Prevalência de Lula em eleição reflete fracasso de modelo administrativo do PT na Bahia, por Raul Monteiro*
Circula no alto escalão do PT baiano a informação de que, no momento em que foi apresentada à candidatura de Jerônimo Rodrigues ao governo, a equipe de marketing escalada para cuidar de sua campanha pensou inicialmente em criar uma personalidade política para o ex-secretário estadual de Educação. A compreensão de que recebia em mãos um poste, eufemismo auto-explicativo, levara à ideia de basicamente unir os dados biográficos do candidato àqueles de sua passagem por secretarias no governo Rui Costa para tentar apresentá-lo como a melhor opção de escolha pelo eleitorado para comandar o Estado da Bahia na linha da continuidade à gestão petista.
O comando político da campanha, no entanto, sabiamente vetou a proposta. Além de alegar que não havia tempo hábil para a construção de uma imagem para Jerônimo, por melhor que a concebessem, seus membros disseram explicitamente ao time encarregado de sua comunicação que não se podia correr o risco de inventar a roda quando todos tinham à plena disposição a figura do candidato presidencial Lula com que contar para alavancar o seu nome. Foi assim que o marketing ‘jeromista’ recorreu ao Santo Lula, o fazedor de milagres eleitorais, dando ao baiano a fisionomia do seu número 13 ou simplesmente de candidato dele ao governo, o que o levou à vitória.
Como, tradicionalmente, no Brasil, e provavelmente em toda a parte, o que importa é vencer, a história parece estar hoje tão no passado quanto o enorme sufoco que o grupo governista passou para ganhar a eleição do último dia 30, iniciado com o conturbado processo que levou à escolha de Jerônimo como candidato, de que todo mundo tem pleno conhecimento. O que não se pode suprimir da análise, no entanto, é o fato de que mesmo tendo 16 anos à frente do governo, com sucessivas vitórias, e uma prosaica alta aprovação à figura do governador de plantão, nem ele nem o senador Jaques Wagner, que o antecedeu, podem se atribuir a vitória do correligionário.
Não tivessem apostado na figura de Lula – que chegou a ser dado, de forma apressada, como morto politicamente por Rui Costa quando estava preso em Curitiba, e não deve ter apagado da memória aquela sua declaração memorável -, para empurrar Jerônimo morro acima na direção do Palácio de Ondina, repetindo um estratagema utilizado em todas as campanhas petistas desde 2006, quando Wagner levou pela primeira vez o governo, seguramente o grupo não teria ganho de ACM Neto (União Brasil). Os números estão ai para mostrar o quanto o adversário conseguiu crescer na disputa final do segundo turno contra o grupo governista.
Foram 4.007.023 votos (ou 47,21% dos válidos) de ACM Neto contra 4.480.464 sufrágios (52,79% dos votos válidos) para o petista, apesar de, diferentemente do concorrente, o adversário do União Brasil não ter contado com uma máquina poderosa como o governo estadual por trás nem, principalmente, ter tido um candidato à Presidência em quem se apoiar. Minimizado de público, o choque esteve no cerne das primeiras declarações do governador eleito, prometendo mudanças em secretarias cujo baixo desempenho a campanha de Neto enfatizou, como as da Segurança Pública, da Saúde e da Educação, pasta da qual Jerônimo foi, aliás, o titular.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*
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