Flordelis diz que apanhava de marido e suportava por ser evangélica

Ao ser ouvida em juízo neste sábado (12), em Niterói (RJ), a ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza relatou que pouco tempo após casar-se com o pastor Anderson do Carmo, a quem acolheu como filho aos 15 anos, passou a viver uma rotina de violência.
“Até na hora do sexo, meu marido só chegava às vias de fato se me machucasse. Ele me enforcou uma vez, desmaiei”, disse.

Desde a última semana, Flordelis está sendo julgada no Tribunal do Júri, acusada de ser a mandante do assassinato de Anderson, morto a tiros na casa em que viviam, em 2019. Ela nega as acusações.

O autor dos disparos, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi condenado em novembro de 2021 a quase 30 anos de prisão.
Ainda segundo fala de Flordelis neste sábado, ela não denunciou o marido pela violência por ser evangélica. “Orava muito, fazia jejum, acreditava em Deus. (…) Aprendi com minha mãe e com a igreja que a mulher deveria ser submissa. Uma vez um pastor conversou com ele, e ele parou de me bater. Mas depois voltou. Voltei a orar e pedir para que outra pessoa aparecesse”, disse.

Ao final do seu relato, Flordelis se dirigiu aos jurados e negou participação no crime.

“Só queria dizer para a senhora [juíza] e jurados que estão aqui que eu, em momento algum, mandei ou pensei em matar meu marido. Em momento algum. Estou na cadeia pagando por algo que não fiz. Amava meu marido. Está sendo muito difícil a vida para mim”, disse, chorando.

A pastora responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Flordelis afirmou que só passou a saber de abusos sexuais a outros filhos após a morte de Anderson. “Tomei conhecimento somente da Kelly. Mas não quis acreditar. Não acreditava que ele cometeria tal coisa comigo e por tudo que eu parecia representar na vida dele.”
O primeiro réu a falar neste sábado foi o filho adotivo André Luiz de Oliveira. Ele afirmou ser inocente das acusações de envolvimento no planejamento da morte de Anderson.

Sobre o relacionamento do pastor e Flordelis, a quem diz considerar como pai e mãe, contou que “ele a tratava como uma princesa”. Um dos tesoureiros da igreja Flordelis, ele disse que a renda mensal da congregação era de R$ 120 mil a R$ 180 mil.

Também depôs Rayane dos Santos Oliveira, neta de Flordelis e que foi adotada por Simone Rodrigues, outra ré. Ela relatou uma série de abusos por parte de Anderson. “Nunca quis denunciar pois era grata à vida que ele me proporcionou”, disse.

Bruna Fantti / Folhapress

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