Pix por gol, pagamento em 30 vezes, milhas: vale tudo para vender televisão na Copa

TV usada, milhas aéreas, parcelamento em 30 vezes e até Pix por vantagem de gols do Brasil na Copa. As varejistas partem para o vale-tudo neste fim de ano para convencer o brasileiro a trocar o seu televisor, categoria de eletroeletrônicos que registrou queda de 22% nas vendas no país no ano passado.

Em todo o mundo, o evento esportivo costuma servir como alavanca para a venda de TVs, cujos fabricantes apresentam novas tecnologias a cada quatro anos. Mas o aparelho tem ficado cada vez mais em segundo plano nas residências diante da digitalização do conteúdo, com a possibilidade de assistir filmes e séries em tablets e smartphones, por exemplo.

Nesta Copa, a expectativa é que sejam vendidas 1,5 milhão de unidades, disse à Folha Fernando Baialuna, diretor de negócios e varejo da GfK, consultoria especializada no mercado de eletroeletrônicos. “O Brasil tem uma demanda reprimida de 8,5 milhões de televisores”, diz o executivo, referindo-se a aparelhos obsoletos, na maioria de tubo.

GOL DA SELEÇÃO VALE PIX

A rede Casas Bahia promete até pagar Pix por número de gols que a Seleção Brasileira fizer no torneio mundial. Se o cliente comprar hoje uma TV de 55 polegadas da LG tecnologia 4K Qned, por exemplo, oferecida a R$ 4.000, vai ganhar R$ 200 de Pix a cada gol que o Brasil tiver de vantagem sobre o seu primeiro adversário na Copa, a Sérvia, em 24 de novembro.

“Se o Brasil fizer quatro gols e a Sérvia fizer um, o cliente que comprou a TV vai ganhar um Pix de R$ 600, para gastar como quiser, não precisa ser na Casas Bahia”, diz Abel Ornelas, vice-presidente comercial e de operações da Via, dona das redes Casas Bahia e Ponto. Para receber o dinheiro, porém, o cliente precisa abrir uma conta no banco digital do grupo, o BanQi.

A promoção dura enquanto o Brasil participar da Copa e só vale para o jogo seguinte ao da compra. Não está restrita à categoria TV, mas este é um dos itens mais caros que participam da ação, que promete distribuir pagamentos via Pix de R$ 50 a R$ 2.000 por gol em produtos selecionados.

A campanha “Gol de Pix” foi lançada em setembro e começou a valer nos dois jogos amistosos do Brasil no mês: contra Gana, no dia 23 (Brasil venceu por 3 x 0), e contra a Tunísia, no dia 27 (vitória do Brasil por 5 x 1).

“Tivemos clientes que já ganharam até R$ 4.000 em Pix”, diz Ornelas. “Nossa expectativa é aumentar o volume de vendas de TVs este ano entre 25% e 30%”, afirma.

Em parceria com o Bradesco, a Casas Bahia também oferece as TVs em 30 vezes sem juros. “Está tendo uma grande procura por aparelhos de tela grande, de 65 polegadas”, diz o executivo. No site, os modelos disponíveis hoje neste tamanho chegam a R$ 13 mil.

MAIS DE 80% DAS RESIDÊNCIAS JÁ TÊM TV DE TELA FINA, DIZ IBGE

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a TV é um dos aparelhos de maior presença no país: está em 95,5% do total dos lares. Em 84% dessas residências, as salas já têm modelos de tela fina (LED, LCD ou plasma), que se tornaram populares no início dos anos 2000.

Em um ano marcado pela inflação e pelo aperto no poder de compra da população, o varejo precisa convencer o consumidor que é hora de trocar seu aparelho de duas décadas atrás, partindo para uma smart TV (com acesso à internet), ou para um aparelho com telas de alta resolução, com tecnologias como Oled, Qled e 8K.

Na opinião de Baialuna, da GfK, o varejo vai se dedicar neste fim de ano à oferta de modelos “premium que cabem no bolso”. “A maior parte dos consumidores pauta a compra da TV pelo tamanho da tela”, diz o consultor. “É possível encontrar TVs de 55 polegadas por R$ 2.200. Algumas com uma resolução melhor de tela –4K, que não é tão avançada como a 8k, mas é muito boa– por até R$ 3.500”, diz ele. “O que vale é ressignificar o que é premium neste momento mais econômico.”

Na tentativa de atender esse público, o Magazine Luiza fechou parceria com uma fabricante chinesa para o lançamento da linha de TVs Vizzion no Brasil. São smart TVs de 32, 43 e 50 polegadas, cujos preços variam hoje de R$ 1.199 a R$ 5.999 –alguns com tecnologia 4k.

“São produtos que custam entre 15% e 20% menos que as marcas tradicionais, oferecendo uma tecnologia compatível”, diz Fábio Gabaldo, diretor comercial de tecnologia do Magalu. Segundo ele, os produtos têm garantia de dois anos, bancada pelo Magalu.

