Júri popular de Flordelis começa nesta segunda; defesa quer mostrar pastor como ‘predador sexual’
A ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza será levada a júri popular nesta segunda-feira (7), acusada de ser a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo. Ele foi morto a tiros na garagem da residência da família em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 2019.
A pastora, presa desde agosto do ano passado, é ré por suspeita de homicídio triplamente qualificado —por motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima—, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Flordelis nega todas as acusações e diz que os promotores que a acusam trabalham para desconstruir sua imagem “como ser humano, como pastora”.
O julgamento está marcado para as 9h desta segunda, no Tribunal do Júri de Niterói. Também serão julgados André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos adotivos de Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da pastora, e Rayane dos Santos Oliveira, neta da ex-deputada. Por causa do número de réus, a expectativa é que o julgamento ocorra em mais de um dia.
Inicialmente, o júri começaria no dia 12 de dezembro, mas foi antecipado por causa da Copa do Mundo —as semifinais da competição estão marcadas para os dias 13 e 14.
À Folha, o advogado Rodrigo Faucz, que representa Flordelis, Marzy, André e Rayane, disse que a defesa vai apresentar ao júri dados captados pela nuvem do celular do pastor Anderson do Carmo. O aparelho, no entanto, nunca foi encontrado.
De acordo com Faucz, o material traz pesquisas feitas por Anderson para a contratação de garotas de programa, além de casas de swing. O advogado afirma que há imagens inéditas do pastor em um desses clubes.
“Esses dados do celular dele mostram que ele era um predador sexual. Temos a prova de um contato que ele faz com uma dessas acompanhantes e a geolocalização, que mostra que ele foi. Através da geolocalização também conseguimos provar que ele ia sozinho, sem a companhia da Flordelis. Ele aproveitava datas em que ela estava em Brasília para contratar essas acompanhantes”, afirmou.
A advogada Daniela Corrêa Grégio Leite, que cuida da defesa de Simone, disse que irá mostrar conversas que provariam que sua cliente sofria abuso sexual. Simone já assumiu que mandou matar o padrasto porque era abusada por ele, isentando a mãe de culpa no crime.
Segundo a defesa, Simone aceitava fazer sexo com o pastor para conseguir manter seu tratamento contra câncer de pele, já que, segundo ela, era Anderson quem controlava o dinheiro da família.
A advogada disse ainda que “Simone está definhando na cadeia” e que desde o início do processo precisa de acompanhamento constante para tratar o câncer e mais de 30 tumores. Segundo ela, dois médicos vão depor como testemunha.
Ângelo Máximo, advogado da família de Anderson do Carmo, nega as acusações contra o pastor.
“A prova que está no processo é a de que Anderson foi vítima de um brutal homicídio perpetrado pela sua esposa, a mando dela, com a participação de filhos. Agora estão querendo acusá-lo de estupro, de abuso sexual, o que é inadmissível. No Tribunal do Júri, nunca vi saírem vitoriosas teses como essa, que acusam a vítima que não está mais aqui para se defender”, disse.
Anderson tinha 42 anos quando foi assassinado na garagem de casa que morava com Flordelis e mais 35 filhos. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo, nove delas na região de coxas e virilha.
A pastora, que estava com a vítima no momento do crime, relatou em depoimento que o marido teria sido morto em um assalto. A versão de latrocínio, porém, logo caiu por terra.
O inquérito sobre a morte do pastor foi concluído em agosto de 2020 com o indiciamento de Flordelis como mandante do crime. Outras dez pessoas foram indiciadas por suspeita de participação no crime, tentativa de fraudar provas e atrapalhar o andamento das investigações.
Segundo a polícia, o crime foi motivado por questões financeiras e poder na família.
As investigações revelaram ainda que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos colocando arsênico e cianeto na comida dele. Anderson passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.
Após a conclusão do inquérito, o PSD anunciou a suspensão da filiação da então deputada. Já em 11 de agosto do ano passado, ela teve seu mandato cassado por 437 votos favoráveis. Dois dias depois, a ex-parlamentar foi presa em sua casa, em Niterói.
JÁ CONDENADOS
Seis réus já foram julgados. Logo após o crime, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi preso apontado como autor dos disparos, e Lucas Cezar, filho adotivo, por suspeita de ter conseguido a arma do crime. A pistola foi encontrada na casa da ex-deputada.
Flordelis chegou a apresentar uma suposta carta escrita por Lucas, na qual ele assumiria sozinho a autoria do crime, inocentava Flávio e atribuía a mentoria a outro irmão. Meses depois, a investigação encontrou indícios de fraude na correspondência.
Por ter confessado ter executado o padrasto, a Justiça reduziu a pena de Flávio de 33 anos para 29 anos, três meses e 20 dias de prisão. Além do homicídio, ele foi condenado por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, associação criminosa armada e uso de documento falso.
Já Lucas Cezar foi condenado a nove anos de prisão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado.
Adriano dos Santos Rodrigues, também filho biológico da pastora, foi condenado a quatro anos, seis meses e 20 dias de prisão em regime semiaberto por associação armada e uso de documento falso. Por esses mesmos crimes foram condenados Andrea Santos Maia e o marido dela, o ex-PM Marcos Siqueira Costa, que eram amigos da família. Ela recebeu uma pena de quatro anos, três meses e dez dias em regime semiaberto, enquanto o ex-PM foi condenado a cinco anos e 20 dias de prisão em regime fechado.
Filho afetivo de Flordelis, Carlos Ubiraci Francisco da Silva foi condenado a dois anos, dois meses e 20 dias em regime semiaberto, pelo crime de associação criminosa armada. Depois, a Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Rio concedeu liberdade condicional a Ubiraci.
Flordelis espera pelo julgamento no Instituto Penal Talavera Bruce, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio.
Aléxia Sousa/Folhapress
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