Manifestantes fazem atos em frente a prédios militares
Apoiadores golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL) fazem atos com pedido de golpe militar em diferentes pontos do país nesta quarta-feira (2). Eles cobram a ação das Forças Armadas para uma intervenção militar após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais.
Lula foi eleito pela terceira vez e assumirá um novo mandato em 1º de janeiro. Já Bolsonaro, que repetiu declarações golpistas ao longo de seu mandato, amargou uma inédita derrota de um presidente que disputava a reeleição no país.
Os atos golpistas desta quarta-feira têm o incentivo de Bolsonaro. No pronunciamento de terça-feira (1º), ele criticou o processo eleitoral e disse que “manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas”. O presidente apenas criticou os métodos usados por seus apoiadores no bloqueio de estradas pelo país.
Há manifestações em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, por exemplo, os golpistas se concentram na praça Duque de Caxias, na região central da cidade.
Em São Paulo, milhares de manifestantes golpistas se concentram em frente ao Comando Militar do Sudeste, na região do parque Ibirapuera (zona sul), cobrando “intervenção federal”.
Vestindo camisetas da seleção e com bandeiras do Brasil, os golpistas protestaram contra o sistema de Justiça gritando “supremo é o povo” e pedindo que militares deem um golpe de estado.
Os manifestantes seguravam placas com mensagens em inglês por resistência civil. Eles cantavam o hino nacional e aumentavam o tom dos gritos e levantavam as bandeiras quando viam algum helicóptero da imprensa.
Nas rodinhas, circulavam teorias da conspiração como que uma suposta fraude teria sido comprovada nas eleições e a de que não era para comprar água vendida pelos ambulantes, pois petistas teriam colocado algo para contaminá-los.
A maior concentração se dá na avenida Mário Kozel Filho, mas ruas dos arredores também têm muitos manifestantes.
No fim da manhã, apoiadores de Bolsonaro começaram a circular de carro pelas ruas ao redor do Comando Militar do Sudeste, agitando bandeiras e buzinando.
Mesmo com a chuva à tarde, muitos bolsonaristas ainda caminhavam a pé pelo bairro, indo e voltando do quartel do Exército.
Os apoiadores do presidente gritavam “fora, Lula” e “Brasil”. Moradores responderam ao buzinaço de suas janelas, gritando “Bolsonaro ladrão”.
Apesar das várias ruas tomadas na região do Ibirapuera, os golpistas em suas conversas estimavam um público irreal de um milhão de pessoas.
Alguns manifestantes usavam megafones na tentativa de chamar a atenção dos militares, sem sucesso. A reportagem não visualizou nenhum deles do lado externo do prédio do Exército.
Na falta de militares, um tanque de guerra estacionado do lado externo do quartel virou atração entre os manifestantes, que se enfileiravam para tirar selfies.
Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) eram os mais atacados. Entre eles, Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), era o principal alvo dos protestos, sob gritos de “cabeça de ovo, supremo é o povo”.
Na cola da multidão de bolsonaristas, protesto havia muitos camelôs vendendo bandeiras, buzinas, cartazes em inglês com pedido de golpe e camisetas da seleção.
Alguns caminhoneiros, categoria que vem liderando protestos em rodovias, compareceram com seus veículos.
O ato gerou congestionamentos em ruas da região, sendo a avenida Brigadeiro Luis Antônio uma das mais afetadas.
Na zona norte, manifestantes golpistas fecharam a avenida Alfredo Pujol, em Santana, em frente ao Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército.
O trânsito ficou bloqueado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) no trecho entre as ruas Chemin Del Pra e Embaixador João Neves da Fontoura.
Em sua maioria formado por idosos e pessoas brancas de meia-idade, os manifestantes se concentraram em um trecho bem menor de cerca de 50 metros, com placas de “Intervenção Já!” e gritos de “eu autorizo”.
Nas conversas entre golpistas, eles definiam esta quarta-feira como o “dia D”, criticavam o ministro Alexandre de Moraes e esperavam uma reação dos militares. Um deles disse que, “se o Exército entrar, aí a gente vai todo dia para rua”.
Enquanto a reportagem esteve no local, não ocorreu nenhuma interação por parte dos militares com os golpistas. O congestionamento na rua Alfredo Pujol foi grande, e os veículos foram desviados.
Manifestantes que estavam no km 26 da rodovia Castelo Branco no fim da manhã desta quarta-feira se dirigiram ao AGSP (Arsenal de Guerra de São Paulo) para dar sequência aos protestos antidemocráticos que faziam até ser dispersados.
A base militar também fica em Barueri (SP), a cerca de 1 km do local onde ocorreu o conflito com a tropa de choque da PM (Polícia Militar). Após a ação policial, parte do público que se concentrava às margens da rodovia iniciou uma caminhada até a AGSP.
No local, homens, mulheres e crianças empunhavam bandeiras, exibiam cartazes golpistas e convidavam motoristas a se juntarem a eles. A chuva que começou a cair no horário fez com que parte do público retornasse aos veículos estacionados na beira da rua. Carros de som, que tocavam o Hino Nacional, abaixaram o volume.
Artur Rodrigues/Carolina Linhares/Folhapress
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