Diante da queda de 20% das vendas em unidades no ano passado, observada por todo o mercado, Gabaldo reconhece que o varejo chegou ao primeiro semestre deste ano bem estocado de TVs. “Mas desde agosto a venda da categoria vem crescendo, semana a semana”, diz o executivo, que prevê que o Magalu aumente as vendas do segmento em 30% neste segundo semestre, em comparação ao mesmo período de 2021.

Para ajudar a atingir a meta, a empresa também lançou no início de outubro a promoção “Troca Tudo”: os consumidores podem oferecer eletrônicos usados –como TVs, celulares, tablets, notebooks e smartwatches– para conseguir descontos na troca por um televisor novo.

TV DE 70 POLEGADAS POR 700 MIL MILHAS

Quem também está atento às pechinchas em televisores são os clientes da companhia aérea Azul. No acumulado do ano, até o último dia 25 de outubro, o número de resgates de TVs no site do programa de milhagem da empresa, o Tudo Azul, mais do que dobrou em relação ao mesmo período do ano passado: alta de 103%.

De acordo com Marco Leite, gerente de parcerias da Azul, o tíquete-médio gasto pelo cliente no site avançou de R$ 2.400 no ano passado para R$ 4.500 este ano na categoria televisores.

O resgate mais alto até o momento foi o de um cliente que pagou 700 mil pontos por uma TV de 70 polegadas da Samsung, tecnologia QLED 4k. Um aparelho cujo preço no varejo é de R$ 11,2 mil.

No site de resgates, a operadora tem parceria com grandes varejistas, como Magalu, Americanas e Extra. O valor dos produtos é apresentado em pontos. As empresas pagam uma comissão pela venda no portal da Azul que, segundo Leite, repassa este desconto para o valor do produto. “É uma maneira de fidelizar meu cliente.”

PREÇO DAS TVS VÃO DE BICICLETA ZERO A CARRO SEMINOVO

Os dois maiores fabricantes de televisores do país, as coreanas LG e Samsung, realizam promoções nas suas respectivas lojas online para incentivar as vendas, mas de maneiras diversas.

Enquanto a LG promove modelos com as tecnologias Oled e Qned, acima de 55 polegadas, que custam entre R$ 6.000 e R$ 50 mil, a Samsung apresenta um parcelamento de até 24 vezes sem juros a quem tiver o cartão da marca, emitido em parceria com o Itaú –condição que vale para TVs que custam a partir de R$ 1.500.

“Vamos fechar o ano com um pequeno crescimento, de 3% na categoria TVs como um todo, mas a venda do nosso segmento premium de televisores deve avançar 30% em valor”, diz Cintia Viani, gerente de produtos TV da LG do Brasil.

“O consumidor quer ter uma experiência diferenciada para assistir aos jogos, algo que só é possível com as novas tecnologias”, diz a executiva, referindo-se aos sistemas “dolby vision” e “dolby atmos”, que se propõem a reproduzir, na sala de casa, a experiência da tela e do som do cinema. Como vantagens, a LG oferece instalação e suporte da TV grátis aos clientes, além do frete liberado.

Érico Traldi, diretor de TV e áudio da Samsung Brasil, reforça que a Copa é o fator que mais motiva o consumidor a trocar de aparelho.

Neste início de mês, a Samsung oferece um novo pacote de promoções das telas premium. “Queremos incentivar as vendas antes da Black Friday [25 de novembro], para que o consumidor assista ao primeiro jogo do Brasil, no dia 24, já com a TV nova.”

A maior aposta da Samsung é um modelo de 85 polegadas, tecnologia 8K, que custa R$ 49 mil. Mas a marca também trabalha com televisores a partir de 32 polegadas, que custam R$ 1.499. “O mercado deve crescer 11% este ano em faturamento”, diz Traldi.

De acordo com a consultoria GfK, em 2018, ano da Copa da Rússia, as vendas de TVs no Brasil cresceram 15,3% em unidades e 19,2% em faturamento (valores nominais, não corrigidos pela inflação). De lá para cá, houve perda de fôlego, mesmo com as pessoas ficando mais em casa durante a pandemia, até desembocar na queda de 22,2% em unidades e 4,5% em valor no ano passado.

No acumulado de janeiro a agosto deste ano, a venda em valor aumentou 6,5%, enquanto a venda em unidades subiu 2,8%.

Ao lado dos smartphones e da linha branca, as TVs estão entre as três principais categorias do varejo. “A Black Friday funciona para venda de perfumes, chocolates, smartphones –tudo o que é indulgente. Já o Natal, com presentes para todo mundo, é pautado pela lembrancinha”, diz Baialuna, da GfK. “A Copa é a grande chance de vender TVs.”

Para ajudar no convencimento do consumidor, diz ele, a Seleção Brasileira tem um papel fundamental. “Quanto mais o Brasil passar de fase, maiores as chances de levar para casa uma televisão nova.”

Daniele Madureira / Folha de São Paulo

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