Corregedor do CNJ bloqueia juíza bolsonarista nas redes sociais

O corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, determinou a suspensão dos perfis da juíza do TRF-1 Maria do Carmo Cardoso nas redes sociais Instagram e Twitter.

Considerada conselheira jurídica da família Bolsonaro, a magistrada conhecida como “Tia Carminha” fez elogios às mobilizações golpistas que cercam instalações militares.

“Copa a gente vê depois, 99% dos jogadores do Brasil vive na Europa, o técnico é petista e a Globolixo é de esquerda, nossa Seleção verdadeira está na frente dos quarteis”, ela escreveu em texto com imagem da bandeira do Brasil.

A mensagem foi reproduzida na imprensa. A Constituição veda aos juízes “dedicar-se à atividade político-partidária”.

Salomão abriu Reclamação Disciplinar no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para apurar práticas que violam normas disciplinares da magistratura. O corregedor ordenou a retenção imediata de duas contas atribuídas à desembargadora.

“Há urgência no bloqueio de conteúdo, inclusive para prevenir novos ilícitos administrativos ou eleitorais por parte da magistrada. A diplomação dos eleitos aos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República ocorreu nesta data (12), sendo necessária a manutenção da harmonia institucional e social até a data da posse. A conduta da desembargadora federal segue em sentido oposto, o que é expressamente vedado em se tratando de magistrados em atividade”, afirmou na decisão.

O corregedor nacional ordenou à presidência do TRF-1 a intimação pessoal da magistrada, que terá 15 dias para prestar informações.

Maria do Carmo Cardoso foi madrinha da indicação do juiz Kassio Nunes para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal. A indicação de Nunes também teve apoio do ministro Gilmar Mendes.

Em 2014, o então corregedor-geral da Justiça Federal, ministro Humberto Martins, incluiu Kassio Nunes e Maria do Carmo Cardoso entre os auxiliares em correições e inspeções nos TRFs.

“Tia Carminha” é citada como amiga do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e faz parte de um grupo de magistrados que circula em torno do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e do também alagoano Humberto Martins, considerado um afilhado de Calheiros.

A figura central desse grupo é o advogado Cesar Asfor Rocha, ex-presidente do STJ, que deixou o cargo em 2012 mas ainda é influente no Judiciário.

Ela disputou, sem sucesso, as vagas dos ministros Arnaldo Esteves Lima e Eliana Calmon no STJ.

Como parte do lobby mineiro pela aprovação do TRF-6 em Belo Horizonte, Maria do Carmo Cardoso estava entre os homenageados pela Justiça Federal de Minas Gerais com a distribuição de medalhas e comendas “a personalidades que auxiliaram a Justiça Federal em Minas”.

Em junho de 2019, “Tia Carminha” assinou moção de apoio ao então ministro da Justiça Sergio Moro, que deixou o governo, foi hostilizado pelos bolsonaristas e depois atuou como consultor do Presidente em debate eleitoral.

Frederico Vasconcelos, Folhapress

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