria escalar, eu não teria entrado no assunto”, afirmou.

Agora, o ministro busca se distanciar do que chamou de “fato muito grave” quatro dias antes, e atribui responsabilidade à legenda do presidente.

“A falha era do partido [PL], que percebeu o problema tardiamente, e não do tribunal. Como havia pouco tempo para o TSE fazer uma investigação mais aprofundada, eu iniciei um diálogo com o tribunal em torno do assunto”, afirmou.

Na segunda, Faria surpreendeu a todos, inclusive aliados, quando convocou a imprensa nas suas redes sociais.

Ele e Wajngarten, adversários até recentemente, contaram, sem apresentar provas, que a campanha havia constatado que rádios no Nordeste, em especial na Bahia, não estariam veiculando inserções de Bolsonaro. O presidente tem desvantagem eleitoral na região.

O TSE pediu documentos que embasassem as supostas denúncias. O material fornecido pela campanha, no entanto, tinha uma série de fragilidades. Na quarta-feira (26), Moraes rejeitou a ação, disse que não há provas e que ela se baseava em levantamento de empresa “não especializada em auditoria”.

Moraes apontou ainda possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana” e mandou o caso para ser avaliado dentro do inquérito das milícias digitais, que é relatado por ele mesmo no STF.

Nesse intervalo entre a coletiva de imprensa e a decisão de Moraes, Faria submergiu. Apesar de ter falado sobre “fato muito grave”, parou de abordar o tema publicamente ou em redes sociais.

Ao menos 6 das 8 rádios citadas pela campanha negam as acusações e dizem ter provas de que veicularam as inserções. Também revelou que uma das rádios que integrava a relação das emissoras que supostamente teriam privilegiado Lula é do próprio pai de Faria.

Segundo relatos, a ideia de questionar a suposta falta de inserções nas rádios do Nordeste partiu de Wajngarten, que buscou apoio de Faria. Depois, com a bênção de Carlos Bolsonaro, levaram a ideia ao presidente, que autorizou a coletiva.

Antes de dar a declaração, o ministro teria sondado integrantes do TSE e ouviu que a suspeita teria pouco fundamento.

A campanha do presidente se dividiu desde o princípio sobre o caso das inserções de rádios do Nordeste. Uma parte dos integrantes do governo e do núcleo duro da equipe de reeleição de Bolsonaro avaliou que ele era frágil e só seria uma tentativa de criar um fato novo às vésperas do segundo turno.

Aliados contrários à tese foram além: queixaram-se de que a coletiva à imprensa foi feita de forma improvisada, e que passou a imagem ao eleitor de que Bolsonaro busca uma justificativa para um eventual insucesso nas urnas.

Depois da decisão do TSE de rejeitar a ação, Bolsonaro mudou sua agenda de campanha em cima da hora, na noite de quarta (26), para fazer um pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada e realizar uma reunião depois, com ministros e comandantes das Forças Armadas.

Apesar de expectativas de radicalização ou temor de que Bolsonaro pedisse, por exemplo, adiamento das eleições, o presidente apenas criticou Moraes, disse que foi prejudicado eleitoralmente e que recorreria até o fim.

Na tarde desta sexta, Wajngarten, que participou da coletiva ao lado de Faria, disse que a “campanha do presidente Bolsonaro jamais cogitou pedir adiamento da eleição”.

O ex-Secom disse ainda não ter arrependimento em relação ao caso apresentado e que eles apenas denunciaram “um gravíssimo prejuízo” à campanha e solicitaram “reposição das inserções que nos foram tiradas injustamente, como o ministro Faria disse”.

Julia Chaib/Marianna Holanda/Folhapress

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